Daniela (nome fictício) se informou com colegas de que conseguiria reaver o dinheiro caso estivesse com investimentos nos CDBs, e então notou que tinha outros CDBs de bancos menores na carteira sobre os quais não tinha muita informação.
O caso das investidoras não são isolados. Quase 2 milhões de pessoas tinham recursos aplicados nos CDBs do Master. São quase R$ 50 bilhões distribuídos. A garantia do FGC vai cobrir os prejudicados, mas o susto foi grande. E agora, o que sobra dessa história em aprendizado para quem investe?
A primeira grande lição é que, para todo retorno alto, também tem risco envolvido. Não tem mágica. E é isso que o investidor precisa entender quando decide colocar seu dinheiro em um produto de crédito – seja ele um CDB, uma debênture, e até mesmo um título público.
Correr risco faz parte do jogo do mercado. O problema é que muitos investidores entram nele sem conhecer bem as regras, ou mesmo se estão dispostos realmente jogar.
Um jeito de pensar o mercado de renda fixa é que o investidor está, na prática, emprestando dinheiro para alguém: ao governo, a uma empresa ou a um banco. O que muda é o nível de risco de crédito, ou seja, o risco do emissor da dívida não honrar os pagamentos.
Só tem uma forma de se preparar para esse risco: saber como avaliá-lo e entender o quanto se está preparado para enfrentá-lo.
Como avaliar o risco?
O risco do governo é o menor de todos porque a probabilidade dele não honrar os pagamentos é a menor possível na economia. Afinal, ele é o dono da máquina de imprimir dinheiro. E justamente por isso eles são instrumentos mais seguros e a remuneração deles é a mais simples. Guardadas as devidas particularidades – como o fato de que um título pode pagar mais ou menos se o investidor vender antes do prazo combinado na compra –, esses papéis oscilam muito pouco.
O Tesouro Selic é um ótimo exemplo. É o título do governo que paga simplesmente a variação da taxa básica de juros do país.
O próximo degrau de risco são os grandes bancos. Qualquer instituição financeira pode sofrer com níveis de inadimplência que interferem no pagamento dos credores que compraram seus títulos. Mas as grandes instituições têm operações consolidadas e muito dinheiro disponível. Ou seja, a necessidade dessas instituições captarem recursos por meio de instrumentos de crédito é menor.
Isso significa que esses bancos, em geral, não precisam pagar uma remuneração tão alta: uma LCI, LCA ou um CDB de um grande banco costumam pagar taxas mais próximas ap 100% do CDI – lembrando que CDI e Selic andam quase lado a lado.
Chegamos então às fintechs e bancos de médio e pequeno porte. A necessidade de captação dessas instituições é maior. Além disso, algumas delas são menos conhecidas do público. Assim, é natural que, na competição pelos investidores, esse grupo acabe oferecendo CDBs, LCIs ou LCAs a taxas mais altas.
O ponto é que, nesse universo, surgem outliers. E esse foi o caso do Master, que chamou a atenção por pagar taxas de até 140% do CDI, muito acima das praticadas pelo mercado: .
E é aí que o investidor precisa desconfiar. Existem investidores que estão dispostos a correr mais risco. O problema é que muita gente aplicou nos CDBs no Master achando que estava entrando em um negócio seguro. E ficou atordoado quando viu que o banco foi liquidado.
Claro que a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) – que entra para honrar os pagamentos quando o banco não consegue fazê-lo – foi um grande incentivo para quem comprou esses papéis. Só que ser garantido pelo FGC não quer dizer que o investimento seja bom. E investir em um produto é uma decisão a ser feita de acordo com o perfil de risco, não apenas porque existe uma salvaguarda.
Por fim, vale citar também o risco de crédito das empresas, que emitem debêntures para se financiar. E, nesse caso, não existe FGC para proteger. A avaliação é mais complexa, mas também passa por entender que grandes companhias, líderes em seus setores e com baixa necessidade de levantar recursos oferecem um retorno proporcionalmente menor. Quem precisa de mais dinheiro é que oferece uma remuneração maior para convencer o investidor.