Apesar de 2025 ser basicamente o ano da renda fixa, com a Selic em 15%, quem investe em ações também têm motivos para comemorar. Além da alta do Ibovespa no ano (13%) superar o CDI acumulado até agosto (8,3%), a distribuição de dividendos vive um bom momento.

Na primeira metade do ano, o volume de proventos distribuídos cresceu significativamente comparado a 2024. Mais: várias empresas que não pagavam proventos há séculos voltaram a distribuir um pedaço do lucro aos acionistas.

O primeiro semestre de 2025 registrou uma distribuição total de proventos, que inclui dividendos e juros sobre capital próprio (JCP), de R$ 176 bilhões, cerca de 6,8% acima do mesmo período de 2024. Trata-se do maior montante desde, pelo menos, 2020, segundo um levantamento do portal Meu Dividendo.

Grande parte do crescimento reflete tanto a volta de empresas que tinham paralisado a remuneração aos acionistas quanto a adoção de políticas de divisão de lucros mais generosas. Um caso emblemático é o da Eletrobras, que anunciou em agosto a maior distribuição de dividendos de sua história, em um total de R$ 4,1 bilhões no ano, cifra que inclui os proventos já pagos em janeiro e maio. Trata-se de um montante 55,7% maior do que o distribuído em 2024.

O dividend yield, ou seja, o percentual de retorno com os dividendos em relação ao preço da ação (ELET6), está em 5% para quem comprou o papel no início de 2025. Parece pouco. Mas some isso aos 26% o papel subiu desde então, e temos aí um retorno acumulado de 31%.

Mantendo os pagamentos no nível atual, a expectativa é que o dividend yield (DY) para os próxmos 12 meses fique em 7,8% (sobre o preço atual da ação, de acordo com a plataforma Yahoo Finance). É o que os economistas chamam de forward dividend yield.

Os analistas do Santander calculam que a nova política de dividendos anunciada pela companhia significa a distribuição de R$ 38 bilhões até 2030. O BTG Pactual estima um potencial ainda maior de pagamentos entre R$ 74 bilhões e R$ 85 bilhões nos próximos cinco anos e meio, dependendo do preço da energia.

A volta aos pagamentos

E o fenômeno vai bem além da Eletrobras. Várias companhias que tinham deixado de pagar ou ainda reduzido o volume de proventos voltaram ao jogo. É o caso de JBS, que pagou R$ 8,87 bilhões entre janeiro e junho deste ano, ante R$ 4,4 bilhões em 2024. Outra gigante da bolsa, a Ambev, já desembolsou R$ 10,6 bilhões no mesmo período. No ano passado inteiro, a cervejaria destinou R$ 3,85 bilhões dos resultados aos acionistas.

Caso os pagamentos sigam nessa monta no segundo semestre, a JBS terá um DY de 4,85% nos próximos 12 meses; a Ambev, de 7,01%.

A Embraer que não distribuia o lucro desde 2018 retomou neste ano a remuneração. A fabricante de aviões pagou R$ 51,4 milhões em maio e sinaliza que vai manter a política nos próximos períodos. Nesse caso, o DY projetado é baixo, 0,09% – mas ao menos voltou a existir.

Já no setor de educação, as empresas passaram por longos processos de reorganização, após um período de desafios como o fim do Fies, endividamento elevado e os impactos da pandemia. Agora em 2025, já com as finanças em dia e a volta ao crescimento, as companhias viraram o jogo dos dividendos.

O grupo Cogna, por exemplo, voltou a distribuir lucro após um hiato de cinco anos e efetuou em maio uma distribuição de R$ 120,8 milhões. O DY projetado em 12 meses para a companhia alcança 9,30%.

A Ser Educacional também destinou R$ 19,6 milhões aos acionistas no mesmo mês, com o primeiro pagamento de proventos desde 2021. Mas o DY projetado de 1,73% é bem mais modesto do que a das rivais. A YDUQS retomou neste ano o nível de dividendos de 2019, com uma parcela de R$ 150 milhões do resultado, com um dividend yield previsto para 12 meses de 4,38%.

Um estreante no universo dos dividendos foi o PagBank. Pela primeira vez desde sua abertura de capital em 2018, a fintech anunciou uma distribuição de parte dos lucros em 2025. O conselho aprovou e a companhia pagaou R$ 250 milhões aos acionistas em 6 de junho. O banco digital informou ainda a intenção de destinar 10% do lucro líquido anualmente. De qualquer modo, a primeira distribuição representou um payout de 28% e a política divulgada limitou a distribuição a 10% do lucro, o DY previsto em 12 meses está apenas em 1,60%, segundo o Yahoo Finance.

Entre as três empresas do mercado brasileiro com maior número de acionistas, a Vale foi a única que aumentou o volume de proventos neste ano. A mineradora distribuiu R$ 18 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) em 2025 e tem programado um pagamento de mais R$ 8,6 bilhões em JCP para setembro.

No total, a mineradora deve desembolsar R$ 36,7 bilhões em proventos, montante R$ 16 bilhões acima do distribuído em 2024. Com isso, o DY estimado em 12 meses alcança atrativos 11,87%.

Mas teve gente que decepcionou

Apesar dos resultados substancialmente melhores neste ano, houve algumas notas dissonantes surgidas na última temporada de balanços. A mais grave veio da Petrobras. A companhia anunciou durante a apresentação de resultados do segundo trimestre o pagamento de dividendos e JCP intercalares no total de R$ 8,66 bilhões que serão pagos entre 21 e 22 de novembro.

A cifra parece robusta, porém o montante veio abaixo do consenso do mercado que esperava valores acima de R$ 10 bilhões. Mas o que incomodou mesmo os investidores foi a decisão de não pagar neste ano dividendos extraordinários, ou seja, distribuições extras, fora do calendário oficial.

O preço internacional do barril do petróleo caiu 10% no segundo trimestre e essa queda tem afetado os resultados da petroleira, o que inclui a distribuição de proventos. “A gente vislumbra uma baixa probabilidade [de dividendos extraordinários] neste ano”, disse Fernando Melgarejo, CFO da petroleira, durante a teleconferência de resultados. A estimativa feita pelo portal Meu Dividendo é que a companhia pague R$ 20 bilhões a menos em proventos. Apesar da queda, o DY projetado em 12 meses alcança consideráveis 12,21% para a ação preferencial (PN) e 11,30% no caso da ordinária (ON).

Outra referência de dividendos polpudos, o Banco do Brasil, divulgou uma meta (guidance) de lucro líquido ajustado entre 37 bilhões e 41 bilhões em 2025. Mas após o resultado do segundo trimestre com uma queda de 60% no lucro trimestral comparado ao mesmo período de 2024, a instituição ajustou o guidance de lucro líquido ajustado para a faixa entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões. Além disso, reduziu para 30% o chamado “payout”, o percentual do lucro que será distribuído aos acionistas. Antes da revisão, a política de proventos previa um pagamento de 40% a 45% do resultado líquido.

Muitas casas de análise, como o Goldman Sachs, O JP Morgan e o Itaú BBA já previam quedas entre R$ 5 bilhões e R$ 8 bilhões no pagamento de dividendos e JCP neste ano. Se o BB atingir o ponto médio da faixa de lucro previsto e com o novo payout, a perspectiva é de uma distribuição de pouco menos de R$ 7 bilhões em proventos no ano fiscal.

O banco distribuiu cerca de R$ 2,76 bilhões relativos ao primeiro trimestre. Isso significa que teria de pagar entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4,7 bilhões até março de 2026 para se manter dentro do guidance. O DY estimado em 12 meses recuou para 1,82%.

Previsões para o resto do ano

Entre as três companhias da bolsa com maior quantidade de investidores pessoas físicas, a Petrobras deve entregar um DY de 10% a 12% em 2025, de acordo com as estimativas de analistas do BTG. No caso da Vale, o mercado espera um dividend yield entre 8% e 10% neste ano.

Diversas companhias programaram distribuir parcelas de dividendos e JCP em agosto. É possível aos investidores aproveitarem alguns desses pagamentos se tiverem ações da empresa até a data limite para manter o direito à distribuição (veja na tabela). No dia seguinte, a ação se torna “ex-dividendo”, ou seja, quem comprar a partir daí não tem mais direito ao provento que foi anunciado. Vai ter de esperar pelo próximo.