Novas ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China e mais preocupações dos investidores com o quadro fiscal brasileiro. Esses foram os motivos para os mercados encerrarem a semana sob forte pressão, com o dólar batendo o nível mais alto em mais de um mês e o Ibovespa estacionando na faixa dos 140 mil pontos.

A moeda americana terminou a sessão com alta de 2,3%, em R$ 5,49, após bater os R$ 5,51. Na semana, subiu 3%. O DXY, índice que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de divisas fortes – euro, iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço –, cai 0,51% no dia.

A tendência do dólar no acumulado do ano ainda é de queda. Em 2025 até hoje, a baixa já está em 11%. O grande ponto de atenção, na visão de profissionais do mercado, é que a moeda americana ainda é uma boa alternativa de refúgio em momentos de aversão ao risco no curto prazo. É também a razão para a disparada de metais preciosos, com o ouro, que ultrapassou a marca histórica de US$ 4 mil a onça-troy.

E a busca por ativos mais seguros não ficou restrita apenas ao mercado de câmbio. As bolsas americanas também refletiram a debandada dos investidores e os três principais índices de Wall Street ficaram no vermelho: o Dow Jones caiu 1,73%, o S&P 500 cedeu 2,56% e o Nasdaq teve baixa de 3,24%.

Na mesma toada, o Ibovespa encerrou o dia em queda de 0,63%, aos 140.812 pontos, depois de ultrapassar os 144 mil pontos na semana. Em cinco dias, a baixa do índice foi de 3%.

Até ontem, a queda do dólar na semana estava na casa dos 0,5%. A aversão ao risco cresceu hoje, após Trump voltar a ameaçar a China com aumento de tarifas comerciais. A investida veio como resposta à decisão do gigante asiático de impor novas restrições às exportações de terras raras, como a exigência de licenças de exportação e mais controles sobre equipamentos usados no processamento dos materiais.

O presidente americano não apenas acusou a China de deixar o mundo “refém” da sua política, como reacendeu o medo de uma nova escalada dos conflitos comerciais em retaliação. E tudo isso às vésperas de uma reunião entre o governo americano e o chinês na Coreia do Sul – encontro que Trump diz “não ter mais motivo”.

Riscos fiscais de volta ao jogo

Não bastasse o exterior, o momento é de bastante nervosismo entre profissionais de mercado em relação às contas públicas do Brasil, sobretudo depois que o governo perdeu a batalha no aumento de impostos a partir da Medida Provisória 1303.

A MP, que aumentava os tributos de diversas aplicações financeiras, era a cartada que o governo Lula tinha na mão para compensar a tentativa frustrada de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A Câmara dos Deputados sequer votou o texto, que perdeu validade.

A partir daqui, sobram dúvidas de qual caminho o governo vai seguir para cumprir a meta fiscal, que é de superávit de 0,25% do PIB, ou R$ . O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia dito que não haverá mudança na meta mesmo que o Congresso derrubasse a MP.

Para 2026, a meta é um superávit de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto), equivalente a R$ 34,3 bilhões. No entanto, pelas regras do arcabouço fiscal, o governo pode registrar um resultado neutro, ou seja, um déficit zero.