Na hora de aplicar recursos no exterior, os brasileiros enviaram menos da metade dos valores deixados com férias ou viagens de negócios. Para ser mais específico, foram US$ 9 bilhões direcionados a aplicações financeiras internacionais no ano passado, conforme dados do Banco Central.
Qualquer um poderia argumentar que aplicar na renda fixa aqui no Brasil é muito mais favorável do que pensar em enviar dinheiro para aplicações lá fora. Afinal, com o CDI rendendo 15% ao ano, o investidor tem ao alcance o tão famoso 1% de rendimento ao mês. A isso se soma o atual momento do mercado americano, assolado pelas incertezas trazidas pela gestão do presidente Donald Trump.
Então, se o juro está tão elevado no Brasil e os investidores internacionais têm ficado mais cautelosos com os EUA, é mesmo hora de investir no exterior? Não seria melhor trazer o dinheiro de volta pra aproveitar a força da renda fixa local?
Resposta: o investidor não deve ceder à tentação de repatriar valores.
Tudo começa com a variação cambial. O dólar se desvalorizou 14,6% frente ao real no primeiro semestre deste ano. Como dificilmente qualquer produto lá fora tenha rendido esse percentual em seis meses, o investidor terá que engolir o prejuízo nesse movimento.
Quem fez aplicações no exterior com dólar a R$ 6,17 lá pelo fim do ano passado e decidisse repatriar o dinheiro agora, teria uma cotação próxima de R$ 5,40. Isso quer dizer que R$ 10 mil aplicados lá atrás viraram R$ 8.750 hoje. Péssimo negócio. Mas isso só se concretiza se você de fato trouxer a grana de volta.
No fim das contas, se você realmente quer aproveitar os juros locais, o caminho é outro: aplicar dinheiro novo, e não trazer o que está lá fora.
Aumento do poder de compra
Com a queda do dólar frente ao real, o momento, na verdade, é favorável a elevar a diversificação no mercado internacional. Isso porque o poder de compra da moeda brasileira aumentou. E vale aproveitar a janela porque esse período de real forte pode durar menos do que se imagina.
A fraqueza da divisa dos EUA é uma história cíclica. Esse é o ponto. Johanna Chua, economista-chefe de mercados emergentes e de Ásia do Citigroup, explica que o dólar vem se desvalorizando frente várias moedas globais por alguns motivos: a expectativa de desaceleração do crescimento dos EUA, as incertezas trazidas pelas tarifas comerciais impostas por Trump e o fato de o mercado precificar mais cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Mas, no decorrer do ano, o dólar pode voltar a ganhar força, conforme essas incertezas comecem a se diluir. E, mais importante: quando o BC americano começar a cortar o juros, provavelmente a partir de setembro, o fluxo de investimentos para ativos de mercados mais arriscados vai se intensificar. Quem for esperto e tiver um pedaço da carteira em ativos “dolarizados” entra na lista dos potenciais premiados.
Dinheiro diferente para cada caixinha
Mas não só de oportunidades de curto e médio prazo que se faz um mercado. A “caixinha”de recursos aplicados no Brasil e no exterior precisam ser independentes – e perenes, de preferência. Em outras palavras: a estratégia de investir no exterior tem de seguir uma visão estrutural, de longo prazo, e não apenas tentando acertar hora de entrar no jogo.
É a velha história: ainda que o mercado americano esteja em um momento de maior pressão, ele é o maior, o mais diversificado e o mais líquido do mundo. Para um grande investidor internacional, as turbulências podem até ser motivo para um movimento de curtíssimo prazo – estratégia “tática”, como se diz no mercado. Para um investidor brasileiro pequeno a história é outra.
Ter uma parte do patrimônio em dólar é o caminho simples de proteger a carteira em momentos turbulentos aqui no país. Para quem se esqueceu, foi justamente o que aconteceu no ano passado, quando as preocupações fiscais por aqui empurraram o dólar para o nível acima dos R$ 6. E alta acumulada foi de 27%.
A fatia do portfólio “dolarizada” vai variar conforme o perfil do investidores. Em geral, uma pessoa conservadora pode aplicar até 5% do patrimônio no exterior – via fundos cambiais, ETFs e BDRs negociados no Brasil ou contas internacionais. Já um investidor de perfil agressivo pode destinar de 20% e até 40% do patrimônio a ativos globais.