As ações da Embraer acumulam uma alta de quase 500% desde 2023, sendo 40% apenas em 2025. E, mesmo assim, analistas veem espaço para ganhos adicionais. É que a alta, na visão de quem avalia o desempenho da empresa, não tem a ver com uma euforia momentânea, mas consequência de uma reconstrução profunda que fez a Embraer voltar a crescer com força em cinco frentes: jatos comerciais, executivos e militares, além das divisões de serviços e mobilidade aérea elétrica, com a Eve Air Mobility.

BTG Pactual, JPMorgan e Safra mantêm recomendação de compra, com preços-alvo entre US$ 70 e US$ 79, o que ainda indica potencial de alta de até 35%. A XP tem visão mais neutra, mas reconhece que a empresa está mais saudável e eficiente do que nunca.

Depois de anos de turbulência, a Embraer reencontrou o rumo. Hoje é uma das poucas empresas brasileiras capazes de competir globalmente em tecnologia, inovação e escala. E transformou um dos momentos mais difíceis da sua história em combustível para voar mais alto do que nunca.

Por muito tempo, parecia improvável que uma empresa brasileira voltasse a disputar espaço com Boeing e Airbus. Mas a Embraer contrariou todas as expectativas. Depois de anos turbulentos, marcados pela pandemia e pela fusão frustrada com a Boeing, a companhia passou por uma reviravolta impressionante e voltou a ser protagonista global.

A empresa cortou custos, modernizou processos, reorganizou unidades e, acima de tudo, voltou a fazer o que sempre fez de melhor: entregar tecnologia e eficiência. O resultado é uma companhia mais rentável, diversificada e competitiva, capaz de disputar mercado com as gigantes da aviação mundial.

O reflexo dessa virada aparece nos números. O backlog, que é a carteira de pedidos firmes ainda não entregues, chegou a US$ 37 bilhões, o maior desde 2015. Segundo o JPMorgan, esse volume representa mais de cinco anos de produção garantida e mostra a força da retomada da aviação regional, segmento em que a Embraer é líder.

Grande parte desse avanço vem da nova geração de jatos E2, mais econômicos e potentes. O E195-E2, por exemplo, consome 20% menos combustível e tem custo por voo até 25% menor que o Airbus A220. Essa eficiência reacendeu o interesse de companhias aéreas no mundo todo. Latam, Virgin Australia, SAS e ANA estão entre as que ampliaram pedidos ao longo de 2025.

A América Latina também se tornou um dos motores desse crescimento. Hoje, 16% da carteira total vem da região, impulsionada pela expansão das companhias low cost e pelo aumento do tráfego aéreo. Os aviões da Embraer se encaixam perfeitamente nesse cenário, oferecendo eficiência e custo competitivo em mercados com aeroportos menores e infraestrutura limitada.

Durante o Investor Day em Nova York, a empresa apresentou um plano ambicioso. A meta é superar US$ 10 bilhões em receita e alcançar margem operacional de dois dígitos até 2030. A XP Investimentos destacou o novo modelo de produção equilibrada, que distribui entregas ao longo do ano e aumenta a produtividade. Se cumprir o cronograma, a Embraer pode chegar a 100 jatos comerciais, 180 executivos e 10 militares produzidos por ano.

A divisão de Serviços e Suporte também ganhou protagonismo. Segundo o Safra, o segmento deve dobrar de tamanho até 2030, alcançando cerca de US$ 3 bilhões em faturamento. O contrato com a Pratt & Whitney, operado pela subsidiária OGMA, em Portugal, é um dos destaques e pode gerar US$ 500 milhões até 2028. É um negócio previsível e rentável, que garante receita estável mesmo em ciclos mais fracos de vendas.

Na área de Defesa, o cargueiro KC-390 Millennium consolidou a Embraer entre os grandes fabricantes do mundo. O Brasil já exporta o modelo para países da OTAN, e há 47 pedidos firmes em carteira. O JPMorgan classifica o programa como um dos principais diferenciais da empresa, que ainda negocia contratos com Índia e Estados Unidos, com possibilidade de produção local.

Na aviação executiva, os jatos Phenom e Praetor representam 31% do mercado global em suas categorias e sustentam uma carteira de US$ 7,4 bilhões. A Embraer também avalia entrar no segmento de jatos grandes, com margens mais altas e menor concorrência.

Mas é a Eve Air Mobility que desperta as maiores expectativas. A subsidiária desenvolve aeronaves elétricas de decolagem vertical para transporte urbano, um dos setores mais promissores do futuro. O primeiro voo de teste está previsto para o fim de 2025, e as entregas devem começar em 2027. Produzido em Gavião Peixoto (SP), o projeto já soma 2.800 pré-encomendas, avaliadas em cerca de US$ 14 bilhões, segundo o Safra.