O Investnews analisou 1.158 fundos de ações ativos e abertos para captação para identificar quais as ações mais recorrentes nas carteiras. Não estamos falando aqui do tamanho dos aportes, apenas dos papéis que mais aparecem. E quase quatro em cada dez fundos carregam Equatorial, enquanto três em cada dez investem em PRIO.
Só neste ano, a elétrica acumula valorização de 34,5%. Já a petroleira tem um desempenho bem mais modesto, embora positivo, de 6,05%.
Lucratividade costuma ser o ponto de partida para entender se a aposta em uma empresa faz sentido ou não. Mas é preciso mais do que isso. Fora do grupo das gigantes da bolsa, Equatorial e PRIO são destaques nas carteiras dos gestores porque têm qualidade operacional, além de se posicionarem muito bem no xadrez com a concorrência.
O InvestNews ouviu os gestores que têm os papéis e a conclusão é unânime: na sala de aula, as duas companhias querem ser o melhor aluno de seus setores. Para começar, são fortes geradoras de caixa – um dos pontos de partida para quem quer encontrar boas ações para investir.
Quando uma empresa é uma boa geradora de caixa e combina isso com controle do endividamento, ela tem algumas opções pela frente. Entre as gigantes do mercado, o caminho comum é distribuir dividendos aos acionistas. A Equatorial vem pagando proventos; a PRIO, não. Mas isso não importa. Afinal, a geração de caixa pode ser usada para reinvestir os recursos nas próprias operações ou comprar ativos – e é exatamente o movimento que as duas companhias vêm fazendo.
Essa geração de caixa combinada à capacidade de gerenciá-lo bem, comprar ativos com bom potencial e vender aqueles que não são essenciais é o que os gestores e analistas chamam de disciplina na alocação de capital. Empresas que tenham bom histórico nisso tendem a apresentar mais do que números bons balanço após balanço. Elas podem anunciar movimentos estratégicos que aumentam sua dimensão, o que se refletem diretamente nos preços das ações. Dando tudo certo, saem vitoriosos aqueles que já estiverem de posse delas.
Equatorial: o aluno disciplinado
O caso da Equatorial é exemplar. A entrada na Sabesp como acionista de referência, em julho de 2024, foi um ponto alto para a estratégia da empresa, mas as aquisições no setor já vêm ocorrendo desde antes. A compra da Cemar, hoje Equatorial Maranhão, em 2004, marcou a primeira de uma lista de concessões em crise financeira que passaram por processos de turnaround – um jargão usado para se referir a reestruturações de companhias para que se tornem rentáveis. Em 2012, foi a vez da Celpa, atual Equatorial Pará, também em um contexto de recuperação judicial.
Compradas pelo valor simbólico de R$ 1, hoje ambas têm bases regulatórias de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões cada uma. A base regulatória é uma referência contábil. Trata-se do valor reconhecido pela Aneel dos ativos físicos que a distribuidora de energia usa para prestar o serviço — postes, cabos, subestações etc. Ela serve de referência para calcular a Remuneração Regulatória, que entra na tarifa paga pelos consumidores. Em outras palavras, quanto maior a base regulatória, mais a empresa consegue receber de retorno via tarifa.
Antes das aquisições, as bases de ambas ficavam próximas de R$ 2 bilhões. A multiplicação mostra o tamanho da transformação que a Equatorial foi capaz de promover. Depois da Cemar e da Celpa, vieram as concessões no Piauí, Alagoas, Rio Grande do Sul, Amapá e a maior delas, de São Paulo – a Sabesp.
Gustavo Miranda, sócio e analista de ações da gestora Perfin, lembra que a compra de 15% das ações da Sabesp por R$ 7 bilhões em julho do ano passado aconteceu a um preço de R$ 67 por ação. Hoje, o papel está a R$ 115. É uma valorização de 71%. Essa é a percepção de criação de valor com a entrada da Equatorial na Sabesp, marcada por revisões de contratos, ajustes de cargos e salários e mudanças em governança corporativa, com troca de conselho. A Equatorial é basicamente uma máquina de M&As.
A elétrica tem recomendação de compra por grandes bancos, como Santander e BTG Pactual, mesmo depois da forte valorização deste ano justamente por esse perfil “consolidador”. Até aqui, a empresa é uma especialista em tomar decisões que priorizam manter o balanço “limpo” para mais oportunidades. Não à toa, a companhia vendeu neste ano toda a sua operação de transmissão para reduzir o nível de endividamento (de 3,3 vezes o Ebitda para 2,9 vezes), ao mesmo tempo em que a expectativa, endossada pela própria empresa, é de renovação de concessões das distribuidoras em 2028 e 2030.
PRIO: surfando em mar revolto
A PRIO atua em um setor em que a situação não está nada fácil. Com o preços do petróleo em queda, algumas companhias vêm amargando um desempenho fraco na bolsa. É o caso da Petrobras, que acumula desvalorização de 11% no primeiro semestre. Não é por menos: o preço do barril acumula uma queda de 20% nos últimos 12 meses, e de 6,5% neste ano, resultado de mais oferta no mercado e da sinalização da Arábia Saudita, maior produtor da commodity, de aceitar preços mais baixos.
O petróleo em queda é o terror das petroleiras, verdade, mas o peso não é o mesmo para todo mundo. A análise setorial sempre precisa levar em conta as particularidades de uma companhia para fazer frente a uma piora de cenário – e a PRIO sai na frente quando o assunto é suportar um mercado estressado. Não por menos as ações resistem a um mercado volátil: sobem menos do que o Ibovespa no acumulado deste ano, mas têm um desempenho bem melhor do que a maior do setor.
Alguns gestores consultados pelo InvestNews assumem que reduziram exposição na PRIO justamente para tirar o peso do setor de commodities no portfólio. Quem ainda tem a ação “encarteirada”, porém, cria estratégias para se blindar do momento ruim para as matérias-primas sem perder de vista a qualidade operacional da companhia.
Segundo um profissional da mesa de ações de uma grande gestora multimercado (que pede para não ser identificado), a regra é: fazer uma conta de quanto é a geração de caixa da empresa por preço do petróleo nos próximos anos. Ele conta que está “short” – isto é, com posição “vendida”, que ganha com a queda – em petróleo por meio da ETFs (fundos negociados em bolsa), enquanto mantém o investimento na PRIO.
Nos cálculos desse profissional, o preço de breakeven do petróleo para a Petrobras é como o Brent ao redor de US$ 55, enquanto o da PRIO está em US$ 36. Breakeven é o preço que faz com que as receitas e os custos sejam iguais, ou seja, o cenário em que a empresa não ganha, mas também não perde dinheiro. Se o da PRIO é menor, significa que ela é mais resiliente ao sobe e desce do mercado.
Fazer esse “short” para aliviar o peso do petróleo em baixa na carteira é uma abordagem um tanto quanto complicada para um investidor pessoa física. Nesse caso, ao invés de ir por esse caminho, bastaria ter uma alocação mais modesta nos papéis da companhia. Afinal, a PRIO tem muito pela frente, com custo de extração de petróleo mais baixo, atuação focada (apenas produção) e um bom nível de caixa para outras aquisições no setor.
No começo de maio, a PRIO anunciou a compra dos 60% restantes dos campos de Peregrino, da Equinor. É mais um salto de produção esperado: dos atuais 100 mil barris de petróleo por dia – que já é um nível recorde –, a empresa deve ir para perto de 190 mil barris diários em 2026. É pouco diante dos 2,2 bilhões de uma Petrobras da vida, mas bastante coisa para uma “junior oil” que tem tudo para virar uma senior. Quem ficou de olho na movimentação da empresa no setor ganhou dinheiro: no dia que a PRIO anunciou a compra de Peregrino, as ações saltaram quase 8%.