A frágil situação da Virgo está perto de ter um desfecho. O fundador da securitizadora, Ivo Kos, está costurando a venda da empresa com a ajuda da assessoria CVPar, e a meta é que o martelo seja batido até sexta-feira (29). As informações foram divulgadas pelo site Pipeline e confirmadas pelo InvestNews.

O plano foi apresentado em reunião com gestoras que carregam Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) da Virgo. Segundo pessoas que acompanham o caso de perto, o objetivo de reunir o grupo é justamente evitar um movimento descoordenado, já que a tentativa de vender os papéis da securitizadora a qualquer preço pode tornar a situação ainda pior.

A securitizadora está em estágio avançado para anunciar um memorando de entendimentos ou saídas semelhantes, envolvendo a venda parcial ou total. Ainda de acordo com interlocutores, alguns dos maiores participantes do mercado, como Reag e Pátria, falaram diretamente com Kos, mas observam o negócio com cuidado, diante da enorme perda de credibilidade da Virgo.

CVM já entrou no jogo

A Virgo, segunda maior securitizadora do país, com R$ 90 bilhões sob gestão fiduciária, utilizou recursos dos fundos de reserva de CRIs estruturados por ela mesma para investir em um veículo chamado Allocation, um fundo do qual a Virgo é a única cotista e cujos recursos foram dados como garantia de compra de uma emissão que a Virgo também havia estruturado – um CRI ligado a um projeto imobiliário da Oncoclínicas em parceria com a Cedro Participações. O caso foi revelado pelo InvestNews.

O grande questionamento está no fato de que os fundos de reserva, por serem um “colchão de liquidez” para amparar possíveis problemas nas operações de CRIs, devem ser destinados para ativos e produtos de baixíssimo risco e altamente seguros. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já solicitou esclarecimentos a respeito do assunto e avalia a gravidade do caso.

O maior desafio neste momento é encontrar uma saída para a securitizadora, que teve sua imagem arranhada com o episódio. E esse caminho pode passar, inclusive, pela liquidação do fundo Allocation, diz uma fonte próxima à empresa. “É preciso uma fazer uma auditoria completa em todas as emissões, sentar com a CVM, recompor o fundo de reserva e liquidar o Allocation”, disse.

Na resposta enviada à CVM e divulgada em comunicado ao mercado hoje, a Virgo diz que a decisão dos aportes no Allocation se baseou na leitura de que esses investimentos “não impactariam a liquidez dos fundos de reserva.” Isso porque que o fundo é de renda fixa e tem condomínio aberto, ou seja, o resgate pode ser solicitado a qualquer momento.

A securitizadora também informa que o fundo está fechado para resgates por decisão do administrador, a BRL Trust, desde 21 de agosto, uma medida que afeta a liquidez dos recursos alocados, “mas não tende a comprometer o fluxo de pagamento dos credores dos títulos emitidos pela Virgo”. Isso porque, continua a Virgo, não há no momento a necessidade de usar os fundos de reserva, já que não há casos de inadimplência envolvendo os CRIs.

O documento também antecipa que a Virgo está buscando investidores interessados em comprar os CRIs que estão na carteira do Allocation, o que inclui o CRI envolvido na polêmica.

Procurada, a Virgo afirmou que não comentará o caso.