O Ibovespa quebrou mais um recorde de fechamento nesta segunda-feira (10) ao atingir os 155.257 pontos, um avanço de 0,77% no dia. Com esse desempenho, o índice já engatou 14 pregões seguidos de alta – a maior sequência positiva desde 1994.

Gestores e analistas já analisam a possibilidade de que a forte alta do mercado acionário ainda possa estar no meio do caminho. Isso porque a grande contribuição para o desempenho do Ibovespa neste ano vem dos investidores estrangeiros, que ainda podem movimentar mais recursos no mercado local.

Conforme os estrangeiros buscam por diversificação de ativos fora dos EUA, o capital de fora ora tem acelerado, ora tem pausado as entradas por aqui, ao sabor de um noticiário envolvendo tarifas comerciais, geopolítica, petróleo e, mais recentemente, o “shutdown” do governo americano. Nos primeiros dias de novembro, assim como no mês passado, esses investidores tiraram o pé do acelerador, mas permanecem com importante fluxo do ano, acima dos R$ 25 bilhões.

A grande questão é que as ações locais ainda são vistas como descontadas – ou baratas, em termos simples – frente à média histórica, ainda que o Ibovespa esteja sendo negociado nas máximas. Quando olhamos a relação entre o preço por lucro (P/L), muito usado para saber se um mercado ou empresa está caro ou barato, vemos que o Ibovespa está atualmente em 8,6 vezes. Trata-se de um nível abaixo da média histórica de 20 anos, de 10,5 vezes.

O P/L é uma medida de valor de mercado de uma companhia em relação ao seu lucro líquido anual. É o mesmo que somar o preço de todas as ações de uma empresa e dividir pelo lucro que ela teve nos últimos 12 meses. Ao fazer isso com todas as ações do Ibovespa, considerando o peso que cada uma tem dentro do índice, chega-se à conclusão de que o valor de mercado das integrantes do indicador corresponde a 8,6 vezes o lucro líquido delas.

O nível “barato” não é apenas em relação ao seu próprio histórico, mas também frente aos ativos americanos. O P/L do S&P 500, que junta as 500 maiores companhias dos EUA, está em cerca de 30 vezes. É quase o mesmo que se viu nos anos da bolha da internet, no fim do século passado. A discussão se é ou não uma bolha é um caso à parte. A realidade é que os preços já estão elevados.

O impulso para a alta desta segunda-feira especificamente da possibilidade de o Congresso dos EUA finalmente obter um acordo para encerrar o chamado “shutdown“, a paralisação parcial do governo americano. Isso espalhou otimismo pelos mercados mundo a fora. O encerramento desse período de fechamento de vários órgãos públicos, originada do impasse sobre a aprovação do orçamento, tira da frente uma grande incerteza.

No domingo (9), o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, chegou a afirmar que o shutdown colocava em risco o próprio crescimento econômico dos EUA no quarto trimestre. O caos aéreo em território americano também ameaçava se disseminar diante da falta de controladores aéreos e com o cancelamento de milhares de voos. Tudo isso quase às vésperas do Dia de Ação de Graças, um dos principais feriados dos Estados Unidos, e da Black Friday, uma das datas mais importantes para o comércio do país.