A decisão pode deflagrar um ciclo mais amplo e deixar outros bancos centrais mais “livres” para iniciar ou retomar a redução de juros — inclusive no Brasil. “Ainda que o timing possa diferir de país para país, a direção da viagem parece ser de um ajuste das taxas para baixo”, disse Nascimento durante o evento Fronteiras do Investimento, realizado pela Nu Asset em parceria com o InvestNews.
No caso brasileiro, a visão da BlackRock é que há mais chances de o Banco Central iniciar o corte da Selic antes do que o mercado tem projetado. “Os riscos agora parecem mais para o lado de o BC começar um corte de juros mais cedo do que se esperava.” Essa antecipação pode ganhar força se o Fed fizer dois cortes ainda em 2025.
Efeito Fed
Para os EUA, a expectativa da gestora é de que o Fed reduza os juros em 0,25 ponto percentual neste mês e repita o movimento em dezembro. Nascimento ressalta, porém, que a autoridade monetária americana tem espaço para acelerar o ritmo e optar por cortes de 0,5 ponto.
Ele também avalia que o impacto das tarifas comerciais dos EUA deve ser passageiro, embora não descarte “alguns efeitos persistentes”. No momento, as expectativas de inflação de longo prazo seguem ancoradas na meta de 2% do Fed.
“O Fed deve reforçar a sinalização sobre o ciclo de cortes de juros, começando a chamar a atenção para a tendência mais fraca nas contratações, que refletem riscos crescentes de queda para os mercados de trabalho”, disse.
Alívio na alavancagem
Um cenário de corte de juros tende a ajudar as empresas, embora muitas companhias brasileiras já tenham feito a lição de casa nos últimos anos, se preparando para um ambiente de crédito mais restritivo. Para Marta Veloso, diretora da Fitch Ratings, “do ponto de vista das empresas, o maior vilão ainda são os juros”.
Com a expectativa de início do ciclo de cortes se consolidando e os indicadores de alavancagem sob controle, “as empresas vão manter a qualidade de crédito”, acrescentou.
Segundo ela, a mediana projetada para a principal métrica de endividamento — a dívida líquida em relação ao Ebitda — de um grupo de 240 companhias avaliadas pela Fitch deve ficar em 2,5 vezes no fim de 2025. “São indicadores bastante gerenciáveis.”