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Em meio ao turbilhão de incertezas catapultadas pela tarifa de 50% imposta pelo presidente americano Donald Trump ao Brasil, os investidores, por enquanto, preferiram adotar uma postura de esperar para ver. A reação dos mercados foi mais amena do que o esperado.

O clássico combo bolsa em baixa, dólar em alta e subida dos juros futuros típico de fuga do risco aconteceu. Mas em um intensidade que sugere mais cautela do que pânico.

O Ibovespa fechou em queda de 0,46% aos 136.842,37 pontos, enquanto o dólar subiu 0,72% para R$ 5,5426 nesta quinta-feira.

A alta da tarifa foi divulgada na quarta-feira, poucos minutos depois de os mercados locais terem fechado. Os tremores que se seguiram nas operações de futuros de ações e dólar sugeriam que a quinta-feira veria ondas sísmicas se espalhando pela a bolsa e pelo câmbio. As incertezas, no entanto, acabaram ficando tão altas que qualquer movimento pode se mostrar equivocado a depender do desenrolar dos acontecimentos. O que é certo é o aumento da volatilidade nas próximas semanas.

Com a poeira mais baixa, várias casas avaliaram que a tarifa pode provocar algum impacto sobre a atividade econômica, mas não a ponto de encurralar a economia nacional.

O economista-chefe da ARX, Gabriel Barros, afirma que “embora aparentemente preocupante à primeira vista, teria um impacto macroeconômico marginal e administrável para o país”. A casa calcula um impacto negativo entre 0,2% e 0,3% sobre o PIB, caso prevaleça um cenário em que a tarifa de 50% seja efetivamente implementada.

Talvez o maior risco atualmente esteja em uma escalada da retórica mais ideológica. Se o Brasil se comportar como o adulto na sala e não ceder ao impulso de retaliar, mas adotar uma estratégia de abrir negociações e buscar mercados alternativos para os produtos nacionais, a volatilidade pode diminuir com uma perspectiva de danos menores à economia. O governo já sinalizou que vai esperar até agosto para tomar qualquer eventual inciativa retaliatória e intensificar o esforço para assinar os acordos comerciais com os blocos europeus.

Estrangeiros vão manter fluxo para o Brasil

O sócio e gestor de ações da Safári Capital, Marcelo Cavalheiro, vê a manutenção do fluxo de capital estrangeiro para bolsa brasileira nos próximos meses, mesmo com a tarifa.

Os mercados emergentes de maneira geral têm recebido recursos estrangeiros diante de um movimento global de investidores internacionais reduzindo em parte suas exposições ao mercado americano. Ou seja, a bolsa pode retomar o rumo de alta nos próximos meses, após uma acomodação das incertezas, ainda que Trump mantenha a taxação.

Para Cavalheiro, mesmo que o fluxo de recursos de fora para o país se reduza por algum tempo, “depois volta”. Isso porque o movimento de rebalanceamento global ainda vai se manter enquanto as incertezas perdurarem. “O dinheiro está fluindo para a classe de emergentes como um todo, incluindo o Brasil.”

Preocupação é com escalada de retaliações

A reação na quinta-feira mostra que o mercado colocou nos preços a possibilidade de uma escalada na guerra tarifária com uma resposta retaliatória Brasil. Nesse cenário, resultado seria um aumento de pressões inflacionárias e uma demora maior na queda de juros.

Na avaliação do economista-chefe da Apex Capital, Arilton Teixeira, o  caminho do confronto que o Brasil está pregando é muito perigoso. Conforme o especialista, a postura do governo brasileiro “deveria ser negociar e pronto”.

Barros, da ARX, compartilha a visão. “Uma retaliação tarifária do Brasil, na verdade, amplificaria os efeitos negativos sobre o investimento e a inflação.” O economista ressalta que uma resposta tarifária proporcional, apesar de parecer um desdobramento de justiça comercial, tende a ser contraproducente.

Analistas do Citi avaliam a situação como “fluida” com pouca clareza sobre a própria validade das taxas anunciadas. “Desde 2 de abril, tem havido idas e vindas sobre tarifas entre EUA e outros países e, até agora, permanece incerto se os 50% sobre exportações brasileiras serão mantidos.”

De acordo com Cavalheiro, da Safári, os setores sensíveis a juros e ao comportamento da atividade foram os que mais sofreram na quinta-feira. “O que vimos foi uma preocupação com os efeitos de uma escalada tarifária sobre PIB, juros e renda, o que pegou, por exemplo, empresas de varejo e incorporadoras na bolsa brasileira.”

Um relatório da XP mostra que a Embraer é a empresa com maior exposição potencial às tarifas. Aa ações da companhia amargaram nesta quinta-feira um recuo de 3,29%, mas chegou a cair mais de 8% ao longo da sessão. Já a Tupy foi na contramão registrou uma alta de 2,91%. Outras companhias vulneráveis, Suzano e Jalles, encerraram o pregão com quedas de 0,20% e 1,60%.

O estrategista-chefe e chefe de pesquisas da XP, Fernando Ferreira, também vê impactos macroeconômicos mais contidos com as tarifas. Em alguns setores, como o de óleo e gás, há possibilidade de redirecionamento para outros mercados, avaliou.