A alta de 17% do Ibovespa no acumulado deste ano foi provocada pelos investidores estrangeiros, que, naturalmente, foram os grandes beneficiados por essa aposta. E quem perdeu o bonde foram as pessoas físicas, que ganharam (desta vez, menos) dinheiro em outro lugar: na renda fixa, com a Selic nos seus 15% ao ano. Ao que parece, o capital estrangeiro tem tudo para continuar entrando no Brasil. E o risco é que o investidor de varejo perca o melhor da festa – como já aconteceu em muitos outros ciclos de alta da bolsa.

Em 2020, com os juros nos menores níveis históricos, os investidores de varejo aumentaram muito sua presença na bolsa de valores. Os anos dourados de juros em um dígito, porém, acabaram – e as pessoas físicas também diminuíram sua participação nesse mercado.

Do pico de 21% em 2020, esse grupo passou a representar 13% dos negócios na bolsa. Esse dado, divulgado pela B3, se refere à soma dos volumes de compras e vendas ao longo de um ano. No mesmo intervalo, os estrangeiros saíram de 47% para 58% de participação. E a Selic, para lembrar, veio de 2% para 15% ao ano.

Veja a seguir a evolução dos números, ano a ano:

Ano Estrangeiros Pessoas físicas Institucionais Instituições
financeiras
Outros*
2019 45% 18% 32% 5% 1%
2020 47% 21% 27% 4% 1%
2021 51% 19% 25% 4% 1%
2022 55% 15% 26% 4% 1%
2023 55% 14% 27% 4% 1%
2024 56% 13% 26% 4% 1%
2025** 58% 13% 25% 3% 1%
Fonte: B3. *Empresas públicas e privadas e outros. **Até agosto.

Nos dados acima, os números de pessoas físicas consideram também os clubes de investimento, enquanto os investidores institucionais são pessoas jurídicas que investem recursos de terceiros, como os fundos e as seguradoras.

Essa maior participação dos “gringos” nos negócios na B3 acompanhou o aumento do fluxo de entrada de recursos das mãos desses investidores. No auge, em 2022, foram R$ 119,8 bilhões injetados na bolsa, considerando o movimento no mercado secundário (ações já listadas) e novas ofertas (IPOs, em inglês).

De lá para cá, os estrangeiros reforçaram seu protagonismo nos negócios, mas botaram o pé no freio quando o assunto é volume financeiro. No ano passado, fizeram o maior saque da história, de R$ 24,2 bilhões.

Neste ano, eles estão dando uma colher de chá para o nosso mercado: já aportaram R$ 24,2 bilhões na B3. Esse movimento pode ser explicado pelo aumento da procura por mercados emergentes com o corte de juros no horizonte na economia americana. É que essa perspectiva de menor remuneração dos títulos americanos abre espaço para que “sobre” dinheiro para outros tipos de investimento, inclusive para bolsas de países emergentes, onde há oportunidades melhores de retorno.

A busca por alternativas no mundo também cresceu desde que o presidente americano Donald Trump começou a aplicar tarifas comerciais contra o mundo, já que o grande medo dos profissionais de mercado era do efeito que isso poderia ter para a própria economia dos EUA.

O debate agora é sobre o quanto a bolsa brasileira está de fato “barata” para continuar motivando a entrada dos recursos internacionais, sobretudo na comparação com o mercado americano, o mais líquido do mundo. Com ações consideradas “descontadas”, ou seja, negociadas a um valor abaixo do seu preço histórico, e uma expectativa de boa lucratividade das empresas, o jogo continua a favor do Brasil, assim como dos mercados emergentes – ao menos por enquanto.