A Petrobras chega ao fim de 2025 diante de uma decisão que pode marcar a próxima década do setor energético brasileiro. O novo plano estratégico, que será apresentado para o período de 2026 a 2030, não é apenas uma atualização de investimentos. É a definição de qual Petrobras o país terá em um mundo que já mudou: petróleo mais volátil, pressão por geração de caixa constante e uma corrida global por novas reservas que garantam autonomia no longo prazo.

No centro dessa estratégia está a Margem Equatorial. Uma faixa de bacias pouco exploradas no litoral norte do Brasil, do Amapá ao Rio Grande do Norte, que pode mudar a geografia do petróleo nacional. É ali, na Foz do Amazonas, que a companhia começa a perfuração do poço Morpho, o primeiro de uma campanha que deve incluir até 15 poços, com investimentos próximos a 3 bilhões de dólares.

E existe uma razão concreta para a empolgação. Estudos geológicos sugerem um potencial de 5,7 bilhões de barris de petróleo na região.

Só esse volume já representaria quase 60% das reservas atuais da Petrobras. Se as descobertas seguirem esse rumo, veremos algo capaz de rivalizar com o impacto do pré sal nos anos 2000.
A referência vem dos nossos vizinhos. Guiana e Suriname encontraram mais de 15 bilhões de barris na mesma faixa geológica e, no caso da Guiana, isso virou um divisor de águas para a economia local. Não à toa, analistas passaram a chamar a Margem Equatorial de novo pré sal em potencial para o Brasil.

O movimento acontece enquanto a Petrobras implementa um dos maiores planos de investimento da sua história recente. Entre 2025 e 2029, serão US$ 111 bilhões destinados a novos projetos. Desse total, uma fatia de US$ 13 bilhões passa por reavaliação diante do petróleo mais barato.

O foco agora é simples na teoria, difícil na prática: continuar crescendo, mas com mais rigor na seleção dos projetos. E é justamente nesse ponto que o debate interno se intensifica.

O governo pressiona a Petrobras a manter o ritmo de investimentos para estimular emprego, conteúdo local e desenvolvimento industrial. Lula já disse que a estatal ainda não entregou tudo o que precisa entregar ao país, uma mensagem clara sobre o que o Palácio do Planalto espera do próximo ciclo. Do outro lado, a diretoria tenta garantir disciplina de capital depois de anos em que essa blindagem fez diferença para a saúde financeira da companhia. A equação é complexa. Gastar demais pode comprometer o retorno.

O mercado olha para esse cabo de guerra com uma dose de cautela e outra de otimismo. O JP Morgan destaca o potencial de geração de valor no longo prazo com novas fronteiras e ganhos de eficiência em ativos maduros. O BTG Pactual acredita que o plano tende a tornar a Petrobras mais leve, com foco concentrado em áreas de maior retorno. A XP Investimentos continua atenta ao equilíbrio entre estratégia comercial e rentabilidade, um tema que nunca deixa de estar sob holofotes quando se trata da estatal.

O que será apresentado agora deve esclarecer como a companhia pretende equilibrar crescimento e rentabilidade. Quanto seguirá vindo do pré sal, que ainda é o motor de caixa mais poderoso da empresa. Qual será o ritmo de avanço na Margem Equatorial, uma aposta relevante, mas que exige paciência e capital de longo prazo. E como projetos ligados à transição energética entram nessa equação sem comprometer retorno para os acionistas.

A Petrobras já atravessou um dos ciclos de expansão mais significativos do setor de energia neste século. O novo plano dirá se ainda existe espaço para ampliar reservas com disciplina, ou se a prioridade será extrair o máximo valor possível do que já foi conquistado.