No segundo trimestre, a WEG reportou um lucro líquido de R$ 1,6 bilhão — crescimento de 10% sobre o ano anterior, mas 7% abaixo do consenso do mercado. A receita líquida subiu 10% na comparação anual, para R$ 10,2 bilhões, enquanto o EBITDA avançou 6,5%, com margem de 22,1%.
Embora os números ainda indiquem crescimento e rentabilidade saudáveis, o que pesou foi a mudança de ritmo — e, sobretudo, de percepção. O crescimento orgânico foi de apenas 1,2% em relação ao segundo trimestre do ano passado, quando excluídos efeitos cambiais e aquisições. “Vemos a desaceleração do crescimento como a principal preocupação neste resultado”, escreveu a XP. “Não há sinais claros de aceleração da receita a partir do terceiro trimestre.”
O Itaú BBA também esperava um trimestre fraco, mas os números vieram ainda piores que o previsto. “As receitas e o EBITDA ficaram cerca de 6% abaixo do consenso, puxados por uma performance doméstica mais fraca em Geração, Transmissão e Distribuição de Energia (que são transformadores e painéis de distribuição, por exemplo) e Equipamentos Eletroeletrônicos Industriais (como motores elétricos e equipamentos de automação industrial), especialmente com menos projetos solares”, escreveram os analistas. O banco ainda destacou que o resultado só não foi mais abaixo por conta da alíquota de imposto menor do que o normal (17%, contra 23% no mesmo período de 2024).
No Brasil, o desempenho foi limitado pela ausência de novos projetos de geração eólica — destaque do mesmo trimestre do ano passado — e pela demanda mais fraca em equipamentos de ciclo longo, como motores de alta tensão e automação. Já os produtos de ciclo curto, ligados à manutenção e reposição, tiveram demanda mais estável.
No exterior, a receita cresceu 17%, com forte atuação em automação e motores de baixa tensão, puxada por China, América do Norte e América Latina. Mas a demanda por grandes projetos continua pressionada. A própria empresa reconheceu no release que “a pouca previsibilidade de longo prazo, em virtude das incertezas geopolíticas, está levando ao adiamento da decisão de investimentos de projetos de grande porte”.
O risco das tarifas
Com o anúncio de tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros cuja a expectativa 1º de agosto, o cenário se torna ainda mais desafiador para a WEG. A companhia não mencionou diretamente a palavra “tarifas” em seu release de resultados, mas em entrevista ao Valor o CFO, André Rodrigues, indicou que a empresa estuda formas de mitigar os potenciais impactos, considerando a presença global de suas plantas industriais. “Entendemos que podemos realocar rotas de exportação utilizando a produção do Brasil para atender México e Índia, e usar a produção desses países para atender o mercado americano”, afirmou.
A empresa já vinha fortalecendo sua presença industrial global — hoje com 66 fábricas em 18 países — e vem acelerando o capex: só no segundo trimestre foram R$ 583 milhões, parte do plano recorde de R$ 2,6 bilhões para o ano. Mesmo assim, a realocação de produção não é trivial e deve levar tempo. Cerca de 22% das receitas da companhia vêm dos EUA, e, segundo a WEG, a capacidade de produção local americana só supre 40% da demanda por motores e menos de 30% dos transformadores.
As incertezas comerciais não passaram despercebidas pelos analistas. “As incertezas macroeconômicas — incluindo tarifas — estão postergando decisões de investimento e impactando a demanda por produtos industriais”, escreveu a XP. O BTG reforçou que o tema deve dominar as próximas conversas com o mercado, sobretudo em relação ao impacto potencial nas margens e no posicionamento competitivo da companhia.
Resiliência aos ventos contrários
A WEG ainda exibe números robustos: retorno sobre o capital investido (ROIC) de 32,9%, geração de caixa de R$ 2 bilhões e uma estrutura de capital leve. Mas os analistas já veem pressão sobre as estimativas futuras.
O Itaú BBA avalia que os números do trimestre “dão suporte a revisões para baixo no consenso de 2025 e 2026”. Ainda assim, pondera que, com a queda recente, o valuation pode atrair investidores de longo prazo.
Na reação de hoje, o recado do mercado ficou dado: a WEG continua bem, mas o ciclo de crescimento fácil ficou para trás — sobretudo com o ambiente mais complexo.