A Vibra Energia apresentou uma queda significativa no lucro do terceiro trimestre, mas não vai deixar de lado o compromisso com a remuneração dos seus acionistas. A companhia anunciou que vai manter a política de pagamento de 40% do lucro líquido em proventos e a distribuição de R$ 350 milhões em juros sobre capital próprio (JCP) no início de 2026.

A queda do lucro da empresa no trimestre encerrado em setembro foi de 90%. Como seria possível, então, ser otimista com a distribuição do lucro nessas condições? Em parte porque a queda não foi tão aguda: a base de comparação distorce a dimensão dos resultados.

No terceiro trimestre do ano passado, o lucro líquido chegou aos R$ 4,2 bilhões, um número inflado por um reconhecimento de créditos tributários favoráveis à empresa. Esses créditos foram fruto de uma mudança regulatória que alterou o recolhimento de impostos no setor de combustíveis.

Só com isso, o efeito positivo para o balanço há um ano foi de R$ 3 bilhões. No balanço deste ano, esses créditos não existiram. Apenas com esse ajuste – sem considerar outros efeitos não recorrentes, que também ajudaram na matemática – a queda do lucro já seria menos grave: 60%.

Em teleconferência com analistas após a divulgação do balanço, o presidente da empresa, Ernesto Pousada, insistiu que a empresa continua avançando no processo de desalavancagem, que deve levar o índice de endividamento para abaixo de duas vezes o Ebitda em 2026.

O Ebitda é uma sigla em inglês para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Em linhas gerais, é uma medida de lucro operacional. E a alavancagem é medida como uma relação entre dívida líquida sobre o Ebitda, medida em vezes. Esse dado equivale a quantos anos a empresa levaria para pagar a dívida usando todo o lucro operacional. No mercado financeiro, um nível de duas vezes o Ebitda é considerado um bom desempenho.

No terceiro trimestre de 2025, a alavancagem já havia recuado para 2,7 vezes e a meta é fechar o ano em torno de 2,5 vezes. O movimento é sustentado por uma forte geração de caixa operacional, impulsionada por melhorias em capital de giro (o dinheiro para a empresa operar no dia a dia), gestão de estoques e maior eficiência nas operações.

Na avaliação de analistas, apesar da queda no lucro, a companhia ainda entregou um Ebitda acima do esperado e um forte fluxo de caixa livre no trimestre, além da dinâmica positiva no nível de alavancagem. A empresa também tem se beneficiado do ganho de participação de mercado e uma melhora dos resultados na comparação trimestre a trimestre.

Com a estrutura financeira mais saudável, a Vibra deve priorizar investimentos em crescimento orgânico (a partir das operações já existentes). O plano de expansão para 2026 prevê um aumento expressivo do investimento em “embandeiramento” de postos, que passou a representar 40% das despesas com capital – ou capex, que são os desembolsos feitos em expansão e novos bens que integrarão o patrimônio.

O embandeiramento é a associação de um estabelecimento comercial a uma marca – no caso, os postos de combustíveis BR, da Vibra. Nesse processo de embandeiramento, a companhia vem privilegiando contratos de performance, nos quais o revendedor é bonificado conforme o volume entregue – modelo que hoje responde por cerca de dois terços dos contratos e tem duração média de cinco anos.

Segundo Pousada, o plano é combinar “crescimento com margem e baixo risco”, aproveitando o novo ambiente competitivo do setor de combustíveis. Para ele, o segmento agora opera mais equilibrado após avanços regulatórios e o endurecimento contra práticas informais, após a Operação Carbono Oculto da Polícia Federal.

“A Vibra quer se posicionar como vencedor em um cenário em que todos competem sob as mesmas regras”, disse o executivo.

Outro vetor de crescimento será o negócio de lubrificantes, que acaba de se tornar uma unidade independente, sob comando de Marcelo Bragança. O segmento registrou recordes sucessivos de volume em 2025 e já é visto como uma alavanca de rentabilidade para a Vibra.

Segundo Pousada, a companhia planeja acelerar o crescimento orgânico no Brasil e América Latina por meio do aumento da eficiência industrial, ampliação de canais e fortalecimento da marca Lubrax. Para conquistar a liderança regional em lubrificantes, a companhia admite que o avanço exigirá movimentos inorgânicos (compra de outras empresas) ou parcerias estratégicas, especialmente fora do Brasil.

“Buscaremos o melhor caminho para consolidar nossa posição, não necessariamente via aquisição, mas possivelmente com alianças que nos deem escala e presença”, afirmou.

Perto das 15h20, os papéis da Vibra tinham alta de 1,97%, cotados a R$ 24,80, entre os destaques positivos entre as empresas integrantes do Ibovespa.