O coração da ofensiva Midnight Hammer (Martelo da Meia-Noite) foi uma manobra de distração orquestrada pelos EUA.
Os bombardeiros B-2 são os únicos que têm como carregar explosivos bunker-buster, de 13 toneladas, capazes perfurar as montanhas que abrigam a instalação nuclear de Fordow, no Irã. Um grupo deles voou rumo ao Oceano Pacífico, a oeste. Quando esses aviões apareceram nos rastreadores de voo, a mídia internacional entendeu que seria uma tentativa de pressionar o Irão a voltar para a mesa de negociações.
Mas eram iscas, destinadas a manter o fator surpresa, segundo o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth. Enquanto esses aviões atraíam toda a atenção, outro grupo, de sete B-2, voava para o leste — tomando os cuidados necessários para ficar fora do alcance dos radares.
Essas manobras fizeram parte de uma operação de 37 horas, que resultou nos ataques aos locais nucleares de Fordow, Isfahan e Natanz no fim de semana, mergulhando os EUA diretamente no conflito entre Irã e Israel no Oriente Médio. As preocupações também se estendem aos mercados, com agentes prevendo queda nas ações, alta nos preços do petróleo e fortalecimento do dólar.
No final, a operação de sábado à noite, que segundo os EUA foi necessária para impedir o Irã de obter uma bomba nuclear, foi considerada um sucesso pelo Pentágono.
Nenhum militar americano foi perdido, e o Irã não disparou contra nenhum ativo militar dos EUA, segundo os oficiais. Hegseth disse que o Congresso só foi informado após os aviões estarem em segurança.
Os bastidores da decisão
Ao se dirigir à nação na noite de sábado, Trump disse que as “principais instalações nucleares do Irã foram completamente obliteradas”. Análises independentes, porém, ainda não verificaram essa afirmação, e os ataques podem ter criado um novo desafio: entender o que sobrou e onde, dentro da estrutura nuclear iraniana.
A extensa operação dos EUA envolveu 125 aeronaves (entre elas, os sete B-2), ataques com mísseis Tomahawk lançados de um submarino e o uso de 14 bombas do tipo Massive Ordnance Penetrator (MOP) — essas armas foram usadas em combate pela primeira vez.
Poucos sinais indicavam que a missão ocorreria neste fim de semana. Na quinta-feira, a Casa Branca havia prometido que Trump tomaria uma decisão sobre o ataque “dentro de duas semanas”, sugerindo mais tempo.
Mas o presidente — que costuma passar os fins de semana fora de Washington — retornou à capital vindo de Nova Jersey no sábado, para uma reunião na Situation Room da Casa Branca. Ao seu lado estavam o vice-presidente JD Vance, a chefe de gabinete Susie Wiles, o secretário de Estado Marco Rubio e Hegseth.
Rubio sinalizou no domingo que Trump só deu a aprovação final nos minutos que antecederam o bombardeio.
“Há vários momentos ao longo do processo em que o presidente tem que decidir entre ‘ir’ ou ‘não ir’”, disse Rubio em entrevista à Fox News no domingo de manhã. “E a decisão realmente veio cerca de 10 minutos antes das bombas serem lançadas.”
Detalhes da Operação
Os voos foram a segunda missão mais longa da história operacional dos B-2, segundo Hegseth e o general da Força Aérea Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto. O recorde foi uma missão de 40 horas em outubro de 2001, na fase inicial da guerra do Afeganistão.
Segundo as autoridades, foram usadas 75 armas guiadas de precisão. A avaliação dos danos levará tempo, mas “todos os três alvos sofreram danos extremamente severos e destruição”, afirmou Caine.
“Não me surpreenderia se, após o período de avaliação, voltássemos para reatacar alguns desses alvos para garantir o efeito desejado”, disse Joseph Votel, ex-comandante do Comando Central dos EUA (Centcom) e hoje membro do Middle East Institute. “Esse é, na verdade, um procedimento normal: atacar, avaliar e, se necessário, atacar novamente para garantir o resultado.”
Antes dos ataques dos B-2 a Fordow, um submarino do Grupo de Ataque do Porta-Aviões Carl Vinson, no Mar da Arábia, disparou 24 mísseis de cruzeiro Tomahawk, segundo Caine e um gráfico divulgado pelo Pentágono.
Hegseth disse no domingo que “nossos garotos nesses bombardeiros já estão a caminho de casa”. Um oficial americano informou que uma mulher estava entre os pilotos dos B-2.
O secretário de Defesa também reforçou que a missão não teve como objetivo a mudança de regime em Teerã. “A missão não foi e não é sobre mudança de regime”, disse.
“Esse é um plano que levou meses e semanas de posicionamento e preparação, para estarmos prontos quando o presidente dos Estados Unidos chamasse”, explicou Hegseth. “Exigiu alta precisão, dissimulação e o mais alto nível de segurança operacional.”
Mas Rubio deixou claro: o Irã precisa abandonar suas ambições nucleares.
“No fim das contas, se o Irã estiver decidido a se tornar uma potência nuclear, acredito que isso colocará o regime em risco”, disse Rubio no domingo à Fox News. “Acho mesmo que seria o fim do regime se eles tentassem isso.”
Embora as avaliações de danos ainda estejam em andamento, o vice-presidente Vance disse estar confiante de que os ataques dos EUA aos alvos iranianos “atrasaram substancialmente o desenvolvimento de uma arma nuclear” — e esse era o objetivo da ofensiva.
Por Tony Capaccio