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Alta de juros e da inflação dificulta vida de fintechs no Brasil

Custos com captações dos grandes bancos, como Itaú e Bradesco, não aumentaram tanto como o das fintechs.

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O vultoso aumento nas taxas de juros no Brasil está tornando mais difícil a vida das empresas de tecnologia financeira, incluindo StoneCo e PagSeguro Digital, que oferecem empréstimos e serviços mais baratos do que os grandes bancos e crescem em um ritmo furioso.

As fintechs, que conseguiram investimentos recordes de fundos de capital de risco e no mercado de ações nos últimos anos, agora sofrem um aumento de custos, já que o Banco Central elevou sua taxa básica em quase 10 pontos percentuais em um ano para 11,75% para combater a inflação. Isso torna mais difícil a oferta de taxas competitivas em empréstimos sem comprometer as margens de lucro já apertadas.

Os custos com captações dos grandes bancos, como Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC3), não aumentaram tanto como o das fintechs, pois eles possuem uma base maior e mais diversificada de clientes de varejo que muitas vezes deixam seu dinheiro estacionado em contas bancárias em troca de retornos abaixo da taxa básica ou sem retorno algum, algo que os grandes investidores profissionais geralmente não aceitam. Esses mesmos clientes pessoa física podem pagar taxas de até 346,3% ao ano em financiamentos no cartão de crédito.

“As fintechs nasceram com uma vantagem principal para os clientes – cobrar menos do que os bancos maiores”, disse Cynthia Cohen Freue, principal analista de serviços financeiros e bancos na América Latina da S&P Global Ratings. “Então, para elas, é difícil repassar os custos de captação mais altos para os clientes.”

A pandemia acelerou a digitalização dos serviços financeiros em todos os lugares, mas especialmente na maior economia da América Latina, onde a realização de transações por celular ou internet banking já representa quase 70% do total. Um recorde de US$ 8,85 bilhões foi investido em startups no país em 2021 e o ano acabou com a tão esperada oferta pública inicial de ações do Nubank (NUBR33), que foi avaliado em US$ 45 bilhões, mais do que o Itaú ou o Bradesco na época. O IPO levantou US$ 2,8 bilhões para a fintech. 

Mas o ambiente de taxas benignas terminou abruptamente. A inflação anual do Brasil passou de menos de 2% em maio de 2020 para 10,5% no mês passado. Para tentar combater essa inflação, o Banco Central começou a subir juros em março de 2021 e tem sido o mais agressivo globalmente.

Isso já impactou balanços. 

A StoneCo, empresa de adquirência e tecnologia de pagamento, mais que triplicou suas despesas financeiras em 2021 em comparação com um ano antes, para R$ 1,27 bilhão. Suas receitas financeiras, entretanto, cresceram pouco mais de 14%, para R$ 1,88 bilhão, devido ao atraso no repasse de aumento dos preços aos clientes.

“Não queríamos prejudicar nossos clientes com custos mais altos, que sentimos que poderíamos absorver por um tempo”, disse o presidente da StoneCo, Thiago Piau, em teleconferência de resultados em 17 de março. “Mas, no fim, o impacto era muito grande para nós e então começamos a reprecificar em novembro.”

Essa estratégia ajudou a empresa a encerrar 2021 com 1,8 milhão de clientes, superando a meta de 1,4 milhão, segundo a StoneCo.

A PagSeguro (PAGS34), concorrente da StoneCo, registrou despesas financeiras de R$ 790,6 milhões em 2021, mais de seis vezes mais do que um ano antes, enquanto a receita financeira cresceu cerca de 60%, para aproximadamente R$ 3,7 bilhões, segundo seu balanço. 

A PagSeguro disse em nota à Bloomberg que parte do aumento no custo financeiro se deve ao crescimento do volume de pagamentos, que chegou a R$ 252 bilhões em 2021, 56% a mais que em 2020. A PagSeguro tem cerca de 22 milhões de clientes de varejo usando suas contas digitais e adquiriu uma licença bancária em 2019 para diversificar ainda mais suas fontes de financiamento, disse a empresa.

O Nubank também teve um aumento de mais de três vezes nos custos financeiros, para US$ 367,3 milhões. Mas a receita com juros e ganhos com instrumentos financeiros cresceu quase na mesma proporção, para mais de US$ 1 bilhão.

A empresa tem depósitos de pequenas empresas que não pagam juros e, como qualquer emissor de cartão de crédito no Brasil, recebe pagamentos de clientes antes de pagá-los às redes. O Nubank pode investir essas duas fontes de caixa para gerar receita financeira.

Em comparação, o Itaú, maior banco do Brasil em valor de mercado, viu suas despesas com intermediação financeira até diminuírem no ano passado, quase 10%, enquanto o Bradesco, segundo maior banco, teve um aumento de menos de 7%.

O crescimento econômico mais lento do Brasil representa um obstáculo adicional para as fintechs, já que as taxas de inadimplência tendem a aumentar e a demanda por crédito, a cair. 

Embora isso seja um desafio para todo o setor financeiro, algumas fintechs atraem clientes com risco de crédito maior do que os dos grandes bancos, como parte de sua estratégia de negócios de expansão agressiva, de acordo com a S&P Global Ratings. Os bancos podem cortar crédito em crises, enquanto as fintechs prometem aos investidores que vão crescer aceleradamente.

Depois da alta de 4,6% em 2021, a economia do Brasil deve se expandir apenas 0,5% este ano. As eleições presidenciais de outubro, que colocam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o atual presidente Jair Bolsonaro, também levarão a uma maior volatilidade no segundo semestre, enquanto o aumento das taxas do Fed, banco central americano, e a guerra na Ucrânia estão adicionando mais estresse.

Esses desafios estão afetando os preços dos títulos de US$ 500 milhões da StoneCo com vencimento em 2028 – seu rendimento saltou cerca de 100 pontos base este ano para 7,2%.

O fraco desempenho dos títulos também reflete alguns dos desafios próprios da StoneCo – ela interrompeu empréstimos para pequenas e médias empresas em outubro após uma experiência ruim e seu lucro líquido ajustado caiu 79% em 2021. Enquanto isso, seu principal concorrente, a Cielo, empresa do Bradesco e do Banco do Brasil, reportou um aumento de 98% no lucro líquido.

“A preocupação não é que as taxas de juros estejam tão altas, porque os brasileiros estão acostumados com taxas mais altas, mas o ritmo em que elas subiram recentemente”, disse Diksha Gera, analista da Bloomberg Intelligence. “As fintechs precisarão apertar preços se quiserem focar na expansão dos clientes.”

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