MP28, uma das máquinas do Projeto Puma II da Klabin (Divulgação)

Depois de realizar um dos maiores ciclos de investimentos de sua história centenária, a Klabin entra agora em uma fase de colheita dos resultados – e redução do endividamento. O plano da empresa é trabalhar na sua desalavancagem até 2026, conforme divulgou a companhia no fim do ano passado.

A maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil investiu R$ 12,9 bilhões na instalação das máquinas de papel MP27 e MP28, num projeto chamado de Puma II. E, em 2024, já viu sua produção crescer como resultado desse investimento.

A Klabin também expandiu sua base florestal com a aquisição de ativos da Arauco, em um negócio de US$ 1,16 bilhão feito no fim de 2023 (algo em torno de R$ 6 bilhões na época). A operação, batizada de Projeto Caetê, incorporou 85 mil hectares produtivos no Paraná ao portfólio da empresa, aumentando significativamente sua capacidade de produção de madeira.

Essa aquisição garantiu a matéria-prima necessária para que as novas máquinas entreguem todo seu potencial. A MP27 já está operando próxima de sua capacidade máxima e a expectativa é que a MP28 alcance sua plenitude até 2027. 

Com uma perspectiva de produtividade maior nos próximos anos, a empresa agora redireciona seu foco para melhorar a geração de caixa, o que permitirá a redução da dívida líquida, atualmente em R$ 33,3 bilhões. Esse endividamento custa caro: somente em 2024, a companhia pagou R$ 1,8 bilhão em juros.

Em 2024, a Klabin gerou R$ 5,16 bilhões em caixa operacional, um aumento de 19% na comparação a 2023. O crescimento foi impulsionado pelo aumento do lucro operacional (Ebitda), maior volume de vendas e câmbio favorável, fatores que ajudaram a compensar o impacto da inflação e os custos mais altos de produção.

“A empresa já tem um crescimento de volume contratado para 2025, impulsionado pelo ramp-up [aumento gradual de capacidade] das fábricas de papel. Isso fortalece a geração de caixa operacional e, ao mesmo tempo, ajuda a diluir custos”, explica Gabriela Woge, diretora de Finanças Corporativas e Relações com Investidores da Klabin.

Essa perspectiva de maior produção em 2025 vem da otimização do mix de produção para aumentar a rentabilidade – a MP28, por exemplo, pode entregar tanto papéis de menor valor agregado quanto os que possuem margens mais atrativas.

Além disso, a expansão no mercado de embalagens e papel-cartão deve contribuir para esse aumento de vendas ao longo deste ano. “Com essa geração de caixa adicional, iniciamos uma fase de desalavancagem, após um período de investimentos que elevou nossa dívida”, prossegue a executiva.

Estrutura de capital

A alavancagem da companhia, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda em dólares, encerrou 2024 em 3,9 vezes, exatamente no limite estabelecido pela política de endividamento da empresa, atualizada no fim do ano passado. Em termos práticos, isso significa que a dívida líquida equivale a 3,9 vezes o lucro operacional anual da companhia — quanto menor esse índice, mais saudável é considerada a situação financeira.

A métrica, que antes permitia chegar a 4,5 vezes durante ciclos de grandes investimentos, foi revisada para baixo, diz Gabriela, como uma mensagem da administração ao mercado de que a empresa tem disciplina financeira. Para os próximos trimestres, a Klabin traçou um plano de redução gradual desse indicador, com objetivo de retornar ao intervalo de 2,5 a 3,5 vezes adotado em períodos sem expansões significativas.

Tripé

Para alcançar uma alavancagem mais confortável, a gestão financeira da Klabin definiu um tripé estratégico. O primeiro pilar é exatamente o incremento da produção e sua consequente geração de caixa. Em segundo lugar está a busca por maior eficiência de custos. Gabriela usa como exemplo o Projeto Caetê: a nova área florestal permitiu reduzir o raio médio entre a floresta e a planta da companhia localizada em Ortigueira (PR), resultando em economia significativa nos custos logísticos.

O terceiro pilar tem a ver com a monetização de ativos não essenciais por meio de parcerias estratégicas. “Estruturamos parcerias com fundos florestais (Timber Funds) para a venda de terras excedentes, o que nos traz recursos que serão integralmente direcionados à redução da dívida”, reforça a executiva.

Gabriela Woge, diretora de Finanças Corporativas e RI da Klabin
Gabriela Woge, diretora de Finanças Corporativas e RI da Klabin (Divulgação)

A estratégia tem foco nas terras mais distantes das fábricas, que oferecem menor sinergia operacional. “Usamos num primeiro momento a madeira e depois podemos monetizar essas terras”, acrescenta.

Com um acordo que pode chegar a até R$ 2,7 bilhões, a Klabin já recebeu R$ 800 milhões desses Timber Funds. E tem a expectativa de receber maos R$ 1,8 bilhão até o fim do segundo trimestre deste ano. Todo esse recurso será destinado exclusivamente ao pagamento de dívidas.

Caixa cheio

Embora a redução do endividamento seja o foco principal da administração neste momento, os números da Klabin mostram uma posição de liquidez confortável. Atualmente, a empresa dispõe de R$ 7,5 bilhões em caixa para fazer frente aos compromissos de 2025, estimados hoje em R$ 1,7 bilhão.

Somando o dinheiro em caixa com linhas adicionais de crédito, a Klabin teria recursos suficientes para cobrir 32 meses de vencimentos de dívida — quase três anos de pagamentos.

 “Nossa gestão de dívida é de longo prazo, eu não estou pensando apenas neste ano, estamos trabalhando pensando em 2026, 2027… para que as dívidas de curto prazo não se tornem um problema”, destaca Gabriela.