A Raízen intensificou um plano de ajustes para reduzir custos, recuperar caixa e focar em suas atividades principais, em uma espécie de reação ao prejuízo de R$ 2,6 bilhões no terceiro trimestre do ano-safra 2024/25. A gigante do setor sucroenergético é hoje um dos principais desafios para sua controladora, a Cosan, de Rubens Ometto.
Desde novembro, quando Ometto deflagrou uma mudança total na gestão da empresa, com a chegadaa de Nelson Gomes ao posto de CEO, a Raízen tem adotado uma série de medidas para simplificar as operações e reduzir o endividamento, que já soma R$ 38,6 bilhões. Com isso, a alavancagem — relação entre dívida líquida e lucro operacional (Ebitda) — subiu para 3 vezes, um aumento expressivo em relação ao índice de 1,9 vez registrado no mesmo período do ano anterior.
“Após um ciclo de crescimento e expansão do portfólio de negócios, impulsionado pelo IPO, entendemos que nossa estratégia precisa estar alinhada à estrutura de capital da companhia e ao atual cenário macroeconômico”, afirmou a empresa em seu relatório de resultados.
Entre as primeiras ações anunciadas estão a venda de direitos de exploração de 900 mil toneladas de cana-de-açúcar por R$ 384 milhões e a alienação de projetos de geração solar distribuída, que devem render aproximadamente R$ 475 milhões. A empresa também reduziu sua participação em operações no Paraguai e estuda vender algumas de suas 35 usinas de etanol, embora a decisão ainda esteja em análise.
A Raízen também colocou à venda sua participação no Grupo Nós, joint venture com a Femsa para operação das lojas Oxxo. O negócio, que vem queimando caixa para sustentar sua consolidação no Brasil, é visto pelo mercado como uma distração para a empresa, que busca foco total em seu core business de energia.
A empresa também está promovendo uma ampla reestruturação em sua operação de trading (a operação de contratos futuros de açúcar e combustíveis). Na gestão de Ricardo Mussa, antecessor de Gomes, a unidade atuava de forma autônoma e, a partir de agora, a companhia pretende retornar à estratégia original de trading como um suporte para seu core business, focando na otimização do suprimento de combustíveis e insumos para sua própria rede.
A mudança visa reduzir riscos financeiros desnecessários e melhorar a previsibilidade dos resultados. Um dos fatores que motivaram essa reestruturação foi uma operação mal executada de venda de óleo combustível, que resultou em um prejuízo de R$ 200 milhões, conforme noticiou o site The AgriBiz. O problema ocorreu devido a um erro na gestão de licenças de comercialização, obrigando a empresa a exportar o produto a preços mais baixos do que o previsto.
A Raízen também reestruturou sua organização em três grandes unidades de negócio: etanol, açúcar e bioenergia (EAB) e duas operações de Mobilidade (distribuição de combustíveis no Brasil e na Argentina). Para comandar a unidade de bioenergia, a empresa contratou Geovane Dilkin Consul, ex-CEO da BP Bunge Bioenergia.
Outra revisão estratégica foi no programa de etanol de segunda geração (E2G). A empresa decidiu manter apenas as seis plantas já em construção ou em operação, suspendendo temporariamente projetos de novas unidades em Caarapó (MS), Jataí (GO) e Tarumã (SP) até que as condições de mercado se tornem mais favoráveis.
A pressão financeira sobre a empresa se intensificou com os juros elevados, que aumentaram suas despesas com endividamento. Nos nove meses do ano-safra, a Raízen gastou R$ 3,2 bilhões aenas com o pagamento de juros, o que torna a recuperação da geração de caixa uma prioridade.
Além das decisões estratégicas, fatores externos também impactaram os resultados do trimestre. A moagem de cana caiu 6,9% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando 77,5 milhões de toneladas. A produtividade agrícola também recuou 9,6%, com cada hectare colhendo menos cana.