“Queremos investir, mas o ritmo vai depender da competitividade do Brasil frente ao aço importado”, afirmou o executivo, em conversa com o InvestNews. “A decisão será tomada com base em fatores de mercado e nas condições de defesa comercial do país.”
Entre as alternativas em estudo está a instalação de um novo laminador no Complexo de Pecém (CE) – que poderá ser o primeiro equipamento do tipo em uma unidade da empresa no Nordeste – ou a expansão da unidade de Tubarão (ES), onde a Arcelor já mantém uma das maiores plantas integradas do mundo.
Uma decisão deverá ser tomada até o fim do primeiro trimestre de 2026, acrescentou Oliveira, que também preside a Alacero, a associação do setor na América Latina.
O investimento faz parte da segunda fase do ciclo de aportes de R$ 25 bilhões anunciado em 2022, e que está sendo concluído agora. Esse novo pacote, de até R$ 12 bilhões, está condicionado a dois fatores:
- Efetividade das tarifas antidumping e cotas de importação aplicadas recentemente pelo governo brasileiro, que preveem sobretaxa de até 25% sobre 19 produtos da cadeia do aço;
- Resultado das investigações antidumping contra o aço chinês, especialmente nas categorias de bobinas laminadas a frio e galvanizados, que devem ter decisão em Brasília nos próximos meses.
“Se o governo tomar a decisão ideal, reduz 50% do nível de importação e bota uma tarifa de 50%, seria uma alternativa”, afirmou Oliveira.
O executivo observou que o volume de importações de aço no Brasil saltou de 2,2 milhões de toneladas antes da pandemia para cerca de 6 milhões em 2024, o que, segundo ele, “pressiona as margens e inviabiliza novos investimentos se não houver previsibilidade regulatória”.
Reorganização do portfólio
A ArcelorMittal reforçou que novos investimentos na planta de aços longos em João Monlevade (MG). Oliveira lembrou que o projeto, gestado em 2008, perdeu sentido após a aquisição da Votorantim Siderurgia, em 2018.
“Com a integração da Votorantim Longos, atingimos o mesmo patamar de capacidade que teríamos com Monlevade. Agora, nosso foco é outro: queremos crescer em aços planos e galvanizados, produtos de maior valor agregado”, explicou.

Esse movimento marca uma mudança estratégica importante: a empresa, historicamente líder em aços longos (vergalhões, fios, arames), está redirecionando investimentos para aços planos premium, voltados à indústria automotiva, eletrodomésticos e construção metálica.
Operação brasileira
A ArcelorMittal Brasil responde por cerca de 40% da produção nacional de aço, com capacidade anual próxima de 15 milhões de toneladas.
O grupo opera 15 unidades industriais e quase 30 plantas de transformação e distribuição, empregando mais de 17 mil pessoas em estados como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Ceará e Santa Catarina.
O portfólio inclui aços longos (vergalhões, fio-máquina, arames, cordoalhas) e aços planos (chapas, bobinas laminadas, galvanizadas e pintadas). A planta de Tubarão (ES) é uma das maiores exportadoras de placas (slabs) do mundo, enquanto Monlevade (MG) e Cariacica (ES) são referências em aços longos.
“O Brasil é estratégico dentro do grupo ArcelorMittal global. Temos escala, minério, energia e competência industrial — o que falta é previsibilidade para continuar crescendo”, resumiu Oliveira.
*O jornalista viajou a convita da Alacero