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Simpar oferece ‘test drive’ da Automob na B3 após cisão da Vamos
Rede de concessionárias de veículos leves da família Simões namorava uma listagem há algum tempo
A cisão do braço de concessionárias de veículos pesados da Vamos que vai resultar na listagem de uma nova empresa, a Automob, joga luz sobre dois movimentos estratégicos que a Simpar, holding da família Simões e que também é controladora de JSL e Movida, já ensaiava há algum tempo em seu portfólio.
Para entender melhor o negócio: a Vamos, uma empresa que já é listada desde 2021, vai virar duas empresas listadas, uma de locação de máquinas e outra de concessionárias de máquinas. O braço de locação continuará a se chamar Vamos. Já a frente de concessionárias irá comprar a Automob da Simpar por R$ 1 bilhão e vai juntar as duas empresas em uma nova, que também se chamará Automob.
Dado esse passo, vamos aos movimento. O primeiro é que a transação, que ainda precisará de aval dos acionistas, faz da Vamos uma empresa puramente de locação de máquinas e tira dela o peso das concessionárias, que vêm operando com prejuízo operacional (medido pelo Ebitda) de R$ 39 milhões neste ano.
Além do desempenho aquém do esperado em termos de geração de caixa, a rede de concessionárias da Vamos não tem margem. Aos números: enquanto o negócio de locação de máquinas entregou margem Ebitda de 72% até agora em 2024, a frente de concessionárias teve margem negativa de 1,5%.
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O ciclo de baixa das commodities agrícolas foi o principal detrator do balanço, reconheceu a Vamos ao mostrar seu balanço do segundo trimestre. Como resultado, as ações caíram mais de 10% no pregão seguinte à divulgação, muito pelo resultado das concessionárias. Neste ano, os papéis da Vamos caem quase 30% – o número seria pior não fosse a alta de 1,69% nesta segunda-feira (30).
Diante dessa avaliação negativa do mercado, investidores vêm, há mais de um ano, estimulando a Simpar a preparar a separação dos negócios da Vamos. O entendimento é que a Automob, a rede de concessionárias de veículos leves do grupo, teria estrutura e conhecimento para suportar e ajudar a recuperar o braço de venda de caminhões e máquinas que hoje pertence à Vamos.
Neste ano, a Automob entregou 4,9% de margem Ebitda, número considerado positivo para o atual momento do varejo. “O mercado vê comportamentos de caixa distintos entre a Vamos locação e a Vamos concessionárias. Enquanto a locação é um negócio de longo prazo, a parte de concessionárias está sujeita aos ciclos econômicos”, diz uma pessoa próxima ao grupo da família Simões.
“Já era um pleito bem antigo meu — e imagino que de muitos outros acionistas”, escreveu o analista Bruce Barbosa, da Nord, em relatório. Basicamente, a Vamos é uma empresa de locação de caminhões que achou que era uma boa ideia comprar um monte de concessionárias. É claro que deu errado.”
A cisão também permite que a Simpar siga apostando no agronegócio por meio da Automob.
Embora seja visto hoje pelo mercado como um ponto negativo dentro do balanço da Vamos, o agro é sempre um segmento promissor no país. “O agronegócio está numa fase de baixa, mas, no momento bom, as concessionárias da Vamos chegaram a entregar lucro líquido de R$ 248 milhões [em 2022], com margem de 8,4%”, lembra a fonte.
Após a cisão, a nova Vamos terá uma receita líquida de R$ 4,1 bilhões, medida pelos últimos 12 meses (UDM), com lucro líquido de R$ 734 milhões e margem sobre o lucro de 18%.
“A Vamos é extremamente lucrativa. Enquanto a Vamos Locação tem uma margem de lucro de 18%, a Vamos Concessionárias têm uma margem de lucro super pequena e caindo. É o negócio de locação que carrega todo o peso da dívida”, prosseguiu Barbosa, da Nord. Apesar de avaliar como positiva a separação, o analista criticou os múltiplos que serviram de premissa para o negócio.
Investidor conhecerá a Automob
O segundo movimento da Simpar é colocar na Bolsa uma empresa vista como promissora pelo grupo: a Automob, que aposta na consolidação de concessionárias de automóveis. Com um plano agressivo de consolidação, a companhia saiu de uma receita líquida de R$ 618 milhões em 2020 para R$ 9,35 bilhões neste ano, com lucro líquido saindo de R$ 9 milhões para R$ 58 milhões.
A Automob já está com 120 lojas pelo país e há espaço para mais – cálculos do setor indicam que existem mais de mil lojas com donos de pequeno porte, o que daria espaço para mais aquisições no futuro. E, se aprovada a fusão com as concessionárias da Vamos, a nova Automob nascerá com 192 lojas em 12 Estados brasileiros.
No ano passado, a Simpar já havia obtido registro “A” para a Automob junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Na prática, isso já permitiria que a companhia tentasse uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês). Mas, como o mercado não está muito animado para IPOs, a saída foi dar um test-drive da Automob por meio da cisão do negócio de concessionárias da Vamos.
Cada investidor da Vamos (de locação, não esqueça) receberá 0,22 ação da Automob, de concessionárias. “Os investidores não tinham empresa pura de venda de veículos na Bolsa e passarão a entender o modelo de negócios”, acrescenta a fonte. “Funciona melhor que em um IPO, onde cada um tenta puxar o valuation para o seu lado. O mercado vai ter tempo de avaliar.”
Com a criação da nova Automob, o grupo passará a ter receita líquida dos últimos 12 meses de R$ 12,7 bilhões, com lucro líquido de R$ 20 milhões e margem Ebitda de 3,5%.
Estrutura de capital
Para financiar o R$ 1 bilhão da incorporação da Automob, a Vamos concessionárias vai recorrer ao mercado de dívida – nenhuma operação no mercado de ações está no radar.
Caso a transação fosse aprovada hoje, a nova Automob nasceria com uma alavancagem superior a 3,5 vezes o lucro operacional (Ebitda). Já a Vamos ficaria com sua relação entre dívida líquida e Ebitda no mesmo patamar do segundo trimestre, de 3,3 vezes. Como a Simpar receberá R$ 1 bilhão, a alavancagem da holding tende a cair de 3,3 vezes para 2,5 vezes.
O comando da Vamos permanece o mesmo, com Gustavo Couto, executivo com seis anos de casa, como CEO. Na nova Automob, o negócio será liderado por Antônio Barreto, que comandava os M&As da Simpar.
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