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Bancos têm menor rentabilidade em 10 anos com pandemia, mas BC vê melhora
Aumento despesas com provisões impactou números do setor durante a crise.
A pandemia da covid-19 derrubou a rentabilidade dos bancos em 2020 ao menor patamar em pelo menos dez anos ao forçar as instituições a aumentar suas despesas com provisões, apontou o Banco Central nesta segunda-feira (7), destacando que, mesmo com o aumento das incertezas, a perspectiva é de melhora este ano.
“A queda da rentabilidade foi generalizada, afetando bancos de diferentes tipos de controle, porte e segmento de atividade”, afirmou o BC em seu Relatório de Economia Bancária divulgado, nesta segunda-feira, que analisou o desempenho do sistema financeiro no ano passado.
Em dezembro de 2020, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do sistema bancário foi de 11,5%, o menor da série histórica do BC, que tem início em dezembro de 2010. No ano anterior, o BC havia reportado um ROE de 16,5% para dezembro de 2019.
As despesas dos bancos com Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa saltaram 30% no ano passado sobre 2019, enquanto as receitas com serviços desaceleraram com a menor atividade econômica, crescendo 2,3% depois de uma alta de 6,7% no ano anterior.
Segundo o BC, a rentabilidade dos bancos privados, instituições que tiveram aumento mais expressivo nas despesas com provisões, caiu mais do que a dos públicos no período. Já em uma comparação que leva em conta o porte dos bancos, a queda foi similar entre os bancos grandes e médios – tradicionalmente mais rentáveis – e os pequenos e micros.
Para 2021, o BC espera uma recuperação da rentabilidade, a despeito do que apontou como um “aumento da incerteza decorrente da pandemia”, que seguirá sendo o principal fator de risco para o indicador.
“O reforço de provisões realizado em 2020 reduz a necessidade de novas provisões em montantes relevantes e a retomada da atividade econômica contribui para o crescimento e a qualidade do crédito, além de favorecer a demanda por serviços bancário”, disse o BC.
Concentração
O relatório também apontou uma nova redução da concentração do Sistema Financeiro Nacional e afirmou que a queda da fatia de mercado do Banco do Brasil (BBAS3), da Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a partir de 2019 foi um fator “importante” nesse processo.
Os cinco maiores bancos – Itaú (ITUB3 e ITUB4), Bradesco (BBDC3 e BBDC4), Santander (SANB3, SANB4 e SANB11), BB e Caixa – responderam por 77,6% do total de ativos do segmento bancário comercial em dezembro de 2020, ante 81% um ano antes. A concentração dos depósitos totais nessas instituições caiu para 79,1%, ante 83,4% em dezembro de 2019, enquanto no crédito passou a 81,8%, de 83,7%.
Considerando o sistema financeiro total, incluindo também segmentos não bancários, a concentração dos ativos totais nos cinco maiores bancos caiu para 67% em 2020, ante 69,8% no ano anterior.
Ao comentar a redução da concentração verificada desde 2018, o BC destacou que ela ocorreu “a despeito de, nesse período, ter havido onze atos de concentração envolvendo instituições financeiras, sendo a aquisição de 49,9% da XP Investimentos pelo Itaú-Unibanco o caso mais relevante”.
O BC também chamou a atenção para a redução da parcela de mercado dos bancos públicos BB, CEF e BNDES de 41,3% dos ativos totais em 2018 para 37,5% em 2020, pontuando que esse movimento se deu em parte com aumento da participação de instituições que não estão entre as cinco maiores, “o que contribui para o incremento das condições concorrenciais”.
“Pouco mais da metade da diminuição de concentração é essa realocação de bancos públicos muito grandes para bancos grandes privados, o que tende a ser positivo porque é uma desconcentração também, e metade são atores que não são os cinco maiores bancos ganhando espaço”, disse o diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, João Manoel Pinho de Mello.
Políticas públicas
Ao detalhar o desempenho do crédito bancário no ano passado, que apresentou crescimento de 15,7% no estoque total, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, disse que os dados são os que melhor retratam o impacto da política pública sobre a economia na crise da pandemia.
No ano, o crédito com recursos livres, em que as taxas são pactuadas livremente entre bancos e tomadores, aumentou 15,5%, enquanto o crédito direcionado teve alta de 15,9%, alavancado por um aumento de 22,8% para as empresas – segmento que foi beneficiado por programas como o Pronampe e o Peac, de apoio ao crédito para pequenas e médias empresas por meio da concessão de garantias.
“É sempre essa a tendência em todas as crises, uma contração de crédito causada por uma restrição de oferta de crédito, e nessa crise o crédito subiu ao invés de ter caído… e isso se deveu à política pública”, disse Kanczuk.
Para o diretor, o crescimento do estoque do crédito às pessoas físicas – de 10,8% com recursos livres e 11,7% no direcionado – também respondeu a uma política pública, no caso a monetária, na medida em que a redução da taxa básica de juros teria sido determinante para impulsionar modalidades de crédito, principalmente o imobiliário.
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