Uma semana marcada pelo corte das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e pelos balanços de dezenas de empresas americanas acabou se resumindo a um único tema: as big techs e a inteligência artificial.

Os resultados das gigantes de tecnologia mostraram que as maiores corporações do mundo continuam investindo bilhões em infraestrutura de IA, o que animou investidores e reforçou o argumento para apostar no setor. Não à toa, os índices S&P 500 e Nasdaq avançaram na semana, próximos a novos recordes.

No entanto, os investidores foram rápidos em punir as empresas cujos gastos não mostraram retorno de curto prazo. É uma mudança no otimismo quase inabalável em torno dos investimentos em IA.

As preocupações com os enormes desembolsos da Meta, dona do Facebook, levaram as ações da empresa à maior queda diária em três anos. A Microsoft, por sua vez, caiu mais de 4% em dois dias depois que o crescimento de receita de sua divisão de computação em nuvem decepcionou o mercado.

“Estamos começando a ver, em alguns casos, um teste de disciplina que os investidores estão impondo às empresas”, afirma Kevin Gordon, chefe de pesquisa macro e estratégia da Charles Schwab & Co. “Em algum momento teremos de ter provas sobre o retorno desses investimentos.”

Por outro lado, os investidores reagiram de forma mais amistosa aos grandes gastos da Amazon e da Alphabet, dona do Google. O crescimento acelerado da Amazon Web Services ajudou a impulsionar as ações da companhia em quase 10% na sexta-feira (31), apesar do forte aumento nas despesas de capital – o capex, a parcela dos recursos destinada a bens de capital. Já a Alphabet subiu 2,5% na quinta-feira (30), impulsionada pela alta demanda por seus serviços de nuvem e IA.

Crescimento de receita

Somente gastar com IA já não satisfaz o mercado, que agora está focado no crescimento das receitas. Executivos da Alphabet e da Amazon prometeram investir mais em infraestrutura de IA, mas também mostraram como os investimentos anteriores já estavam gerando resultados.

A Alphabet afirmou que a receita do terceiro trimestre, proveniente de produtos baseados em seus modelos de IA generativa, mais do que triplicou em relação ao ano anterior. Já as vendas do Google Cloud cresceram cerca de 34%, para US$ 15,2 bilhões, superando as estimativas dos analistas.

Enquanto isso, a Amazon tranquilizou os investidores ao apresentar forte crescimento da computação em nuvem, enquanto o presidente da empresa, Andy Jassy, revelou novos detalhes sobre iniciativas de IA. A expectativa é de que seu chatbot de compras gere US$ 10 bilhões adicionais em vendas anuais.

A Meta, que não tem um negócio de nuvem para demonstrar crescimento de receita impulsionado por IA, teve mais dificuldade em acalmar as preocupações de Wall Street com os gastos, mesmo com o fundador, Mark Zuckerberg, destacando melhorias em direcionamento de anúncios e engajamento, além de defender a criação de capacidade extra.

“Esse é o primeiro trimestre em que vimos que mais gastos de capital não foram uniformemente recompensados”, diz Allen Bond, gerente de portfólio da Jensen Investment Management. “Há mais foco no retorno sobre o capital investido.”

Sinal verde

Muitos investidores entenderam que o forte investimento das companhias representa um sinal verde para a ampla aposta da IA, que impulsionou grande parte do mercado este ano, desde semicondutores até fornecedores de energia elétrica.

Talvez o beneficiário mais óbvio tenha sido a Nvidia, cujos chips dominam o mercado de computação para IA. Suas ações dispararam quase 9% na semana, tornando-a a primeira empresa a atingir um valor de mercado de US$ 5 trilhões.

Outras empresas relacionadas à IA também tiveram ganhos expressivos. As previsões otimistas impulsionaram as ações da Seagate Technology Holdings e da Western Digital. O fabricante de servidores Super Micro Computer e a produtora de chips Broadcom subiram mais de 4% na semana. Até a Caterpillar, empresa de máquinas pesadas que se beneficia do “boom” na construção de data centers, saltou 10%.

As ações da Apple, que gasta menos com IA do que outras gigantes, subiram cerca de 2,9% na semana, apesar de apresentar lucros sem tanto brilho.

Lucros acima das expectativas

As big techs, no geral, apresentaram crescimento de lucros superior às estimativas de Wall Street, oferecendo um alívio aos investidores preocupados com a já elevada valorização das ações.

Com os balanços já divulgados de seis das chamadas “sete magníficas” – o que inclui também a Tesla –, o crescimento dos lucros trimestrais do grupo está em cerca de 27%, comparado aos 15% esperados antes do início da temporada de resultados, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence.

As 500 empresas do S&P 500 caminham para um crescimento de 13% nos lucros, com resultados já divulgados por mais da metade delas.

“As estimativas para tecnologia estavam subindo antes desses resultados e elas ainda superaram a barra mais alta”, disse Gordon, da Schwab. “Isso é um suporte muito saudável para o mercado.”

O poderoso chefão

Embora os relatórios de lucros desta semana tenham trazido muitos motivos de otimismo para a aposta em IA, os investidores terão de esperar mais três semanas para ouvir o maior termômetro do setor: a Nvidia.

A fabricante das unidades de processamento gráfico usadas em computação de IA deve divulgar seus resultados em 19 de novembro. E as expectativas são altas, especialmente após o presidente, Jensen Huang, apresentar uma perspectiva forte de crescimento em um evento em Washington, nos Estados Unidos, esta semana. Dado o papel central da empresa na indústria, qualquer decepção pode ter repercussões amplas.

Por enquanto, os investidores estão aproveitando a maré.

“Os lucros eram esperados como bons e as grandes empresas de tecnologia entregaram”, disse Bob Savage, chefe de estratégia macro de mercados do banco BNY. “É difícil ser pessimista em relação a um setor que gera lucros de forma tão consistente.”