A Ebrasil fincou os pés na Brava Energia e quer mais. Menos de um mês depois de conquistar uma cadeira no conselho, o grupo de geração térmica protocolou pedido para que a companhia convoque uma assembleia e remova a cláusula de poison pill no estatuto da empresa.
A empresa argumenta que a regra — que obriga ofertas públicas de aquisição (OPA) acima de 25% das ações — “cumpriu seu papel” ao proteger os acionistas no momento da fusão, mas hoje seria um entrave à entrada de novos sócios estratégicos e à flexibilidade financeira da companhia.
Com as ações da Brava girando em torno de R$ 18,90, a regra obrigaria quem ultrapassasse 25% do capital a lançar uma OPA por 100 % dos papéis pagando prêmio de 25% — uma operação que pode ultrapassar os R$ 10 bilhões.
Derrubar essa cláusula, portanto, não apenas abre caminho para que a própria Ebrasil avance sua posição sem pagar esse pedágio, como também pode facilitar futuras movimentações estratégicas — de fusões a aumentos de capital. A Ebrasil montou posição na Brava em abril e ganhou uma vaga no board neste mês.
A movimentação acontece no vácuo de uma tentativa frustrada da Brava de se desfazer de ativos considerados periféricos. No início de 2025, a companhia colocou à venda campos em terra no Rio Grande do Norte e na Bahia. A venda do primeiro bloco foi fechada por US$ 15 milhões; o segundo acabou cancelado.
A justificativa oficial foi o desempenho operacional dos ativos — mas a presença recente da Ebrasil no capital reacende outra hipótese: para quem tem térmicas no Nordeste, manter o gás onshore pode ser uma jogada estratégica.
Criada em 2001 pelo empresário pernambucano José Cantarelli, a Ebrasil opera usinas térmicas e tem participação na Ocyan, responsável pelo navio-sonda de Papa-Terra — um dos principais projetos da Brava no offshore. Com 5,3 % do capital via Yellowstone, o grupo assumiu assento no conselho e, agora, busca redesenhar as bases de governança da companhia.
A Brava foi formada em setembro de 2024 com a fusão de Enauta e 3R Petroleum. Seu capital está pulverizado entre sócios como Bradesco e Jive, que assumiram posições como credores na antiga Queiroz Galvão, e investidores do mercado. Todos com perfis orientados à monetização — não à operação.
A chegada da Ebrasil marca a primeira vez em que a empresa atrai um sócio com apetite para integrar produção e consumo de energia, e com histórico no setor. O pedido para derrubar a poison pill é o gesto mais direto até aqui — e pode abrir caminho para uma reconfiguração mais profunda do controle no médio prazo.
Pela legislação, o conselho tem 30 dias para deliberar sobre a convocação da assembleia. Se não o fizer, o próprio acionista pode chamar a AGE. A administração da Brava disse que irá analisar o pedido.