“Eu realmente queria um veículo elétrico e nunca tive a intenção de comprar um novo”, disse ele. “E eu sei como é a depreciação de qualquer carro novo, mas também percebi que a depreciação dos EVs parecia ser consideravelmente maior do que a de um motor a combustão.”
Enquanto as vendas de veículos elétricos (EVs) novos nos EUA devem cair drasticamente quando os incentivos federais de até US$ 7.500 expirarem no fim do mês, o mercado de elétricos usados nunca esteve tão aquecido.
Carros e caminhonetes elétricos seminovos nos EUA agora estão quase tão baratos quanto os movidos a gasolina, em média. E estão vendendo ainda mais rápido, segundo a Cox Automotive, uma empresa de serviços e tecnologia.
As vendas de EVs usados até junho deste ano aumentaram 34% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o mercado de novos cresceu só marginalmente.
“Era apenas uma questão de tempo até que as pessoas começassem a confiar nos EVs usados o suficiente para dar o salto, e isso teria um efeito em cadeia”, disse Liz Najman, diretora de inteligência de mercado da Recurrent, que fornece estimativas de autonomia e outros dados sobre EVs para concessionárias e consumidores.
O que está por trás das vendas de usados
Diversos fatores estão alimentando o interesse pelos EVs usados. Em primeiro lugar, há finalmente bastante oferta, já que muitos contratos de leasing de três anos feitos em 2022 estão vencendo. Esse foi o ano em que vários modelos elétricos foram lançados no mercado, incluindo BMW i4, Cadillac Lyric, Ford F-150 Lightning e Toyota bZ4X.
Enquanto isso, os preços dos EVs usados vêm caindo constantemente, resultado da chegada de modelos mais populares (não só de luxo) e das altas taxas de depreciação. Os veículos elétricos perdem valor rapidamente, em grande parte porque os consumidores esperam que a tecnologia avance rápido.
Dado o ritmo recente das vendas, o estoque atual de EVs usados no mercado deve se esgotar em 36 dias, em comparação com 42 dias para os carros a combustão, segundo a Cox.
Os preços relativamente baixos “normalizaram os EVs para pessoas que talvez nem soubessem que eram uma opção”, disse Najman, “ou achavam que eram apenas brinquedos para ricos.”
Gasolina perdeu a vantagem
Assim como os novos, os usados também estão perdendo créditos federais de até US$ 4.000. Mas os preços dos seminovos já estão equiparados a outras opções. Em agosto, o valor médio de um elétrico usado foi de US$ 34.700, praticamente o mesmo de carros e caminhonetes a gasolina, segundo a Cox Automotive. Além disso, os EVs tinham em média apenas dois a três anos de uso, enquanto os modelos a combustão tinham cerca de seis ou sete anos.
Há ainda indícios de que os elétricos podem se mostrar mais confiáveis ao longo do tempo do que os movidos a gasolina. Sem radiadores, velas de ignição ou óleo, eles exigem pouca manutenção programada. Enquanto isso, as baterias estão se mostrando mais duráveis do que o esperado e, nos EUA, geralmente contam com garantia de pelo menos oito anos ou 160.000 km.
Um EV com três anos de uso, por exemplo, já não representa grande desvantagem, segundo Najman, da Recurrent. Ele provavelmente ainda tem boa autonomia, carrega rápido e vem equipado com itens como tela sensível ao toque grande e climatização mais eficiente. “São carros modernos que têm todos os recursos que você poderia querer”, disse ela.
Manutenção do elétrico é mais barata
Para algumas marcas, como Chevrolet, Subaru e Toyota, um modelo elétrico usado agora é mais barato do que o equivalente a gasolina.
Considere um Toyota Rav4 de dois anos. O popular SUV a combustão está sendo vendido por US$ 31.100, em média, nos EUA, enquanto um Toyota bZ4X elétrico do mesmo ano custa US$ 6.600 a menos, segundo o site CarEdge.com, uma plataforma com IA que ajuda consumidores a negociar com concessionárias.
Ambos oferecem bastante espaço de carga e tração nas quatro rodas. Porém, o Toyota elétrico acelera mais rápido, tem uma tela maior e, ao contrário do Rav4, não precisará de troca do líquido de arrefecimento ou inspeção da correia após 60.000 milhas.
Ganho de confiança
Além dos preços, há também um efeito de rede sutil impulsionando o mercado, segundo Justin Fischer, analista da CarEdge.com. A cada novo adepto de um carro elétrico, há um círculo de familiares, amigos e vizinhos que passam a se familiarizar com a tecnologia.
Fischer, que mora em uma pequena cidade conservadora da Virgínia Ocidental e dirige um Hyundai elétrico, testemunhou esse efeito de perto, quando vizinhos puxam conversa com ele no estacionamento do supermercado. “Tem sido chocante ver como as pessoas estão abertas aos EVs na América rural”, disse. “E as principais preocupações que ouço nunca têm a ver com política. São sobre acesso a pontos de recarga e o que acontece se a bateria acabar.”
O momento, no entanto, pode ser passageiro. Najman, da Recurrent, suspeita que a depreciação dos EVs vai se estabilizar, à medida que motoristas percebam que esses modelos continuam duráveis e relevantes mesmo após alguns anos.
Ainda assim, a onda de veículos usados só está crescendo. A Recurrent espera que outros 240.000 EVs saiam de contratos de leasing de três anos no próximo ano. E, em breve, os americanos estarão comprando mais elétricos usados do que novos, como já acontece há muito tempo com os carros a combustão.
Esse será um ponto de virada importante que vai impulsionar ainda mais a adoção dos EVs. Os novos compradores deixarão de se preocupar tanto com a possibilidade de revender seu carro futuramente.