Andy Jassy
Andy Jassy, CEO da Amazon, durante evento da AWS. Foto: Noah Berger/Getty Images

Andy Jassy, CEO da Amazon, quer menos caciques em sua empresa. Ele acaba de terminar um processo de enxugamento gerencial. A ideia foi aumentar a proporção de funcionários por manager em 15%. Significa ter uma empresa com menos heads disso e daquilo e mais arms – gente que põe a mão na massa.

Mais do isso: uma empresa com menos entraves. “Estamos comprometidos em nos livrar da burocracia”, anunciou ele em uma reunião a portas fechadas na terça passada. O encontro foi gravado secretamente e a Business Insider teve acesso ao áudio.

Quando deu início à reestruturação, em setembro, ele criou um canal específico e estimulou os funcionários a “denunciar” processos internos que eles considerassem desnecessários, contraproducentes. Seis meses depois, Andy disse na reunião que recebeu mais de mil mensagens – e que elas ajudaram a determinar 375 ajustes.

Fato é que a Amazon, no que tange à quantidade de funcionários, é praticamente uma “startup que virou estatal”, vamos dizer assim. Para dar uma ideia: a Saudi Aramco, maior petroleira do mundo, tem 70 mil empregados. A Amazon tem isso só de diretores, gerentes e supervisores.

São 72,4 mil managers de algum nível para 1,05 milhão de funcionários (números de 2023, os mais recentes). Em 2019, eram 539 mil. Um crescimento de quase 100%. Nesse meio tempo, porém, a quantidade de heads de alguma coisa aumentou de 28,1 mil para 72,4 mil. 157%.

Um pouco mais de matemática. Em 2019, havia um diretor/gerente/supervisor para cada 18 analistas. Em 2023, era um para cada 13.

Essa inflação gerencial reflete uma característica onipresente no mundo corporativo: a ideia de que você só vira alguém na vida se passa a gerenciar pessoas. Premiar os melhores funcionários tende a ser transformá-los em líderes, o que faz inchar o número de chefes com o tempo.

Andy, então, pretende cortar essa tendência pela raiz, mexendo na parte mais sensível da coisa toda: a ambição dos funcionários. “O segredo para subir na Amazon não é acumulando um time gigante e um feudo”, ele disse na reunião gravada. “Não há recompensa em ter um time grande”. Ou seja, passou a advogar pela carreira em Y – aquela onde há futuro financeira para quem não assume equipes.

Jassy seguiu desenhando sua visão para a empresa no encontro. “Nem todo projeto novo precisa ter 50 ou mais pessoas no time”, afirmou, lembrando que os produtos mais bem sucedidos da AWS, o prolífico serviço de nuvem da Amazon, começaram com times de uma dúzia de funcionários. Jesse fundou a AWS.

E está à frente da Amazon desde 2021. Desde então, ele vem operando cortes (daí seu apelido interno, “Andy Mãos-de-Tesoura”). O número total de funcionários subiu só até o ano de sua entrada, quando chegou a 1,12 milhão de pessoas. A quantidade atual, 1,05 milhão, é 6,3% menor que o auge. Mas a quantidade de chefes, em todos os níveis, caiu bem menos. Só 0,3%.

De novo: isso até 2023. A Amazon ainda não divulgou as estatísticas pós-reforma. Mas tudo indica que elas devem mostrar um quadro um pouco menor de heads.

60 subordinados diretos

A Amazon não é a primeira gigante da tecnologia a abraçar a ideia de que menos é mais, no que toca a quantidade de líderes intermediários. Jensen Huang, CEO da Nvidia, se diz alérgico a hierarquias.

Ele tem 60 subordinados diretos, que se reportam diretamente a ele. Huang já disse que sabe que a decisão não é convencional, mas acredita que é melhor assim e pronto.

“A informação é o que realmente importa. Sua contribuição ao trabalho não deveria ser baseada no acesso privilegiado à informação. Por isso, não faço reuniões individuais. Praticamente tudo o que eu digo eu digo para todo mundo ao mesmo tempo”, explicou o executivo.

Ele arremata: “Nossa empresa simplesmente tem desempenho melhor porque está todo mundo alinhado, todo mundo informado do que está acontecendo.”

Jensen Huang Photographer: Annabelle Chih/Bloomberg
Jensen Huang. Foto: Annabelle Chih/Bloomberg