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CEO da Espaçolaser conta o que levou a empresa a recomprar franquias após IPO

Companhia levantou R$ 2,6 bilhões em abertura de capital em fevereiro e usou parte dos recursos para adquirir unidades de franqueados.

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Com um plano de expansão acelerado e 92 novas lojas inauguradas (próprias e franquias) desde seu IPO em fevereiro de 2021, a rede de depilação a laser Espaçolaser (ESPA3) divide opiniões entre analistas. Alguns estão convictos de seu crescimento e acreditam que a companhia pode até dobrar de tamanho em três anos, enquanto outros preferem vê-la executar seu plano antes de recomendar a compra da ação.

Existe um ponto que gera controvérsia neste formato de crescimento: a recompra de franquias que a companhia executou após levantar recursos na bolsa brasileira.

Antes do IPO, a Espaçolaser tinha um total de 197 franquias. Destas, foram recompradas 100 franquias com uma boa parte dos recursos da oferta de ações, que movimentou R$ 2,64 bilhões.

Sete meses após o IPO, o número de franquias já soma 115, contando os novos contratos. Mas o que levou a empresa a destinar boa parte dos recursos de seu IPO para recomprar suas franquias? E por que isso aparentemente foi rentável para o negócio?

Em entrevista ao InvestNews, o CEO da EspaçoLaser, Paulo Morais explica o motivo estratégico por trás desta recompra, os planos da companhia para consolidar a liderança e esclarece tudo o que o investidor precisa ter em mente antes de optar pela ação.

InvestNews – Em seu IPO, a Espaçolaser movimentou R$ 2,64 bilhões. Como estes recursos foram utilizados até agora?

Paulo Morais – Uma parte dos R$ 2,6 bilhões captados foi destinada para fazer a consolidação da sociedade, porque quando montamos os nossos negócios, muitos sócios minoritários foram surgindo na companhia, então existiam diversos CNPJs.

A Espaçolaser precisava consolidar a operação, então fizemos a compra da participação acionária destes sócios. Porque à medida que consolido a operação, não preciso ter uma unanimidade gigante. Criamos eficiência para a operação, então parte dos recursos foi destinada para esse propósito.

Para você entender a alegria, em uma reunião da diretoria comemorei que hoje encerramos 20 contas correntes, que não precisaremos mais ter.

Outra parte dos recursos do IPO, foi destinada para aquisição de franquias. Esse era um objetivo que estava no nosso plano, inicialmente de recomprar 78 franquias, mas acabamos recomprando mais, um total de 100. Tudo isso com o intuito de trazer valor para a companhia e olhar novas áreas de expansão para o Espaçolaser.

Porque, à medida que eu compro franquias, além de estar comprando uma loja, consigo visualizar aquela região, as oportunidades de expansão que ela me oferece, então quando fizemos esse movimento vimos oportunidades adicionais de possíveis aquisições.

IN$ – Qual é a estratégia por trás de recomprar franquias? No mercado, vemos o efeito contrário, empresas vendendo franquias e cobrando royalties.

Paulo Morais – A gente também vende franquias, não deixamos de abrir franquias que por sinal tiveram um crescimento importante em 2021.

Mas nossa recompra de franquias fez sentido porque buscamos capturar valor. Se comparamos o que a Espaçolaser cobra de royalties mensais dos franqueados, faz muito mais sentido adquirir a franquia, operar diretamente a loja e ter uma margem de lucro maior do que simplesmente cobrar royalties.

Mas por que ainda temos franquias? Porque o Brasil é um país de dimensões continentais. Tem cidades que por questões logísticas você precisa pegar um avião, fazer 3 horas de voo, mais 2 horas de carro e ainda assim nem chega na cidade onde está a loja.

Nessas situações faz total sentido que o franqueado seja o operador, porque a Espaçolaser perderia muita eficiência para tentar operar desta forma.

Apesar de atualmente nossa rede estar com 83% de lojas próprias, as franquias ainda têm uma importância grande para o Espaçolaser por causa dessa questão, principalmente em cidades onde a logística é um tema sensível e faz todo sentido ter um franqueado operando. Ele vive na cidade, ele transpira o negócio.

IN$ – Quanto dinheiro sobrou do IPO e como pretendem utilizar este recurso?

Paulo Morais – Os recursos do IPO foram utilizados integralmente e agora faremos uma emissão de dívida para levantar mais capital e fortalecer a nossa expansão.

Recentemente informamos ao mercado que faremos uma emissão de debêntures de R$ 250 milhões. Muitas empresas listadas na bolsa, geralmente fazem follow-on, mas nós vamos emitir títulos de dívida, porque nosso endividamento é baixo e faz todo sentido para a empresa.

Com esse recurso vamos adquirir e abrir mais lojas. Temos um pipeline de expansão orgânica muito acelerado e vamos executar esse movimento. Posso afirmar que hoje a Espaçolaser está capitalizada e tem recursos para tocar esse projeto de crescimento, ou até fazer algumas aquisições que façam sentido para nós.

 IN$ – Pode explicar um pouco esse histórico de expansão? Como chegaram no IPO e como estão agora?

Paulo Morais- A empresa começou em 2004 com duas lojas, que até 2015 se tornaram 40. A partir de 2015, com a nossa sociedade com José Carlos Semenzato e a Xuxa iniciamos o processo de expansão de franquias, que naquele ano foram 120.

Então quando chegamos para abrir capital, a Espaçolaser tinha uma estrutura de 572 lojas, em todos os estados brasileiros e o Distrito Federal, além da Argentina e Colômbia.

Eram 375 lojas próprias, 197 franquias e 7 lojas internacionais, destas 6 na Argentina e 1 na Colômbia.

Desde a nossa estreia na bolsa, em fevereiro de 2021, até agora a operação saltou para 667 lojas em todos os estados brasileiros e o Distrito Federal, além de Argentina, Colômbia e Chile.

Temos 552 lojas próprias, 115 franquias e 25 lojas no exterior, destas 10 na Argentina, 3 na Colômbia e 12 no Chile.

Então desde nosso IPO a gente já abriu 92 lojas, entre próprias e franquias, e até dezembro temos a meta de totalizar 138 lojas próprias e 35 franquias.

Nosso foco de expansão nos próximos três anos é nacional, há um grande trabalho a ser feito no Brasil, fazendo adensamento e marcando presença em todas as cidades.

Mas também vamos expandir para América Latina, recentemente anunciamos a abertura de uma franquia no Paraguai e outros países estão em estudo. A meta é que até 2024, a proporção do nosso negócio seja 80% lojas próprias e 20% franquias.

IN$ – Recentemente vocês promoveram Barbara Fortes, executiva com 20 anos de mercado que atuou em marcas como Natura, L’Oréal e L’Occitane, para liderar uma nova unidade de estratégia e novos negócios. O que esperar dessa unidade?

Paulo Morais – A ideia desta nova unidade é a Espaçolaser olhar para outras áreas da estética, entre elas o tratamento facial. Então o Estudioface faz parte desta tese, é um braço da companhia destinado a acelerar a expansão no tratamento facial.

Queremos democratizar serviços como Botox, preenchedores faciais, preenchimento labial, harmonização facial, fios de sustentação, por meio desta unidade. Da mesma forma que no passado conseguimos democratizar a depilação a laser para as classes B, C e D.

Essa democratização não necessariamente ocorre por um ticket médio menor e sim oferecendo condições ao consumidor de parcelar ou adquirir estes pacotes.

Essa é a proposta desta nova unidade de negócios. Ela foi modelada há 3 anos, mas foi só agora que entendemos que chegou a hora de fazer a expansão desta e foi por isso que colocamos Barbara Fortes nessa posição.

O Estudioface tem atualmente 13 lojas, mas nosso horizonte de expansão tem metas para 5 anos.

IN$ – Vocês anunciaram recentemente o pagamento de R$ 11,5 milhões em dividendos e R$ 8,5 milhões em juros sobre capital próprio aos acionistas. É uma política que a companhia pretende adotar? Ser uma empresa de crescimento, mas que também remunera investidores?

Paulo Morais – Nós temos aprovado pelo conselho uma política de distribuição, somos uma companhia que segue em crescimento acelerado e quando há resultados, acreditamos que faz sentido remunerar os nossos investidores.

Fizemos isso agora, anunciamos a distribuição de proventos, e a ideia é manter sempre uma parcela dos recursos para reinvestir na empresa e outra para distribuir dividendos para os acionistas.

Mas não distribuímos 25% do nosso lucro, estamos distribuindo bem menos até a Espaçolaser chegar a um nível estratégico de operação. Entendemos que faz sentido remunerar os acionistas, porém não no patamar máximo.

Com o crescimento da empresa isso pode mudar.

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