O CEO da Ford Motor, Jim Farley, viajará a Washington nesta quarta-feira para alertar membros do Congresso dos Estados Unidos sobre os impactos negativos das tarifas de 25% propostas pelo ex-presidente Donald Trump sobre o Canadá e o México. Segundo Farley, a medida “abriria um buraco” na indústria automotiva americana.

Em declaração na terça-feira, Farley afirmou que a imposição dessas tarifas, cujo prazo foi adiado por Trump na semana passada, teria um efeito “devastador” para os fabricantes de automóveis dos EUA. Além disso, segundo o executivo, a medida beneficiaria concorrentes asiáticos e europeus que não enfrentariam as mesmas taxas sobre veículos importados de suas regiões de origem.

“O presidente Trump tem falado muito sobre fortalecer a indústria automotiva dos EUA e trazer mais produção para o país”, disse Farley durante uma conferência do setor organizada pela Wolfe Research, em Nova York. “Até agora, o que estamos vendo é muito custo e muita confusão.”

Farley tem sido um dos líderes mais incisivos da indústria automobilística americana ao criticar os impactos de tarifas elevadas. De acordo com a consultoria AlixPartners, essas tarifas poderiam adicionar US$ 60 bilhões em custos ao setor, sendo que grande parte desse aumento seria repassada aos consumidores. Analistas da Wolfe Research estimam que o preço de um veículo novo poderia subir cerca de US$ 3.000.

“Sendo bem realista, no longo prazo, uma tarifa de 25% sobre importações do México e do Canadá causaria um impacto na indústria automobilística americana que nunca vimos antes”, alertou Farley.

Risco de perda de empregos e impacto econômico

Segundo um relatório do Instituto Brookings, divulgado em 3 de fevereiro, o comércio entre EUA, México e Canadá sustenta mais de 17 milhões de empregos. Caso as tarifas de 25% sejam implementadas, estima-se que mais de 177 mil postos de trabalho sejam perdidos nos Estados Unidos. O estudo também aponta que as exportações americanas de veículos cairiam 25% para o Canadá e 23% para o México.

Farley pretende detalhar esses riscos em reuniões com congressistas ao longo da semana. Esta será sua segunda viagem a Washington em três semanas. Além das tarifas, ele também alertará sobre o perigo de desmantelar a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), implementada pelo ex-presidente Joe Biden. A legislação concedeu subsídios federais para a construção de fábricas de veículos elétricos e baterias nos EUA, um setor no qual a Ford já investiu bilhões em estados como Tennessee, Ohio, Michigan e Kentucky.

“Nós já investimos capital”, destacou Farley. “Muitos desses empregos estarão em risco se a IRA for revogada ou modificada de forma significativa.”

Incerteza no setor automotivo

Mike Manley, CEO da AutoNation Inc., uma das maiores redes de concessionárias dos EUA, afirmou em uma teleconferência com investidores na terça-feira que está analisando os impactos das tarifas implementadas por Trump em 2018 para prever os possíveis efeitos das novas medidas. Segundo ele, naquele período, houve um impacto nos preços, que, por sua vez, afetou o volume de vendas. No entanto, o impacto foi mitigado em um ou dois anos à medida que os fabricantes reduziram custos e criaram estratégias para estimular as vendas.

Farley também criticou o aumento da incerteza causada pelas novas tarifas impostas e ameaçadas por Trump, incluindo a taxa de 25% sobre aço e alumínio estrangeiros, anunciada nesta semana.

“Nós estamos nos desdobrando para gerenciar a empresa de maneira profissional”, afirmou. “Estamos fazendo muito trabalho pesado.”