A piora das expectativas com a economia brasileira em 2024 não desanimou os investidores de venture capital (VC) para 2025, diz Renato Ramalho, CEO da KPTL, gestora especializada em um dos nichos do VC: investir em startups em fase inicial (“early stage”).
A casa planeja mais 10 investimentos desse tipo ainda neste ano, focando em iniciativas ligadas à agenda climática, tecnologia para governos (“govtech“) e serviços.
“Se eu estivesse muito conectado com a agenda de curto prazo, realmente estaria no lugar errado como investidor de venture capital. Nossa agenda transcende os quatro anos de governo”, explica Ramalho. Ele destaca que, nos seus 10 fundos sob gestão, o ciclo costuma levar até 12 anos, entre captação e desinvestimento. “Se eu ficasse olhando apenas o momento, não estaríamos neste negócio.”
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Um dos principais objetivos da KPTL para 2025 será investir em startups voltadas para a agenda climática. Atualmente, das quase 70 empresas do portfólio da gestora, apenas 10 desenvolvem alguma atividade relacionada ao bioma da Amazônia.
“A agenda climática não era tão evidente 15 anos atrás, quando começamos. Agora é diferente. O Brasil tem tudo para ser a grande potência global, assim como aconteceu com a transformação do agronegócio nos últimos 40 anos”, afirma. Para o executivo, a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), prevista para novembro em Belém (PA), pode criar oportunidades para empresas do setor.
Entre os fundos da KPTL ainda em fase de investimento, dois se destacam na área ambiental: o Floresta e Clima, de R$ 200 milhões, criado em 2022 em parceria com a Vale; e o Amazonia Regenerate Acelerator Investment Fund, que recebeu R$ 55 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em junho passado para investir em projetos de bioeconomia na Amazônia – a meta desse veículo é atrair outros investidores internacionais para alcançar aproximadamente R$ 160 milhões em recursos.
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“Bioeconomia” significa desde produtos ligados ao mercado de carbono até soluções financeiras sustentáveis para comunidades amazônicas, incluindo iniciativas de logística e comercialização de produtos. Um exemplo recente foi o investimento na Ages Bioactive, empresa que desenvolve medicamentos anti-idade com base em moléculas descobertas na Amazônia. Ou seja: a manutenção do meio-ambiente faz parte parte do negócio.
“É um ativo de biotecnologia dentro de uma agenda climática. Temos tudo para fazer dos nossos biomas uma fonte de riqueza importante para o país”, acrescenta Ramalho.
O venture capital respira
Criada em 2019 a partir da fusão das gestoras A5 Capital e Inseed, a KPTL (pronuncia-se “capital”, em inglês) administra mais de R$ 1 bilhão. A gestora costuma investir entre R$ 2 milhões e R$ 7 milhões para adquirir fatias de empresas iniciantes. Em seu portfólio, há startups conhecidas, como a Mereo, de RH, e a Agrotools, de soluções para o agronegócio.
O mercado de venture capital está mais frio desde o auge, em 2021, devido ao aumento global das taxas de juros – que naturalmente reduz o interesse por investimentos de maior risco, como o VC. Ainda assim, a KPTL conseguiu vender três participações no fim de 2024.
A transação mais relevante foi a venda da VarejoOnline, desenvolvedora de sistemas para pequenos comércios, para a Totvs, por R$ 49 milhões. A Augen, especializada em tratamento de água, foi adquirida pela GHT4, escritório de gestão patrimonial (“family office“) do empresário Laércio Cosentino, por R$ 48 milhões. A terceira operação foi a Akmey, do setor têxtil, revendida aos fundadores. O retorno obtido pela KPTL nessas operações não foi divulgado.
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A abertura dessa janela para desinvestimentos reflete uma tímida recuperação do setor de venture capital no país. De acordo com dados da plataforma Distrito, as startups brasileiras captaram US$ 1,9 bilhão entre janeiro e novembro de 2024, superando em 5,5% todo o ano de 2023. Embora ainda distante do recorde de US$ 9,8 bilhões alcançado em 2021, o número já indica uma reversão após dois anos de queda acentuada.
Para 2025, a KPTL planeja equilibrar novos investimentos e vendas. A ideia é desinvestir de 10 startups e investir em outra dezena. O processo seletivo é rigoroso e competitivo, diz o CEO. Segundo Ramalho, a gestora analisa cerca de 2 mil empresas por ano. O processo de seleção prioriza três aspectos: a qualidade da inovação que a empresa propõe, o potencial do produto no mercado e o perfil dos profissionais que fazem parte da startup.