Mesmo com a valorização renovada da X Holdings Corp. de Elon Musk, a rede social ainda enfrenta um alto endividamento, e sua melhora financeira se deve, em grande parte, a ajustes contábeis significativos e ao medo dos investidores de perder uma oportunidade.
A empresa está em negociações com investidores para uma nova rodada de captação de capital, que a colocaria de volta à avaliação de US$ 44 bilhões que tinha em 2022, quando Musk adquiriu a plataforma, então chamada de Twitter, segundo a Bloomberg reportou nesta quarta-feira (20). O entusiasmo em torno do X, que permitiu que seus credores encontrassem rapidamente compradores para mais de US$ 11 bilhões de sua dívida em poucas semanas, representa uma mudança drástica na percepção de Wall Street sobre a empresa em um passado recente.
No entanto, esse otimismo é sustentado por dados financeiros que fogem dos padrões contábeis tradicionais adotados pela maioria das grandes empresas, segundo pessoas familiarizadas com os números compartilhados recentemente com investidores.
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Os dados incluem receitas provenientes de “partes relacionadas” fora do núcleo da plataforma de mídia social do X e excluem despesas de reestruturação associadas às demissões em larga escala, bem como investimentos em projetos como a iniciativa de inteligência artificial de Musk, a xAI Corp.
Esses cálculos mostram que o X registrou cerca de US$ 2,6 bilhões em receita líquida total no ano passado, bem abaixo dos US$ 5,1 bilhões que o Twitter gerou em 2021, antes dos ajustes e antes da aquisição por Musk. O lucro ajustado de aproximadamente US$ 1,4 bilhão compartilhado pela empresa representa uma grande melhora em relação aos prejuízos registrados pelo Twitter antes da gestão de Musk. O lucro ajustado foi calculado com base em um indicador conhecido no EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Os números de 2024 não foram auditados, mas os de 2023 foram, segundo uma das fontes. Nenhum deles, no entanto, atende aos princípios contábeis geralmente aceitos (GAAP), padrão exigido pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) para empresas de capital aberto.
Um dos detalhes analisados foi a participação do X na xAI, segundo algumas fontes. O X recebeu US$ 65 milhões em receita da xAI no último trimestre devido a um contrato de arrendamento, afirmaram. O X comprou chips de processamento de alto custo para a xAI, o que lhe garantiu uma participação na empresa e resultou nesses pagamentos de arrendamento. O X também recebe receitas da xAI relacionadas a infraestrutura. No total, essa receita superou US$ 200 milhões, segundo as fontes.
O projeto de inteligência artificial de Musk lançou recentemente seu modelo atualizado Grok-3, uma versão de chatbot projetada para competir com a OpenAI, e está negociando um acordo com a Dell Technologies para servidores. A xAI está em discussão para levantar cerca de US$ 10 bilhões em uma rodada de financiamento que pode avaliá-la em aproximadamente US$ 75 bilhões.
O X tinha cerca de US$ 400 milhões em caixa recentemente, um contraste gritante com os US$ 1,4 bilhão no momento da aquisição por Musk. Parte dessa redução se deve ao investimento nos chips da xAI.
Representantes do X não responderam a pedidos de comentário.
Mesmo sob os cálculos incomuns do X, sua dívida era aproximadamente nove vezes maior do que seu lucro ajustado, bem acima do limite de seis vezes que reguladores bancários consideram arriscado.
“A falta de transparência mina a confiabilidade das informações financeiras das quais os investidores dependem para tomar decisões informadas”, disse David Hamilton, diretor da Moody’s Analytics. “Valorizações baseadas em contabilidade não padronizada podem criar um quadro excessivamente otimista da saúde financeira da empresa, o que, da perspectiva de um investidor, pode gerar preocupação sobre a compensação adequada pelo risco assumido.”
As receitas tradicionais de publicidade e assinaturas do X não foram detalhadas, mas bancos que comercializam a dívida da empresa destacaram o retorno de anunciantes importantes, incluindo Amazon, Apple, Kraft Heinz e marcas de automóveis da Stellantis, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
Todos esses fatores levaram a uma mudança drástica na percepção do X, cuja ação, há poucos meses, era vista como 72% menos valiosa e cuja dívida os bancos não conseguiam vender. A proximidade de Musk com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, foi um fator determinante nessa reviravolta, impulsionando o otimismo em torno do império de negócios do bilionário, incluindo o X.
Alguns investidores que compraram dívida do X explicaram sua decisão da seguinte forma: os anunciantes parecem estar voltando, as finanças da empresa estão se estabilizando com o aumento da receita de assinaturas, o X tem uma participação na xAI que pode se tornar valiosa e, mesmo desconsiderando tudo isso, há um elemento intangível do valor de Musk que não pode ser ignorado. O “medo de perder” uma oportunidade com Musk superou as preocupações habituais dos investidores de crédito, disseram.
Alguns anunciantes parecem ter passado por uma mudança semelhante na percepção sobre Musk e o X.
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As promessas iniciais do bilionário de incentivar mais “liberdade de expressão” afastaram dezenas de grandes anunciantes, que temiam que suas marcas fossem associadas a postagens polêmicas na plataforma. Os próprios posts e comportamentos de Musk — incluindo dizer aos anunciantes para “irem se f*” — ajudaram a mantê-los afastados.
Agora, porém, esses mesmos anunciantes estão sob pressão para voltar ao X. Musk e sua rede social processaram várias marcas que retiraram publicidade, argumentando que suas decisões foram anticompetitivas.
A ameaça de litígio — e o papel de consultor de Musk para Trump — tem sido um tópico de conversa entre alguns anunciantes enquanto decidem se devem retornar, de acordo com várias fontes da indústria de publicidade. Embora poucos acreditem que o produto ou as ofertas de publicidade do X tenham melhorado no último ano, os profissionais de marketing estão avaliando as possíveis desvantagens de ignorar o X e o que isso pode significar em termos de retaliação por parte de Musk.
Por exemplo, a Jeep, da Stellantis, que havia anunciado sua saída do X em 2022, voltou à plataforma, agora com um selo amarelo que a designa como uma conta comercial oficial. A empresa postou seu anúncio do Super Bowl, estrelado por Harrison Ford, em 9 de fevereiro, um dos momentos mais populares para as empresas anunciarem no X.
Representantes da Amazon e da Stellantis se recusaram a comentar, enquanto a Kraft Heinz não forneceu uma declaração. Um representante da Apple não respondeu a um pedido de comentário.