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CVM investiga ‘insider trading’ de fundos ligados a Tanure, apontam documentos
Órgão está investigando potenciais operações de mercado realizadas com informações não públicas de veículos de investimentos ligados ao investidor ativista durante o processo de aquisição da Alliar.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está investigando potencial ‘insider trading’, operações de mercado realizadas com informações não públicas, de veículos de investimentos ligados ao investidor ativista Nelson Tanure durante o processo de aquisição da empresa de laboratórios Alliar (AALR3), segundo documentos obtidos pela Reuters.
Tanure, mais conhecido pelas batalhas para tomada de controle em empresas de petróleo e telecomunicações, propôs em novembro a compra do controle da Alliar. O negócio foi finalmente anunciado em 14 de abril.
A CVM investiga vendas de ações feitas pelos fundos controlados por Tanure e se elas foram executadas com informações não públicas durante o processo de compra da Alliar. Representantes de Tanure afirmaram em comunicado à Reuters que o Fundo de Saude, fundo que agora controla a Alliar, e os advogados do investidor não foram notificados de nenhuma investigação de insider trading.
A investigação corre sob sigilo, sob o número 19957.009891/2021-21 na Superintendência de Relações com o Mercado, segundo documentos vistos pela Reuters, e estava ativa na metade do mês de maio.
Tanure foi bem sucedido nos últimos anos comprando empresas como a petrolífera PetroRio (PRIO3) e a construtora Gafisa (GFSA3), mas também foi multado por abuso de controle em companhia aberta pela CVM.
As ações da Alliar subiram 22,5% em 18 de novembro, quando uma nota num jornal informou que Tanure compraria a empresa pagando 20,50 reais por ação.
Entre 18 e 30 de novembro, quatro fundos controlados por Tanure, que já tinha uma participação de 29% na companhia, venderam 1,5 milhão de ações ordinárias da Alliar por R$ 25,465 milhões, segundo documentos da CVM, obtendo um preço médio 39% acima do fechamento do dia 17 de novembro e R$ 7 milhões a mais do que se houvessem vendido antes da notícia.
Em 22 de dezembro, a empresa anunciou que os acionistas poderiam optar por vender as ações aos veículos de Tanure em até dois anos, por meio de um contrato de derivativo. Como o negócio poderia demorar mais para fechar e não havia certeza sobre o total que seria comprado, houve dúvidas sobre a necessidade de uma oferta pública para os minoritários e as ações caíram.
Na análise da negociação, analistas da CVM alegam que os fundos tinham conhecimento do plano para o contrato de derivativo, porque eram uma parte na negociação, e sabiam que quando os derivativos viessem a público as ações cairiam.
No documento, o gerente da CVM Marco Antonio Papera Monteiro sugere o aprofundamento da análise para entender a “profundidade e extensão dos delitos, no entender deste analista, cometidos pelos reclamados”.
Representantes do investidor repetiram que não tinham conhecimento de nenhuma investigação. A CVM não comentou.
Em 14 de abril, a Alliar anunciou que a maior parte dos acionistas decidiu vender as ações imediatamente e os veículos de Tanure atingiram uma participação de 63,3%, obrigando a uma oferta pública aos minoritários.
Representantes de Tanure disseram em comunicado que o negócio foi fechado com sucesso e de forma transparente.
A compra da Alliar é o último negócio de Tanure, que vem adquirindo desde a década de 1990 jornais, estaleiros, participações em empresas de telefonia, como a Oi (OIBR3), além do controle da PetroRio e da Gafisa.
Tanure foi multado em 2019 pela CVM em 130 milhões de reais por abuso de controle no estaleiro Verolme, por transações que significaram a transferência de recursos do estaleiro para empresas ligadas ao empresário, segundo a CVM.
A multa foi reduzida em 85%, para R$ 16,2 milhões, depois de um recurso ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Neste caso, Tanure não foi impedido de trabalhar em empresas abertas, e hoje ocupa uma cadeira no conselho da Alliar.
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