Menos de dois meses após anunciarem um memorando de entendimento para uma possível fusão, Honda Motor Co. e Nissan Motor Co. colocaram o acordo em xeque. As divergências lançam dúvidas sobre a possibilidade, com a combinação de negócios, de surgimento do que seria um dos maiores fabricantes de automóveis do mundo.

As empresas emitiram comunicados separados nesta quarta-feira, afirmando que analisam diversas opções, incluindo a possibilidade de encerrar as negociações. A declaração foi uma resposta a uma reportagem do jornal japonês Nikkei, que afirmou que a Nissan pretende abandonar o acordo devido à falta de consenso entre as partes.

Caso as conversas fracassem, o impacto pode ser especialmente severo para a Nissan, que via na aliança com a Honda uma possível salvação. A montadora tem enfrentado dificuldades nos últimos anos, resultado de uma liderança instável e de um portfólio de produtos pouco competitivo. Atualmente, a Honda é avaliada em 7,92 trilhões de ienes (cerca de US$ 51,9 bilhões), mais de cinco vezes o valor de mercado da Nissan.

Divergências sobre o futuro da aliança

Honda e Nissan reiteraram que pretendem fazer um anúncio sobre os próximos passos de suas negociações até meados de fevereiro. Inicialmente, as empresas planejavam divulgar uma atualização até o final de janeiro, mas adiaram a decisão.

O desentendimento entre as montadoras se intensificou nesta semana, após reportagens sugerirem que a Honda cogitava adquirir a Nissan e torná-la uma subsidiária — a proposta teria sido recebida com forte resistência dentro da Nissan. O plano original, anunciado em 23 de dezembro, previa a criação de uma holding conjunta.

Desde o início das negociações, a Honda deixou claro que qualquer transação dependeria de uma reestruturação profunda da Nissan. Segundo a Bloomberg News, a Nissan já planeja reduzir a produção e cortar empregos, mas não pretende fechar fábricas.

Especialistas avaliam que as dificuldades para chegar a um consenso podem adiar ou até inviabilizar o acordo. “Vemos um alto risco de adiamento da fusão, pois pode ser difícil confirmar, dentro de seis meses, a recuperação financeira da Nissan — a condição estabelecida pela Honda para avançar com o processo”, escreveu o analista Kohei Takahashi, do UBS Group AG, em relatório.

Nissan em crise e desafios no mercado global

Os problemas financeiros da Nissan ficaram evidentes em novembro, quando a empresa reportou uma queda de 94% no lucro líquido do primeiro semestre fiscal. Poucas semanas depois, a Honda apresentou um plano para resgatar a montadora.

Uma eventual fusão poderia fortalecer ambas as empresas, especialmente no mercado dos Estados Unidos, onde a Toyota domina o segmento de híbridos, e na China, onde a crescente presença de veículos elétricos tem forçado fabricantes estrangeiros a reavaliar suas estratégias.

“Ambas as montadoras carecem de uma linha forte de veículos elétricos. Mesmo combinadas, ainda enfrentariam o desafio de construir um portfólio competitivo nesse segmento”, afirmou Vincent Sun, analista da Morningstar. Além disso, segundo ele, a Nissan teria que aceitar um papel secundário na nova empresa, o que poderia ser um fator complicador.

Atualmente, a Renault detém 36% da Nissan e, segundo fontes, enviou representantes ao Japão no fim de janeiro para discutir a transação e negociar um prêmio por sua participação. Em resposta às reportagens desta quarta-feira, a Renault declarou que “defenderá vigorosamente os interesses do grupo e de seus acionistas”.

Já a Mitsubishi Motors Corp., que chegou a ser cogitada como parte da aliança, indicou nesta semana que só tomará uma decisão final após Honda e Nissan definirem os termos do acordo ainda este mês.