Desse custo adicional vindo da tarifa de 10% imposta pelos Estados Unidos, 20% já foram sentidos no segundo trimestre. O restante deve ser diluído ao longo do segundo semestre.
A expectativa, disse Francisco Gomes Neto a analistas e jornalistas em teleconferência nesta manhã, é de que as negociações com as autoridades americanas levem a caminhos similares ao resultado das conversas entre os EUA e o Reino Unido ou, então, a União Europeia: com tarifa zero para a indústria aeronáutica.
A Embraer tem reforçado o discurso da interdependência da relação da empresa com os EUA. O país é seu principal mercado, especialmente para as aeronaves comerciais E1, com mais de 800 jatos voando pelas companhias aéreas regionais de lá e 180 pedidos confirmados, e pelos mais de 1000 jatos executivos.
A empresa também é uma importante compradora de fornecedores americanos, como a fabricante de motores General Electric. Os cálculos da companhia indicam que a balança comercial entre ela e os EUA deve ser favorável aos americanos em até US$ 8 bilhões em cinco anos.
A companhia também fez investimentos recentes da ordem de US$ 1 bilhão nas plantas da Flórida, onde monta os jatos executivos, e em Texas, onde mantém uma planta de serviços e suporte aos clientes.
Uma possibilidade repetida por Gomes Neto agora é investir numa fábrica para produzir os cargueiros KC900, que têm puxado as vendas do setor de Defesa, nos Estados Unidos. Nesse caso, segundo o CEO, o investimento seria de mais US$ 500 milhões, com a abertura de 2 mil postos de trabalhos. A empresa emprega cerca de 3 mil pessoas nos Estados Unidos diretamente, além de 10 mil indiretos. No Brasil, a companhia prevê investimentos de R$ 20 bilhões até 2030.
Trimestre de recordes, ações em alta
A Embraer teve seu segundo melhor trimestre em vendas na história. A carteira de pedidos cresceu 40% e bateu recorde de US$29,7 bilhões, fazendo par com o recorde de receita de R$10,3 bilhões (31% a mais do que um ano antes). No EBIT ajustado, a Embraer atingiu R$1,1 bilhão, com margem de 10,6% no trimestre, superando a margem de 9,2% no segundo trimestre de 2024.
Os números animaram o mercado, com as ações liderando as altas do Ibovespa na primeira hora do pregão, com alta de mais de 3%. Em Nova York, os recibos de ações também subiam fortemente.
Na última linha do balanço, a companhia reportou lucro de R$ 448,9 milhões, numa queda de 13,8% na comparação anual. O resultado foi impactado negativamente pela queima de caixa da Eve, que ainda não traz receitas e que deve realizar o primeiro voo do eVTOL em dezembro, e pela crise da Azul, sua principal cliente no Brasil.
Ponderando o bom momento operacional com o cenário macroeconômico mais complexo, a direção da fabricante manteve as projeções para 2025, tanto para receita quanto para margens e fluxo de caixa livre. A expectativa é de vender entre US$ 7 bilhões a US$ 7,5 bilhões, com uma margem Ebit entre 7,5% e 8,3% e um fluxo de caixa livre ajustado de pelo menos US$ 200 milhões.
Ainda assim, o CFO, Antonio Garcia, admite que a companhia se mantém mais cautelosa em relação ao avanço dos custos, que devem ficar mais altos do que o previsto anteriormente. “As margens estão confirmadas, mas achamos que a base de custos vai ser um pouco pior no segundo semestre por causa do impacto da tarifa de 10%, da inflação maior e da desvalorização do dólar.”