Poucos fora do mercado de infraestrutura sabem quem é a Equipav. Mas esse grupo familiar de São Paulo vai atravessar a próxima os próximos anos com um pacote de investimentos superior a R$ 80 bilhões em obras – acima do que nomes como Ecorodovias, BRK Ambiental, Iguá Saneamento e até a Motiva (ex-CCR) planejam.

Hoje, a Equipav controla a Aegea, líder do setor privado no saneamento básico, e a EPR, que conquistou seis concessões rodoviárias desde 2022, concentram o controle e o capital da família — um arranjo feito sob medida para disputar leilões e tocar obras de alta complexidade. Outra empresa do grupo é a Germina Brasil, voltada para projetos de agricultura irrigável.

Fundada há 65 anos, a Equipav passou por sua maior reinvenção nos últimos 15 anos: de construtora regional a plataforma com dois braços de infraestrutura intensiva em capital. No ano passado, o grupo faturou mais de R$ 16 bilhões, com lucro líquido de R$ 1,45 bilhão e mais de R$ 300 milhões em dividendos para as famílias Toledo e Vettorazzo, as controladoras da holding.

“Em 2010, eles estavam literalmente com a corda no pescoço. Usinas quebradas, bancos pressionando, situação muito delicada. Mas aguentaram seis meses de pressão intensa e saíram trabalhando”, diz uma fonte ouvida pelo InvestNews, que passou os últimos quatro meses ouvindo figuras próximas à companhia.

Do pavimento ao saneamento

O “Pav” no nome Equipav não é decorativo: a empresa nasceu em 1960, em Campinas (SP), como uma construtora especializada em pavimentação de estradas, fundada por um trio de famílias do agronegócio — Toledo, Vettorazzo e Tarallo — com histórico na produção de cana.

Ao longo das décadas, diversificou para a produção de concreto (Concrepav e Cauê) e grandes obras de infraestrutura, sempre com perfil discreto e atuação regional. A guinada começou mais forte para a infraestrutura começou em meados 2000, quando vendeu o negócio de cimento para o grupo Camargo Corrêa.

A partir disso, a Equipav se associou a outro grupo forte no agro, o Bertin, para criar a Cibe Participações, holding que ambicionava protagonismo em saneamento, rodovias e energia. A Cibe comprou concessões de água e esgoto e diversos lotes rodoviários.

O plano naufragou com a crise de 2008 e a implosão financeira do Bertin. O braço de energia travou por falta de financiamento, e a holding iniciou desinvestimentos para reduzir dívidas e reorganizar a operação. Em 2010, diferenças estratégicas e pressão financeira levaram à cisão.

No novo arranjo, a aliança com o Bertin e a família Tarallo foi desfeita. As famílias Toledo e Vettorazzo permaneceram como sócias, assumindo o núcleo de saneamento — embrião da Aegea — e a construtora original. O Bertin ficou com as concessões de rodovias da época, e a família Tarallo saiu da sociedade. Foi o fim da Cibe e o início da configuração atual da Equipav como holding de infraestrutura.

“A separação foi dolorosa, mas no fim beneficiou quem ficou. O Bertin estava ‘por cima’ naquele momento, mas depois quebrou. A Equipav ficou com a joia da coroa e isso abriu caminho para crescer”, lembra outra fonte.

Como é a organização da Equipav
Como é a organização da Equipav (Arte: Daniela Arbex)

Mais de uma década depois, as duas famílias seguem no comando. Sérgio de Moraes Toledo e José Carlos de Moraes Toledo representam o clã Toledo; do lado Vettorazzo, Luís Vital Vettorazzo e Ricardo Vettorazzo mantêm papel ativo na gestão e nas decisões estratégicas.

“São empresários familiares com boa capacidade de associação. Sabem trazer sócios estratégicos quando necessário, mas mantêm o controle. A liderança é acessível, você consegue falar direto com o Luiz [Vettorazzo] e o Sérgio [Toledo]”, diz uma pessoa próxima ao grupo.

É sob essa estrutura familiar que a Equipav construiu a plataforma que hoje controla duas das empresas mais intensivas em investimento do país.

Aegea: a potência do saneamento

Na Aegea, a expansão inicial nos anos 2010 foi conduzida por Hamilton Amadeo, peça central na profissionalização do grupo e na gestão das primeiras concessões; ele deixou a companhia em 2023. O comando passou a Radamés Casseb, executivo formado na própria Equipav, reforçando uma sucessão interna que preserva a cultura das famílias.

A saída de Amadeo não alterou o curso. Com o crescimento, a Equipav trouxe sócios de peso para financiar a expansão: a Itaúsa, da família Setúbal, uma das controladoras do Itaú, e o fundo soberano de Singapura (GIC).

Sob Casseb, a Aegea manteve a cadência que a transformou na líder do saneamento privado. Hoje, atende 33 milhões de pessoas em 766 cidades, em 15 estados, e administra contratos que somam R$ 45 bilhões em investimentos previstos até 2033.

Esses projetos colocam a Aegea no topo do ranking de investimentos do setor, à frente de concorrentes mais conhecidos como BRK e Iguá, e fazem do braço de saneamento da Equipav um dos maiores programas privados de obras em curso no país.

No segundo trimestre de 2025, a Aegea registrou lucro líquido de R$ 295,5 milhões (-8,7% ano contra ano). A receita operacional líquida cresceu 26,4%, para R$ 1,86 bilhão, impulsionada por novos contratos e reajustes tarifários. 

O Ebitda ajustado avançou 27,7%, para R$ 1,03 bilhão, com margem de 55,5%. A dívida líquida consolidada foi a R$ 16,4 bilhões, com alavancagem de 3,9x o Ebitda ajustado dos últimos 12 meses.

As rodovias da EPR

Se a Aegea é o braço consolidado do saneamento, a EPR — joint venture entre a Equipav e a gestora Perfin — é a aposta em estradas.

Criada em 2022, a EPR chegou aos holofotes de forma meteórica: em dois anos, venceu seis concessões e acumulou quase R$ 38 bilhões em investimentos contratados. A operação é comandada por José Carlos Cassaniga, executivo com longa trajetória no setor de concessões.

Os contratos incluem concessões federais e estaduais relevantes, como lotes no Paraná e os pacotes de Minas Gerais (incluindo a BR-040 entre Belo Horizonte e Juiz de Fora). Esses projetos colocam a EPR em pé de igualdade — e, em alguns casos, à frente — de grupos veteranos como Motiva (ex-CCR) e Ecorodovias em valor de obras previstas.

No 1º trimestre de 2025 (dados mais recentes), a EPR registrou lucro líquido de R$ 65,9 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 21,5 milhões de um ano antes. A receita operacional líquida somou R$ 1,02 bilhão (+78,4%), puxada pela entrada em operação de novas concessões e por reajustes de tarifas. 

O Ebitda ajustado cresceu 84,9%, para R$ 594,1 milhões, com margem de 58,3%. A dívida líquida ficou em R$ 8,5 bilhões, resultando em alavancagem de 3,5 vezes o Ebitda ajustado de 12 meses.

O momento certo

A Equipav acertou o timing: posicionou-se no saneamento quando o marco legal abriu o setor e entrou pesado em rodovias durante a retomada dos leilões federais.

Agora, com a carteira cheia, o desafio é executar os projetos e sustentar o ritmo de crescimento que trouxe o grupo das famílias Vettorazzo e Toledo até aqui. “Quem acompanha a trajetória deles sabe que têm apetite para novos negócios e resiliência. Passaram por momentos muito difíceis, mas prosperaram. Hoje estão colhendo o que plantaram”, conclui uma das fontes.

Procurada pelo InvestNews, a Equipav não concedeu entrevista.