O que começou como a história de um imigrante bem-sucedido no meio-oeste americano terminou em um dos maiores escândalos corporativos recentes dos EUA. Patrick James, empresário malaio radicado em Ohio, construiu um império de autopeças a partir da compra de pequenas fábricas — e o transformou em um conglomerado global de 26 mil funcionários e US$ 5 bilhões em receita anual.

Agora, a empresa que ele comandava, a First Brands Group, está em colapso. Mais de US$ 2 bilhões desapareceram de suas contas. Fundador e CEO, James está considerando deixar o cargo, em meio às repercussões do colapso repentino da companhia que abalaram Wall Street.

James está avaliando “abrir mão de seu cargo de CEO”, segundo afirmou seu porta-voz em comunicado enviado por e-mail. “Ele sempre colocou os interesses da First Brands Group acima dos seus próprios e está avaliando o melhor caminho a seguir para ajudar a maximizar o valor para seus clientes, fornecedores, funcionários e credores”, disse o representante em mensagem ao Financial Times.

A First Brands entrou com um pedido de Chapter 11 e admitiu que suas finanças estavam repletas de irregularidades, mostra reportagem do Wall Street Journal. O Departamento de Justiça abriu investigação, enquanto novos diretores e auditores forenses tentam rastrear um emaranhado de dívidas ocultas e possíveis duplicações de garantias. Segundo registros judiciais, a companhia pode ter usado os mesmos recebíveis mais de uma vez para levantar dinheiro com credores.

James era o único dono e CEO da First Brands — e conseguiu tomar mais de US$ 10 bilhões emprestados de grandes bancos como UBS e Jefferies. Grande parte desse capital foi captada fora do balanço, em operações de antecipação de recebíveis de clientes como a AutoZone. Quando os financiadores descobriram o tamanho da exposição, cortaram o crédito.

O advogado de James diz que o colapso foi resultado de “fatores macroeconômicos”, e nega irregularidades. Mas fontes próximas à investigação apontam um histórico de práticas financeiras controversas. Parceiros comerciais já haviam processado o executivo em diferentes ocasiões por omissões e supostas fraudes, e algumas dessas ações foram encerradas com acordos confidenciais.

Reservado e obsessivo com privacidade, James raramente aparecia em público e evitava até fotos. O escritório do CEO ficava no 53º andar de um arranha-céu em Cleveland, mas poucos funcionários o viam pessoalmente. Comunicava-se por e-mails e intermediários — entre eles o irmão, Ed James, que assinava boa parte dos contratos e deixou o cargo pouco antes da falência.

A trajetória de Patrick James começou em 1995, quando ele fundou a Janna Industries para comprar fábricas locais. Anos depois, surgiria a First Brands, dona de marcas conhecidas como Fram (filtros), Trico (palhetas) e Raybestos (freios). O modelo de crescimento via aquisições funcionou — até deixar a empresa afogada em dívidas.

O império desmoronou em 2025, quando a First Brands não conseguiu refinanciar cerca de US$ 6 bilhões em empréstimos. Investidores descobriram que a gestora Apollo, que já havia financiado parte do grupo, havia feito uma aposta contra a empresa por meio de derivativos de crédito. As tentativas de venda falharam e o caso chegou aos tribunais.

Agora, as autoridades tentam entender o tamanho real do rombo. Segundo documentos da Justiça, há pelo menos US$ 2 bilhões de dívidas sem lastro. James ainda não renunciou — continua como CEO e membro do conselho —, mas um advogado da empresa resumiu a situação em um e-mail aos credores:

“1 – Receberam os US$ 1,9 bilhão?
2 – Quanto há nas contas?
Resposta: 1 – Não sabemos.
2 – US$ 0.”