A frota brasileira de híbridos e elétricos já passou de meio milhão de unidades. 60% desses carros são chineses. E a fatia das marcas do país da Muralha segue crescendo. Se você olhar só para os elétricos e híbridos que foram vendidos neste ano, a porcentagem da China sobe para 75%

Tire os híbridos da jogada agora. Contabilize só os elétricos puros, que não têm motor a combustão. A proporção, aí, pula para 85%.

Até agora, tudo isso foi obra de basicamente duas montadoras chinesas: BYD e GWM. Mas esse capítulo da história da eletrificação no país está chegando ao final.

Porque o próximo capítulo terá várias outras montadoras da China. E ele está começando agora, enquanto você lê este texto. Estamos falando das recém-chegadas GAC, Geely, Zeekr, Jaecoo e Omoda.

Não chegam a ser cinco montadoras novas. Aqui: 

Zeekr X

Tem mais. Outra gigante chinesa, a SAIC, chega de carona num modelo da Chevrolet, o elétrico Spark. Ele nasceu na China, de uma joint venture da GM com a SAIC – e é vendido no Império do Meio com o nome de Baojun Yep.

No fim das contas, temos o seguinte: das dez maiores montadoras da China, seis já estão no Brasil. É o que vamos ver agora.

A ascensão do Jaecoo 7

Chegar é uma coisa, vender é outra. Quem teve mais sucesso até agora foi a Jaecoo. Ela chegou com um único modelo, o Jaecoo 7. Trata-se de um híbrido plug-in (PHEV) que começa em R$ 230 mil. Em agosto ele foi o 10º eletrificado mais vendido do país. 

Jaecoo 7

Na lista que contabiliza os elétricos, os híbridos plug-in (PHEV) e os híbridos plenos (HEV), ele é simplesmente o único que não é nem da BYD, nem da GWM, nem da Toyota (a rainha dos HEVs, com o Corolla Cross, líder nesse segmento). Veja aqui:

A briga do Jaecoo 7 é com os best-sellers entre os PHEVs: GWM Haval e BYD Song Plus – outros dois SUVs parrudos, na faixa dos duzentos-e-tantos mil. Afinando o microscópio para o segmento dos híbridos com tomada, dá para ver que o Jaecoo 7 chegou perto dos líderes. Lançado em abril, está com 8,6% do mercado. Fora BYD e GWM, é o best of the rest.

O nicho dos SUVs elétricos

Os híbridos plug-in são os eletrificados que mais vendem. Mas não é nessa seara que elas lutam. Surpreendentemente, o Jaecoo 7 é o único PHEV ali. 

Fora ele, as “novas marcas chinesas” estão trazendo outros 10 carros. Tem sedã (GAC Aion ES), hacht (GAC AION Y), esportivo e meio mihão de reais (Zeekr 001)… Normal. 

O que chama a atenção é o seguinte: metade deles faz parte de um segmento que estava sub-representado: SUVs puramente elétricos entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. 

Omoda E5

Até agora, esse nicho era ocupado pelo Volvo EX30 e pelo BYD Yuan (que começa em R$ 180 mil, mas chega a R$ 236 mil). Com a chegada das novas, temos hoje cinco modelos assim, ou seja, SUVs 100% elétricos. Veja aqui em ordem crescente de preço:

É esse nicho que a segunda onda chinesa tenta criar no Brasil. Não será simples. Quem segura as vendas dos 100% elétricos é o Dolphin Mini, que começa em R$ 120 mil (preço de Onix, HB20, ou seja, de carros de entrada). Ele responde sozinho por metade do mercado de elétricos puros.

Geely EX5

Tem a ver com a vocação dos 100% elétricos. Eles são ótimos como carros urbanos, mas ruins de estrada. Não por culpa deles, mas pela falta de estrutura de carregamento. Isso só existe de forma satisfatória na China mesmo. No início deste ano, eram 3,4 milhões de carregadores nas ruas e estradas deles. Nos EUA, que não são exatamente subdesenvolvidos, 210 mil. No Brasil, 12 mil. 

Por essas, os PHEVs reinam por aqui. Dá para usar como elétrico na cidade e como carro à combustão na estrada. A ver se Geely, Zeekr, Omoda e GAC encontrarão público para carros relativamente caros para os padrões brasileiros, mas que só são funcionais de fato dentro da cidade, ou em viagens curtas – ou seja, que nem sempre poderão ser o único carro de uma família. 

As vendas, de qualquer forma, mostram que SUVs talvez sejam o caminho no mercado dos 100% elétricos. Dolphin Mini e Dolphin normal seguem líderes absolutos. Mas o Yuan, o SUV da BYD, já ultrapassou o já “tradicional” GWM Ora, um hatch. 

GAC Aion V

E o fato é que, mesmo com poucos meses de mercado, os SUVs da Geely, da GAC e e da Omoda fizeram seu caminho até o top 10 dos puramente elétricos mais vendidos.

Mas o troféu “melhor dos demais”, aí, ficou com outro elemento da nova onda chinesa: o Chevrolet Spark, da SAIC-GM. São duas vantagens competitivas ali: ele é um SUV, ainda que compacto, e custa R$ 160 mil – não muito acima do Dolphin de entrada, que custa R$ 150 mil. 

Nisso, ele entrou para a lista de mais vendidos do seu segmento mesmo estando ainda em pré-venda. 

Mais: a GM anunciou na terça (8) que começará a montar o Spark no Brasil ainda este ano. A linha de montagem ficará na cidade de Horizonte, no Ceará, onde ficava a antiga fábrica da Troller.   

E vamos à lista: 

O mundo dos HEVs

Por último, a categoria dos híbridos sem tomada, os HEVs. Aqui o reino não é chinês. É japonês. A Toyota, inventora desse tipo de carro, tem quase metade do mercado. As novas chinesas trouxeram um único modelo dessa categoria, o GAC GS4.

GAC GS4

E, mesmo com a montadora tendo estreado no final de maio, seu representante (de R$ 190 mil), foi o quarto HEV mais vendido em agosto:

Uma amostra de que o mercado está aberto para novidades no mundo dos HEVs. Até porque essa é a categoria mais versátil entre os eletrificados, já que dispensa tomada e, ainda assim, traz um benefício do motor elétrico – economia severa de combustível. Que venham mais modelos.