A operação precisa ser notificada porque envolve empresas do mesmo setor econômico. O Seu Zé, como Lopes é conhecido, inclusive, mantém uma pequena rede de postos, a Rodobrás, com presença limitada no Centro-Oeste. De toda forma, o investidor só poderá exercer direitos políticos na companhia somente após o aval do órgão.
Embora apresentado como um investimento financeiro, o Infiniti JL é também o veículo controlador da Inpasa, maior produtora de etanol de milho do país e integrante do mesmo grupo econômico sob o comando de Seu Zé.
A presença simultânea na produção (Inpasa) com participação relevante na distribuição (Vibra) colocou o caso sob atenção do Cade. A Vibra tem a rede de postos com a bandeira Petrobras, a maior do Brasil. E uma negativa do órgão poderia obrigar Lopes a reduzir sua participação na Vibra para menos de 5%, deixando assim a condição de acionista relevante.
Olho do Cade
Nos últimos dias, o Cade decidiu aprofundar a instrução e enviou dois ofícios ao investidor. O órgão antitruste quer saber quais mecanismos serão adotados para evitar o compartilhamento de informações concorrencialmente sensíveis entre o grupo de Lopes e a Vibra, em especial dados de preços, volumes, planejamento comercial e negociações com distribuidoras e varejistas.
O regulador também pediu documentos adicionais sobre governança e eventuais barreiras informacionais. Nos documentos enviados ao Cade, o Fundo Infiniti JL sustenta que sua entrada na Vibra tem caráter “puramente financeiro” e que a participação não confere qualquer influência na gestão da companhia.

O veículo afirma que a Vibra é uma empresa de “capital pulverizado, sem acordo de acionistas ou bloco de controle” e que o fundo não dispõe de “direito de veto, quórum qualificado ou qualquer prerrogativa que gere presunção de controle”.
Em resposta aos questionamentos do órgão, o Infiniti JL também frisou que não terá acesso a informações estratégicas da distribuidora e que sua posição representa “apenas uma participação minoritária, sem qualquer aquisição de controle, seja unitário ou compartilhado”.
Avanço na Vibra
Pessoas próximas ao negócio relataram ao InvestNews que Seu Zé estaria aguardando o aval do Cade para formalizar a indicação de seu nome ao conselho de administração da distribuidora. Atualmente, o Infiniti JL detém 10,14% da Vibra, percentual que lhe daria condições de obter um assento. A autorização do órgão também poderia abrir espaço para que o empresário compre mais ações da companhia.
O estatuto social da Vibra não impõe vedações específicas para a eleição de conselheiros por investidores que atuem no setor de combustíveis e prevê apenas que o candidato não pode incorrer em “conflito de interesses”, sem especificar o que caracterizaria isso.
O principal limitador acionário é a poison pill. Qualquer acionista que atingir 25% do capital é obrigado a lançar uma oferta pública para adquirir 100% das ações da companhia, por um preço no mínimo igual à maior cotação dos últimos 18 meses, atualizada pela taxa DI e acrescida de um prêmio de 15%, além dos ajustes por proventos e eventos societários. É um mecanismo desenhado para tornar economicamente proibitiva qualquer tomada de controle não negociada.
Hoje, a Vibra é uma corporação, ou seja, sem um acionista controlador. Seu Zé tem hoje a maior posição da empresa, seguido pela gestora Dynamo (9,99%) e pelo investidor Ronaldo Cezar Coelho, por meio do fundo Samambaia, com 8,3%. BlackRock e Lazard completam o cap table, com cerca de 5% dos papéis cada.
Em ascensão
A Inpasa é hoje a maior produtora de etanol de milho do Brasil, mas sua história começa fora do país. Criada em 2007 no Paraguai – o nome é acrônimo de Industria Paraguaya de Alcoholes S.A. –, a companhia inaugurou só em 2019 sua primeira usina no Brasil, em Sinop (MT). Em 2024, registrou R$ 13,6 bilhões de receita, um avanço de 23% sobre o ano anterior; a Moody’s estima margem líquida de 18%, o que aponta para um lucro superior a R$ 2 bilhões.
O tamanho e a rentabilidade colocaram a empresa no centro das movimentações da indústria, inclusive das tratativas da Petrobras, que decidiu voltar ao mercado de etanol após mais de uma década fora. A estatal já afirmou que pretende retomar o modelo de joint ventures, com participações minoritárias, e, segundo a Bloomberg, existem negociações avançadas justamente com Inpasa e FS, as duas gigantes do etanol de milho.
