A empresária e mestre de torra Isabela Raposeiras anunciou neste mês que o Coffee Lab, sua premiada cafeteria-laboratório localizada em São Paulo, passará a adotar a escala 4×3 — quatro dias de trabalho e três dias de descanso. “Fazer essa escala 4×3 é uma alegria sem fim para a gente. Fiquei emocionada, de verdade. Poder folgar três dias na semana é indescritível”, declarou Raposeiras ao contar a novidade no Instagram da cafeteria.

A medida, que segue tendência já testada por grandes empresas de tecnologia e consultorias, rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais e dividiu opiniões entre empresários e trabalhadores do setor de serviços.

De acordo com Raposeiras, a decisão, que vale para a equipe de atendimento, foi motivada por uma tentativa de aumentar a qualidade de vida dos funcionários sem comprometer a produtividade do negócio.

“Nosso setor é exaustivo, com jornadas longas e repetitivas. O 4×3 é uma forma de buscar equilíbrio humano e operacional”, afirmou ela. A empresária destacou ainda que a carga horária semanal será mantida por meio de jornadas mais longas – 10 horas diárias – durante os quatro dias de trabalho.

O economista Leonardo Cadiñanos, que passou a trabalhar no formato 4×3 em dezembro do ano passado, ao ingressar na Awin, uma plataforma global de marketing de afiliados com sede em Londres, Inglaterra, é a favor da jornada, mas com ressalvas.

“Eu tive que me adaptar. A demanda do trabalho tem que se ajustar a uma semana de quatro dias. Parece que, no dia antes da folga, você tem que dar o sangue para garantir que nada vai deixar de ser feito. São quatro dias bem cheios. Mas obviamente prefiro isso a trabalhar cinco dias na semana. Porém, preciso ser muito mais organizado do que no modelo 5×2”, afirma Cadiñanos.

Como pontos positivos da nova jornada, o economista destaca a possibilidade de ter um fim de semana mais longo, caso a folga seja na segunda ou sexta, e maior liberdade na vida pessoal.

Escala 4×3: polêmica nas redes

Apesar de positiva para os trabalhadores, especialistas alertam para os desafios da aplicação da escala em setores que dependem de atendimento presencial, com a necessidade de um forte planejamento logístico que é difícil de escalar.

A adoção da escala 4×3 no Coffee Lab gerou críticas de seguidores da cafeteria, que questionaram se essa jornada seria viável para empreendimentos como padarias, mercados e pequenas lojas.

“É fácil fazer isso em empresas que podem cobrar mais caro pelo produto”, escreveu um seguidor no Instagram. Raposeiras rebateu: “Nem todo mundo precisa seguir o mesmo caminho, mas alguém precisa começar a trilhá-lo.”

Em meio à polêmica, a empresária fez uma live para explicar como viabilizou a escala 4×3 para seus funcionários.

O anúncio ocorre em um momento em que a discussão sobre modelos flexíveis de trabalho ganha fôlego no Brasil. Em 2024, um projeto de lei apresentado pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) para acabar com a escala de trabalho 6×1 no Brasil chegou a ser debatido na Câmara, mas não avançou.

A PEC foi protocolada, mas está parada na Câmara, aguardando despacho do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Há resistência no Congresso, com alguns parlamentares defendendo a manutenção da escala 6×1 ou a necessidade de alterações na proposta.