A companhia aérea Azul conseguiu aprovação do Tribunal dos Estados Unidos nesta quinta-feira (24) para financiamento DIP (Debtor-in-Possession) de US$ 1,6 bilhão. Os credores que concedem essa linha de crédito têm prioridade no pagamento dos passivos.

O empréstimo é separado em duas grandes partes: uma para o financiamento da companhia e suas operações e outra para a compra parte da dívida existente. Esse dinheiro deve entrar em até 48 horas para a Azul.

São cerca de US$ 200 milhões agora devem ajudar a companhia a manter seu fluxo de caixa e a operação enquanto está no processo de Chapter 11, processo na Justiça americana que funciona de maneira similar ao de recuperação judicial. E algo em torno de US$ 650 milhões para recomprar parte de sua dívida. A companhia já havia recebido US$ 250 milhões, numa parcela aprovada interinamente pelo juiz na primeira audiência do Chapter 11.

A Azul também protocolou o acordo previamente anunciado com a arrendadora de aeronaves AerCap. A empresa que aluga aviões para a Azul representa a maior parte de seu passivo de arrendamento: aproximadamente 60%.

A expectativa é que somente esse acordo resulte em mais de US$ 1 bilhão em economia na operação da frota da Azul, resultado de uma composição de diversos fatores, incluindo renegociação do valor do aluguel, depósitos de reserva de manutenção e cartas de crédito como garantia. A previsão é de que o acordo seja avaliado na próxima audiência do Tribunal, em 13 de agosto.

“O acordo com a AerCap era o grande avanço a ser feito”, diz Fabio Campos, vice-presidente Institucional e Corporativo da Azul. A companhia realizou uma coletiva de imprensa logo após a aprovação do financiamento na audiência.

De acordo com ele, as negociações com os demais lessores, jargão usado no setor aéreo para as empresas que alugam aeronaves, estão avançando. “O norte da negociação é qual é o melhor modelo de frota para a Azul, buscando a frota com melhor eficiência, tanto em manter nossa malha única quanto em sentido financeiro, na relação custo-benefício.”

O Tribunal também autorizou a rejeição de dois contratos de arrendamento de motores inativos, o que não impacta a frota, as rotas ou a capacidade de atendimento.

Próximos passos

A próxima audiência, de 13 de agosto, deve validar o acordo com a AerCap e acordos com outros arrendadores que possam chegar a uma conclusão até lá. Além das locadoras de aeronaves, OEMs (fabricantes de equipamentos originais) como Airbus, GE, Rolls Royce e Embraer (com pedidos firmes de E2) também estão sentando à mesa com a Azul, que têm aeronaves a receber ainda este ano.

Um dos marcos processuais mais importantes é o “Bar Date”, previsto para acontecer na primeira quinzena de setembro. Até lá, todos os credores da Azul podem registrar seus créditos junto à empresa. Com essa etapa concluída, a companhia acredita ser possível apresentar ainda na primeira metade de setembro seu business plan.

A apresentação desse plano no começo de setembro indica que a audiência de disclosure agreements deve ocorrer em algum momento em outubro. É nessa audiência em que todos os ativos e passivos e fluxos previstos com a aprovação do plano de reestruturação são detalhados a todos os credores. Com isso, a expectativa é de que a audiência de avaliação e de saída do Chapter 11 aconteça até o fim deste ano.

A Azul entrou com o pedido de Chapter 11 em 28 de maio deste ano. Em entrevistas John Rodgerson, CEO da Azul, tem afirmado que a companhia pretende concluir o processo até o início de 2026. Não é possível cravar, porém, que a expectativa da companhia se confirme. Antes de recorrer à RJ, a Azul negociou por duas vezes suas dívidas com seus principais credores: arrendadores e bondholders.

A Latam foi a primeira a entrar em recuperação judicial, ainda em 2020, num processo concluído apenas em 2022. A companhia nascida da fusão da chilena Lan e da brasileira TAM hoje opera com. baixa alavancagem e tem conseguido ganhar mercado, especialmente em meio às dificuldades mais recentes das concorrentes Azul e Gol. Em 2021, a Latam tinha 33% do mercado, a Gol, 31% e a Azul era dona de 33%. No primeiro trimestre deste ano, a Latam respondia por 40%, com Gol com 30% e Azul, outros 30%.

A Gol também saiu recentemente do seu processo de Chapter11. A companhia aérea brasileira recorreu à Justiça dos EUA em janeiro de 2024, num processo que durou cerca de 18 meses, superando as expectativas iniciais do comando da aérea. A Gol encerrou seu processo com alavancagem de 5,4 vezes e uma liquidez de aproximadamente US$ 900 milhões.

American Airlines e United como acionistas

Em paralelo a essas etapas processuais, a Azul continua focada em acordos financeiros e estratégicos cruciais. A empresa está finalizando os termos dos acordos com os financiadores do DIP, que funcionam como uma espécie de apólice. Isso significa que esses investidores –  que em sua maioria, que já faziam parte da estrutura de capital da Azul antes do Chapter 11 – garantirão ao menos US$ 650 milhões em ações da companhia. A maior parte da dívida da Azul será convertida em equity.

A Azul também está negociando os termos finais com as concorrentes American Airlines e United Airlines, para sua participação societária, com cada uma devendo injetar entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões na Azul.

Ao fim de todo o processo, a Azul planeja realizar uma oferta ao mercado de dívida, buscando termos mais favoráveis para as dívidas remanescentes em seu balanço, “aproveitando que a empresa sairá com um perfil de investimento muito melhor”, segundo Campos.

Demanda aquecida

Apesar das dificuldades financeiras, a Azul registrou crescimento no número de passageiros transportados. No 1º semestre, foram 15,68 milhões de passageiros, 8,4% a mais do que no mesmo período de 2024, segundo dados da Anac (Associação Nacional de Aviação Civil).

O número de assentos ofertados cresceu 6,5%, para 20,27 milhões, enquanto as decolagens aumentaram 0,83% no semestre, com cerca de 155 mil voos.