No segundo trimestre, o lucro líquido da C&A saltou 139% e chegou a R$ 200 milhões. E as ações, ao contrário do que os números poderiam sugerir, caíram: o papel recuou mais de 8%. “Uma reação exagerada”, avaliou um gestor com ações da empresa ouvido pelo InvestNews.

Na visão dele, o mercado criou uma expectativa tão elevada que nem mesmo o avanço de 17% nas vendas de vestuário em mesmas lojas (aquelas com mais de um ano de operação) foi suficiente para saciar o apetite de investidores de curto prazo.

Com uma valorização de mais de 130% no ano, a queda pode até ser uma porta de entrada, defende o CEO da companhia, Paulo Correa. “Quando você olha pros fundamentos do negócio, eu acho que é uma empresa que vem mostrando consecutivamente que vale a pena investir”, disse em entrevista ao InvestNews após a teleconferência de resultados da varejista.

Os números, de fato, mostram um ciclo de ganho de produtividade — refletidos, entre outros indicadores, na margem bruta de mercadorias. Desde o segundo trimestre de 2021, o indicador subiu mais de 10 pontos percentuais: passou de 46,1% para 56,3% agora, no segundo trimestre de 2025. 

“Isso vem de uma série de iniciativas que a gente vem fazendo com um olhar muito granular, loja a loja, categoria por categoria”, afirma Correa. Ele explica que a empresa testou diferentes sortimentos e formas de exposição de produtos, acompanhou conversão e reação dos consumidores e foi escalando o que funcionava. “Somando as diversas iniciativas que tomamos, se vê um impacto muito consistente, de aumento de venda por metro quadrado, o que traz esse aumento de produtividade do ativo em si.”

A expectativa é de que essa produtividade cresça ainda mais com o novo conceito de loja — dentro do plano estratégico batizado de Energia — e com uma nova estratégia logística que começa a ser implementada. A primeira loja será inaugurada em 22 de agosto no Shopping Center Norte. 

Além disso, a companhia começou a implantar hubs regionais que devem reduzir o tempo de reposição dos produtos nas lojas. O primeiro foi inaugurado em Porto Alegre. “A nossa ideia é ter pequenos centros de distribuição pelo país, com objetivo de ter produto mais rápido na loja. Em vez de o estoque ficar dentro das lojas, ele vai estar nesse distribuidor e vai sendo puxado à medida que cada loja vende”, explica o CEO.

A ideia é otimizar o giro. Ele explica: se o grupo de lojas de Manaus não vendeu tanto um vestido, e Belém vendeu tudo, é possível realocar antes de perder semanas de venda.

O avanço da margem, aliado ao crescimento de vendas e controle de custos, também abriu espaço para um novo ciclo de investimentos. Com alavancagem em queda — o índice de dívida líquida sobre EBITDA caiu para 0,3 vez —, a companhia prepara uma expansão mais acelerada a partir de 2026.

Expansão e reformas

“Esse nível de investimento tem muito mais a ver com duas coisas: um, nossa capacidade de balanço; e dois, o retorno. O nosso ROIC nos últimos 12 meses bateu 20%. Nesse segmento, tem pouca gente que é capaz de fazer isso”, diz Correa. “Então, independentemente da taxa de juros, vale demais a pena acelerar. E a gente tem capacidade de acelerar.”

Segundo o executivo, a empresa planeja reformar 30 lojas em 2026 — mais que o dobro do volume deste ano —, e também dobrar o ritmo de aberturas. Depois de três inaugurações até agora em 2025, a meta é fechar o ano com oito novas lojas. “Ano que vem queremos abrir o dobro”, afirma.

O BTG Pactual, que reiterou recomendação de compra para as ações após o balanço, destacou que “a C&A aumentou a produtividade das lojas e a lucratividade das operações no trimestre mais recente”. 

Em relatório assinado pelos analistas Luiz Guanais, Yan Cesquim e Pedro Lima, o banco afirma ainda que “os fundamentos da empresa seguem sólidos” e que os sinais encorajadores continuam presentes. “Seguimos vendo os mesmos sinais encorajadores que nos levaram a adotar uma visão mais positiva meses atrás.”