A companhia aérea brasileira Azul fechou acordos com arrendadores de aeronaves, renegociou suas dívidas e levantou centenas de milhões em dinheiro novo no último ano, numa tentativa de reerguer suas finanças debilitadas.

Mas os esforços surtiram pouco efeito para restaurar a confiança do mercado: os títulos de dívida em dólar, emitidos há poucos meses, perderam mais de um terço de seu valor, e as ações da empresa acumulam uma queda de aproximadamente 89% no último ano.

“O que foi feito não foi suficiente, e os investidores se deparam novamente com essas preocupações”, avalia Carolina Chimenti, analista da Moody’s Ratings. “A menos que haja uma solução estrutural e sustentável, seja por meio de uma reorganização extrajudicial ou uma reestruturação verdadeiramente eficaz, a situação permanece indefinida.”

A empresa já iniciou uma nova rodada de conversas com credores, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. Essa movimentação ocorre mesmo após a Azul ter vendido mais ações e obtido novos recursos de credores nas últimas duas semanas para reforçar sua liquidez.

Embora a Azul não tenha grandes pagamentos de seus títulos com vencimento em 2028 no curto prazo – que figuram entre os de pior desempenho em um índice de dívida corporativa da Bloomberg este ano –, a companhia enfrenta uma série de pagamentos mensais de arrendamento que a Moody’s estima em cerca de R$ 5 bilhões (US$ 875 milhões) para cada um dos próximos dois anos.

Condições econômicas difíceis no mercado doméstico, em meio à inflação persistente e taxas de juros elevadas, além de pressões cambiais, podem afetar a posição de caixa da Azul e agravar seus problemas.

Na terça-feira, a Fitch Ratings rebaixou a nota da Azul para CCC-, citando flexibilidade financeira limitada e incapacidade de melhorar a liquidez fora de renegociações de dívida com credores existentes.

Sinal de alerta

Em abril, a companhia aérea levantou R$ 1,6 bilhão por meio de uma oferta de ações que incluiu uma conversão obrigatória de dívida em participação acionária. Credores também forneceram R$ 600 milhões em capital novo para garantir a oferta de ações e fortalecer a liquidez. Contudo, a ideia era de levantar R$ 4,1 bilhões, mas não houve demanda do mercado.

João Daronco, analista da Suno Research, considerou a oferta de ações um “sinal de alerta” e os fundos adicionais captados como uma solução temporária. “A questão estrutural continuará sem uma reestruturação complexa ou uma fusão”, disse ele. “A medida que está sendo tomada é muito focada no curto prazo.”

A solução de longo prazo pode ser uma união com sua maior rival, segundo Daronco.

A Azul e o Abra Group, principal acionista da Gol, concordaram em trabalhar em prol de uma fusão. O acordo, que sucederia anos de turbulência para as companhias aéreas latino-americanas, está sujeito à aprovação regulatória e só poderá avançar após a Gol sair de seu processo de Chapter 11 (o equivalente à recuperação judicial) nos Estados Unidos.

As ações da Gol despencaram na sexta-feira, atingindo uma mínima recorde após a proposta de um aumento de capital de R$ 19,2 bilhões (US$ 3,4 bilhões) em sua mais recente tentativa de sair de seu próprio Chapter 11. As ações da Azul seguiram a tendência, caindo 14% para R$ 1,23 – seu menor valor já registrado.

Ajuda do governo?

Assim como outras companhias aéreas brasileiras, a Azul conta com empréstimos de um aguardado pacote de ajuda financeira do governo para aumentar a liquidez. Esse plano, que está em elaboração há mais de um ano, permitiria à companhia usar recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) para garantir empréstimos do BNDES.

O programa, que precisa da aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN), provavelmente disponibilizaria até R$ 4 bilhões para as companhias aéreas a partir de agosto, segundo fontes. Existem contrapartidas, incluindo garantias de manutenção de empregos e limitação no pagamento de dividendos.

Um dos entraves tem sido as garantias que as empresas podem oferecer – slots aeroportuários (horários de pouso e decolagem) e aeronaves não são considerados elegíveis. Para tentar preencher essa lacuna, um comitê ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) indicou que um fundo normalmente destinado a ajudar exportadores poderá agora ser usado para a compra de combustível de aviação.

A proposta obteve aprovação inicial na noite de quinta-feira (8), mas ainda precisa passar por outros órgãos do governo, deve ajudar as companhias aéreas a obterem melhores condições de crédito para a compra de combustível, segundo um comunicado.

Representantes do Ministério da Fazenda – que faz parte do CMN – e do Mfic não responderam aos pedidos de comentário sobre a ajuda às companhias aéreas.

Mesmo com essa ajuda em desenvolvimento, Chimenti, da Moody’s, afirma que há preocupações com o fluxo de caixa. Ela estima que a empresa terá cerca de R$ 1,6 bilhão disponíveis em dezembro. E embora o financiamento do governo ajudasse a Azul a honrar suas obrigações de dívida, a liquidez é uma preocupação maior, disse ela.

“A empresa precisa tomar iniciativas adicionais para se manter solvente”, concluiu.

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