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Depois de reconhecer uma perda contábil de US$ 144 milhões (cerca de R$ 802 milhões na cotação atual) com ativos da subsidiária Resia, a MRV começa a virar a página da sua operação nos Estados Unidos. O ajuste, conhecido como impairment, é uma reavaliação do valor de bens que não devem gerar o retorno financeiro originalmente previsto — uma medida que deve pesar no resultado do grupo no segundo trimestre, mas contribui para “limpar” o balanço e reduzir incertezas daqui em diante.

“Arrancamos o band-aid. Fizemos um ajuste conservador para não ter que revisitar esse tema depois”, disse ao InvestNews o CFO da MRV&Co, Ricardo Paixão. O saneamento contábil parece ter surtido efeito entre os investidores, com a MRV liderando as altas do Ibovespa nesta sexta-feira (11), em um pregão em que o índice opera em baixa.

Segundo o executivo, o cálculo do impairment levou em consideração as melhores avaliações disponíveis no mercado para os ativos — e não mais o valor de custo registrado na aquisição dos terrenos. A revisão incluiu também consultas a brokers especializados no mercado imobiliário americano e uma análise da atratividade de cada projeto, considerando liquidez, localização e estimativas atualizadas de retorno.

O anúncio desta sexta marca mais um passo na reestruturação da Resia, iniciada em dezembro com a troca do comando da subsidiária e uma mudança de estratégia. O plano da MRV prevê a venda de ativos considerados não prioritários e a concentração da operação em apenas quatro mercados: Miami, Houston, Dallas e Atlanta.

A proposta do novo modelo, reforça Paixão, é o de uma operação asset-light, com projetos fora do balanço e capital compartilhado com sócios, reduzindo o consumo de recursos próprios do grupo.

A expectativa da MRV é levantar até US$ 493 milhões com essas transações até o fim de 2026, sendo US$ 365 milhões destinados à redução da dívida líquida e o restante devolvido a sócios de projetos já realizados nos EUA.

Nesse novo contexto, a companhia também decidiu retirar o guidance que havia sido traçado para a Resia em 2025, que previa US$ 270 milhões em geração de caixa. A meta foi diluída até 2026, em linha com o ritmo de desinvestimentos e a reorganização do portfólio. “Esticamos o cronograma para alinhar as expectativas ao novo ciclo”, afirma o CFO.

Dos 17 terrenos originalmente adquiridos pela Resia nos Estados Unidos, apenas cinco foram mantidos no portfólio. Segundo Paixão, a decisão levou em conta o potencial de retorno de cada ativo, com prioridade para os que oferecem as maiores taxas internas de retorno (TIR) — cujos intervalos, no entanto, não são divulgados pela companhia.

Embora evite falar no fim do “sonho americano” da MRV, o CFO reconhece que o atual momento da Resia é mais voltado à consolidação e geração de valor do que à expansão. A virada de ciclo no mercado imobiliário americano — com juros altos, desaceleração na construção e menor liquidez para projetos residenciais — também pesou na decisão de reduzir o escopo da operação.

“Talvez em algum momento surja uma nova oportunidade de crescimento. Mas, neste momento, nosso foco é executar o plano com eficiência, reduzir a exposição e manter disciplina de capital. Mas crescimento nos EUA não é uma conversa hoje”, conclui Paixão.