“Essa tarifa torna nossa operação nos EUA bastante desafiadora, mas não inviável”, afirma Alceu Albuquerque, diretor de relações com investidores da Grendene. “A Melissa já tem um posicionamento premium. Qualquer aumento de preço torna o produto menos competitivo.”
Hoje, as exportações para os EUA representam 9% da receita com exportações da companhia e cerca de 4% do volume total embarcado. O valor mais alto por par é puxado pela Melissa, que é vendida por meio da operação própria da companhia nos Estados Unidos, sob o guarda-chuva da GGB. A Grendene absorveu todo o negócio da GGB no fim de 2024, depois da saída da 3G Radar como sócios.
“Estamos em compasso de espera. Temos esperança de que o governo consiga avançar nas negociações para reverter ou reduzir esse percentual de 50%”, diz Albuquerque. “Enquanto isso, estamos tomando duas medidas: concedendo descontos nos embarques aqui no Brasil e elevando o preço na ponta nos EUA — mas não no mesmo percentual do tarifaço.”
A estratégia tem como objetivo garantir margens tanto para a distribuidora GGB quanto para os revendedores locais. Mas não resolve completamente a equação.
De acordo com Albuquerque, a companhia está observando de perto a estrutura da operação internacional. “Estamos avaliando se faz sentido manter o canal offline da GGB ou terceirizar para alguém que possa diluir custos e atingir o break even de forma mais acelerada.”
Segundo ele, os canais digitais da GGB, tanto nos Estados Unidos quanto na China, estão mais próximos do ponto de equilíbrio. Já a atuação em redes físicas segue desafiadora. Essa parte da GGB vem machucando o resultado desde a criação. “No segundo trimestre, o prejuízo foi de cerca de R$ 28 milhões.”
Lucro em alta
Apesar do ambiente desafiador, a Grendene entregou um dos resultados mais fortes dos últimos trimestres. O lucro líquido contábil cresceu 244,7% e somou R$ 143,6 milhões. O lucro recorrente subiu 200,6% e chegou a R$ 185,5 milhões.
“Mesmo quando mostramos bons números operacionais, se o lucro vem negativo, o mercado foca no lucro. Dessa vez, conseguimos entregar um lucro muito forte”, diz o CFO. Segundo ele, a melhora foi puxada por três fatores: Selic elevada, saldo médio aplicado maior e um resultado positivo de projetos imobiliários, que adicionaram cerca de R$ 58 milhões ao resultado financeiro do trimestre.
Outro destaque do segundo trimestre foi a estratégia de priorizar produtos com maior valor agregado. Mesmo com aumento modesto de volume (+1,2%), a receita bruta cresceu 25,1% e a receita por par subiu 23,7%.
“Temos focado muito em desenvolver produtos com maior percepção de valor pelo consumidor”, diz Albuquerque. “Esse crescimento está basicamente em Melissa, no segmento infantil e em Ipanema.”
A companhia também tem buscado ampliar o portfólio para enfrentar desafios sazonais. “Estamos desenvolvendo tênis para a Melissa. Isso ajuda a atacar duas questões: a escassez de produtos de inverno e a oportunidade no mercado de sneakers, que está crescendo muito”, afirma.
Ainda assim, o executivo vê um segundo semestre ainda mais incerto. “Não sentimos melhora. Pelo contrário, vemos mais incerteza do que no primeiro trimestre. Há risco de crise política e impacto sobre o câmbio, o que pode pressionar a inflação e o consumo.”