O maior produtor mundial de diamantes, Botsuana, enfrenta uma guerra intensa contra as pedras sintéticas. E pode estar perdendo a batalha. Em 2024, as vendas de suas gemas preciosas despencaram quase pela metade. O país africano estabeleceu uma estratégia para virar o jogo: atrair a atenção da geração Z, mais especificamente de jovens endinheirados nos Estados Unidos.

Os planos incluem conquistar esse público por meio do Instagram e do TikTok. Na semana passada, o governo botsuanês deu um passo ousado nesse plano ao promover um evento de luxo em um restaurante com estrela Michelin no sofisticado bairro de Greenwich Village, em Nova York.

A ideia era convencer influenciadores digitais e consumidores abastados na faixa dos 20 e 30 anos a optarem por diamantes naturais em vez de versões sintéticas, que vêm ganhando mercado.

“Uma de nossas estratégias é realmente fazer frente aos sintéticos”, disse a ministra de Minas de Botsuana, Bogolo Kenewendo, de 37 anos, em entrevista antes do evento, realizado em 12 de março.

A noite foi organizada em parceria com a The Clear Cut, uma joalheria online voltada para a Geração Z. Segundo Kenewendo, a empresa tem sido fundamental para ajudar Botsuana a construir uma narrativa voltada ao público jovem americano, destacando o valor dos diamantes naturais.

Para renovar a economia, o governo tem investido literalmente em reduzir a idade do gabinete. Entre os jovens líderes, por exemplo, está a nova ministra da Juventude e Assuntos de Gênero, Lesego Chombo, de 26 anos, que tem em seu currículo já ter sido Miss Botsuana, em 2022.

Diamantes naturais x sintéticos

Botsuana enfrenta uma concorrência crescente dos diamantes sintéticos, significativamente mais baratos e que vêm derrubando os preços das pedras naturais. O país, que obtém mais de um terço do seu orçamento e a maior parte de suas receitas em moeda estrangeira do setor diamantífero, viu as vendas da joint venture Debswana – formada pela gigante De Beers e o governo – despencarem 46% no ano passado, segundo o banco central do país.

Os diamantes sintéticos também se beneficiam de uma imagem mais “limpa”, já que muitos consumidores associam a mineração de pedras naturais ao financiamento de conflitos armados – como ocorreu em países como Serra Leoa e República Centro-Africana.

Para contornar essa percepção, Botsuana ressalta que é uma democracia estável e que as receitas geradas pelos diamantes, descobertos no país logo após sua independência, em 1966, têm sido revertidas para o benefício da população.

“Os diamantes fazem o bem. Esse é o nosso argumento”, afirmou Kenewendo. “Praticamente todo mundo em Botsuana que passou pelo ensino fundamental até a universidade foi financiado pelo governo, com recursos arrecadados através da venda de diamantes.”

Renovação política e aposta no luxo

Kenewendo faz parte de um novo gabinete que busca revigorar a economia botsuanesa, composta por jovens líderes, incluindo Chombo, a ministra da Juventude de 26 anos. A insatisfação popular com a economia levou a uma surpreendente reviravolta política em outubro, quando o presidente Duma Boko e seu partido, Umbrella for Democratic Change, chegaram ao poder após desbancar a legenda que governava há 58 anos.

Diante da competição acirrada dos diamantes sintéticos, Botsuana está mirando um nicho mais exclusivo: compradores de joias de alto valor. A ministra destacou que as pedras naturais do país podem ser rastreadas desde a extração até o consumidor final por meio da tecnologia blockchain – um diferencial importante para conquistar clientes exigentes.

“Acreditamos que temos um mercado único para diamantes acima de cinco quilates e podemos posicionar a marca Botsuana como sinônimo de luxo e exclusividade”, disse Kenewendo.

Essa estratégia passa por parcerias com varejistas como a The Clear Cut. “Nosso público tem um poder aquisitivo acima da média americana”, afirmou Olivia Landau, CEO e cofundadora da empresa. “O valor médio dos anéis de noivado que vendemos gira entre US$ 25 mil e US$ 30 mil, com pedras de dois e meio a três e meio quilates.”

O evento em Nova York reuniu influenciadores de moda como Katee Bartlett e Serena Kerrigan, entre outros 19 convidados. A expectativa é que, ao conhecerem a história por trás dos diamantes botsuaneses, esses influenciadores ajudem a disseminar a nova narrativa entre seus seguidores nos Estados Unidos.

“Queremos apresentar uma visão que a maioria dos consumidores americanos ainda não ouviu”, explicou Landau. “Para os influenciadores, é uma oportunidade de se educar sobre o tema e compartilhar essa história com seu público.”