O acordo inclui as operações na Guatemala, Nicarágua, Panamá, Honduras, El Salvador e República Dominicana. A Natura seguirá fornecendo produtos para a região e passará a atuar como licenciadora da marca, recebendo royalties.
O valor da transação foi simbólico — US$ 1,00 pela operação — mais US$ 22 milhões referentes a recebíveis que a Avon Guatemala devia à subsidiária da Natura no México, e que serão pagos no fechamento da transação, previsto para 30 de outubro.
Apesar de ser um primeiro passo, a transação foi bem recebida pelos investidores. As ações da Natura (NATU3) subiam mais de 2% por volta de 12h30, refletindo o alívio de ver uma solução para Avon finalmente avançar. A expectativa agora é pela solução para as outras 35 operações que seguem à venda ou aguardando desligamento.
Em agosto, antes da venda da Avon CARD, o InvestNews apurou que a IG4, gestora de Paulo Mattos, ainda teria interesse na Avon International, embora o prazo de exclusividade tenha se encerrado.
Um passo importante, mas ainda pequeno
Para o Bradesco BBI, a venda é positiva em dois pontos. Primeiro, porque mostra que a estratégia de desinvestimentos começou a sair do papel. “De 41 operações a serem descontinuados, a companhia endereçou 6 nesta transação”, escreveram os analistas. Segundo, pelas condições melhores do que se esperava: uma operação deficitária foi avaliada em US$ 22 milhões, trazendo impacto positivo de cerca de 0,05x na dívida líquida pró-forma, já considerando impostos.
Ainda assim, o banco pondera que o movimento é pequeno para resolver de imediato o problema que a Avon International representa para a Natura — operações que, no consolidado, ainda são geradoras de fluxo de caixa negativo. “O mercado e nós mesmos ainda esperamos algum aumento da dívida líquida com a venda completa desses ativos, até R$ 1 bilhão de impacto adicional”, alerta o relatório.
O Santander também vê a notícia como uma forma de melhorar o sentimento em relação à companhia, mas com benefícios financeiros limitados. O banco estima cerca de R$ 60 milhões de economia de caixa para a Natura apenas com a venda da Avon CARD, assumindo que o prejuízo operacional de R$ 15 milhões no primeiro trimestre era representativo do ritmo anualizado da operação. “Ainda que o impacto no EBITDA consolidado seja pequeno frente aos R$ 3,3 bilhões projetados para 2025, o anúncio ajuda a sinalizar que a empresa está avançando na resolução de sua principal frente de reestruturação”, escrevem os analistas.
O que vem a seguir: Avon Rússia no radar
Segundo a XP, a Natura definiu três perímetros de desinvestimento quando reclassificou os ativos como “mantidos para venda”: a própria Avon CARD, a Avon Rússia e a ACL. Como Avon CARD e Avon Rússia são controladas pela ACL, a XP espera que a operação russa seja a próxima na fila de desinvestimentos, deixando a ACL “limpa” de pendências e pronta para uma transação mais estruturada.
Ainda assim, os analistas chamam atenção para a principal dúvida que permanece: a que preço será feita a venda da Avon International. Assim como no acordo atual, cujo valuation foi praticamente simbólico, a XP não espera geração de caixa relevante das próximas transações e até vê a possibilidade de um aporte de capital para a ACL.
Em um cenário pessimista, o comprador poderia precisar injetar até US$ 250 milhões — valor indicado no processo de Chapter 11 para um turnaround completo. Esse montante equivaleria a cerca de 11% do valor de mercado atual da Natura, ou 5% se considerado o caixa de Avon International.
Em agosto, ao divulgar os resultados do segundo trimestre, o CEO João Paulo Ferreira afirmou que concluir as alternativas estratégicas para a Avon International era a “absoluta prioridade” da companhia. “O que a gente pode dizer é que o processo está bastante acelerado, visto o foco e dedicação da companhia”, disse Ferreira na ocasião.
A CFO Silvia Vilas Boas lembrou que a reclassificação dos ativos como “mantidos para venda” refletia o avanço das negociações. A desconsolidação de Avon International no balanço elevou a alavancagem da Natura de 1,4x para 2,18x dívida líquida/EBITDA no trimestre.