Para os membros do conselho executivo da Boeing, pegar uma carona nos jatos corporativos da empresa foi durante muito tempo um dos privilégios do trabalho.
Os 19 líderes seniores contam com cinco jatos executivos Challenger 650 da Bombardier, de propriedade da empresa, e dois jatos 737 personalizados para ajudar a supervisionar a vasta operação da fabricante de aviões norte-americana. A Boeing exige que seu CEO evite voos comerciais por motivos de segurança, mesmo em viagens pessoal.
Por conta do momento financeiro desafiador que vive a empresa, em meados de setembro, o novo CEO, Kelly Ortberg, suspendeu grande parte da frota corporativa em uma ação inicial de redução de custos. Em vez disso, os executivos foram orientados a voar na classe econômica em voos regulares de companhias aéreas.
Naquela época, uma greve havia paralisado a produção comercial da Boeing e a empresa estava precisando urgentemente de dinheiro. As restrições de voo, combinadas com licenças de trabalho e demissões, enviaram uma mensagem de frugalidade enquanto Ortberg trabalhava com banqueiros para levantar US$ 24 bilhões para financiar seu retorno.
“Até certo ponto, acho que ele estava tentando chamar a atenção das pessoas”, disse George Ferguson, analista da Bloomberg Intelligence. “Ele está tentando mostrar parte do sacrifício compartilhado.”
A economia não seria suficiente para uma empresa com uma dívida de US$ 58 bilhões, disse o consultor de aviação Brian Foley, que calcula que a Boeing gasta cerca de US$ 15 milhões por ano para transportar seus executivos. Mas em um momento em que a empresa estava sem dinheiro e os trabalhadores da fábrica estavam amotinados contra o que consideravam salários miseráveis, a medida enviou uma mensagem clara do novo chefe.
A frota executiva da Boeing operou apenas 29 voos em outubro, uma redução de 85% em relação ao ano anterior, de acordo com uma análise da Bloomberg dos dados de voo compilados pela Flightradar24. Esse número é inferior aos 56 registrados em setembro e aos 146 registrados em agosto, quando Ortberg assumiu o cargo de CEO da Boeing com a missão de dar a volta por cima na problemática fabricante de aviões.
Embora a Boeing esteja começando a abrandar sua repressão às viagens, as táticas fornecem um vislumbre das prioridades e do espírito de gestão do novo CEO. Em setembro, a Boeing cortou gastos com tudo, desde publicidade até consultores e serviços de bufê, à medida que a pressão financeira se intensificava devido à greve, que durou sete semanas.
Esse é um tema que Ortberg tem repetido em seu curto mandato.
“Precisamos redefinir as prioridades e criar uma organização mais enxuta e mais focada”, disse ele em uma teleconferência em 23 de outubro.
Ortberg está tomando medidas para reduzir permanentemente os custos da Boeing, eliminando 17 mil empregos que incluem a gerência e elaborando uma lista de negócios não essenciais para potencialmente vender ou fechar.
“O número de funcionários estava claramente inchado, assim como a estrutura de custos”, disse Sheila Kahyaoglu, analista da Jefferies LLC. Ela estima que a Boeing poderia arrecadar até US$ 12 bilhões ao se desfazer de ativos como as empresas de navegação Jeppesen e ForeFlight.
A Boeing, que se recusou a fazer comentários para esta matéria, abandonou sua festa anual no terraço para o Grande Prêmio de Cingapura em setembro, normalmente um evento luxuoso perto da pista de Fórmula 1. Nos últimos anos, a empresa ofereceu um generoso serviço de bufê, bebidas à vontade e ingressos de cortesia para os convidados.
Acabou a festa
A Boeing também retirou seu patrocínio de longa data do Washington International Horse Show em outubro, e não compareceu ao primeiro show aéreo comercial e de defesa da China em novembro. Este mês, a empresa não compareceu à reunião anual das companhias aéreas asiáticas em Brunei.
O decreto de Ortberg reduziu os voos para os principais centros de operações da Boeing em Seattle (fabricação de aviões comerciais); Washington (sede corporativa, braço de defesa); e Dallas (unidade de serviços).
A configuração anterior facilitava o deslocamento dos principais executivos de longe. O ex-CEO Dave Calhoun voava de suas casas em New Hampshire e Carolina do Sul, e sua equipe de liderança sênior estava espalhada em lugares como Connecticut e Toronto.
Os voos caíram para Charleston, na Carolina do Sul, e para a vizinha Savannah, na Geórgia; para White Plains, em Nova York, perto da casa do diretor financeiro Brian West, em Connecticut; e para Toronto, onde está a diretora de tecnologia da informação Susan Doniz.
Calhoun, West e Doniz não quiseram comentar a história, disse um porta-voz da Boeing.
Embora Ortberg, como seus antecessores, tenha que viajar em um jato particular, ele está se mudando para Seattle.
Pelos cálculos de Foley, a empresa paga cerca de US$ 4.480 em custos variáveis totais para cada hora de voo de um Challenger 650, ou cerca de US$ 1,5 milhão por ano por avião. Para cada 737, os custos operacionais por hora são em média de US$ 9.685, ou US$ 3,7 milhões por ano.
As estimativas abrangem custos fixos, como salários da tripulação, seguro e o hangar de 50.000 pés quadrados no Aeroporto Internacional de Chicago Gary, onde os jatos ficam alojados.
Ao todo, a Boeing possui participações em 22 jatos executivos, turboélices e helicópteros que também oferecem suporte a testes de voo e engenharia. O total inclui participações fracionárias em dois Challenger 650s operados pela NetJets Inc., de acordo com o provedor de dados Amstat.
Com Ortberg buscando simplificar, é provável que a Boeing considere eventualmente a possibilidade de se desfazer de algumas dessas aeronaves, disse Foley, e confiar mais em participações fracionárias se os voos executivos forem permanentemente reduzidos.
“Com uma pessoa como Kelly, que escolheu ficar em Seattle, talvez haja menos motivos para ir de costa a costa se o Zoom acabar”, disse ele.
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