A Nvidia e a Advanced Micro Devices (AMD) planejam retomar as vendas de chips de IA na China após obterem garantias de Washington de que tais remessas seriam aprovadas, uma reversão drástica da posição anterior do governo Trump.

Autoridades do governo dos EUA informaram à direção da Nvidia que dariam sinal verde para licenças de exportação para seu acelerador de inteligência artificial H20, informaram os líderes da empresa. A medida pode adicionar bilhões à receita da Nvidia ainda neste ano, restaurando sua capacidade de atender pedidos que havia dado como perdidos devido a restrições governamentais.

A Nvidia projetou o chip H20, menos avançado, para cumprir as restrições comerciais anteriores de Washington à China, que a equipe de Trump reforçou em abril para bloquear as vendas de H20 para o país asiático sem uma autorização dos EUA.

A AMD recebeu garantias semelhantes do Departamento de Comércio dos EUA e planeja retomar as remessas de seus chips MI308 para a China, assim que as licenças de venda forem aprovadas, informou a empresa em um comunicado nesta terça-feira (15).

As ações da AMD subiram 8,5% após a abertura do mercado em Nova York, enquanto as da Nvidia valorizaram 5%.

O CEO da Nvidia Jensen Huang — que se encontrou com o presidente Donald Trump na semana passada e está atualmente em Pequim participando de uma conferência patrocinada pelo governo — apareceu na emissora estatal chinesa CCTV logo após a Nvidia anunciar a decisão, afirmando que a companhia havia obtido aprovação para iniciar as remessas.

O Departamento de Comércio, que supervisiona os controles de exportação de chips e ferramentas usadas em sua fabricação nos EUA, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre se a agência já havia emitido alguma licença H20.

A medida dos EUA ocorre após semanas de descongelamento das relações entre Washington e Pequim, guiado por uma trégua comercial opaca, projetada para que ambos os lados aprovem a exportação de tecnologias cruciais.

Após se encontrar com seu homólogo chinês na semana passada, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que há um “forte desejo de ambos os lados” por uma reunião entre Trump e o presidente Xi Jinping ainda este ano.

Nas últimas semanas, Washington suspendeu uma série de controles de exportação — incluindo sobre softwares de design de chips — impostos antes das negociações comerciais do mês passado em Londres. Isso em troca da China permitir mais vendas de minerais de terras raras necessários para a fabricação de uma gama de produtos de alta tecnologia, algo que os negociadores americanos acreditavam ter alcançado no mês anterior, durante as negociações em Genebra.

Durante e após essas negociações, a equipe de Trump insistiu que os controles sobre os chips H20 da Nvidia não estavam em discussão.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, reconheceu que as restrições aos chips H20 da Nvidia faziam parte das negociações de Londres, apesar de suas próprias afirmações anteriores de que não havia tal contrapartida vinculando semicondutores e terras raras.

“Pode-se dizer que esse foi um chip de negociação que usamos em Genebra e em Londres”, disse Bessent em entrevista à Bloomberg Television. “Tudo fazia parte de um mosaico. Eles tinham coisas que nós queríamos, nós tínhamos coisas que eles queriam.”

Vitória da Nvidia

A reviravolta representa uma grande vitória para Huang, que classificou as restrições ao uso de chips nos EUA como um “fracasso” que impulsionou a ascensão da Huawei Technologies como a principal rival chinesa da Nvidia.

As remessas do H20 também seriam um benefício para empresas como a DeepSeek e a Alibaba que — apesar do progresso da Huawei em semicondutores — buscam hardware da Nvidia para treinar, expandir e operar os serviços de IA que estão desenvolvendo para competir com empresas como a OpenAI.

“A retomada da venda do H20 pela Nvidia para a China é obviamente positiva”, disse Vey-Sern Ling, diretor administrativo da Union Bancaire Privee. “Não apenas para a empresa, mas também para a cadeia de suprimentos de semicondutores de IA, bem como para as plataformas de tecnologia chinesas que estão desenvolvendo capacidades de IA. Este também é um bom desenvolvimento para as relações EUA-China.”

Os EUA restringiram as vendas da Nvidia na China pela primeira vez em 2022, com restrições abrangentes projetadas para impedir que o país asiático tenha acesso a IA avançada que poderia beneficiar as forças armadas chinesas.

A Nvidia projetou novos processadores para o mercado chinês diversas vezes para cumprir essas medidas, que se tornaram um ponto central de tensão entre Washington e Pequim.

Poucos meses após as restrições iniciais, a fabricante de chips lançou o H800, cuja venda para a China foi proibida pelo governo do presidente Joe Biden em 2023. A Nvidia respondeu com o H20, para o qual autoridades de Biden consideraram — mas não chegaram a implementar — restrições à exportação. Depois que Trump avançou com os controles do H20 em abril, a Nvidia projetou outro produto com foco na China, o RTX PRO. A empresa descreveu o chip como “totalmente compatível“, o que significa que ele está abaixo dos limites técnicos que exigiriam a aprovação de Washington para exportação para a segunda maior economia do mundo.

“Deixe-me enfatizar que a China se opõe à politização e à instrumentalização de questões comerciais e tecnológicas”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, em um briefing regular, quando questionado sobre a Nvidia. As restrições à exportação “desestabilizarão as cadeias de suprimentos industriais globais e não atenderão aos interesses de ninguém”.