Azevedo & Travassos Petróleo (ATP)  confirmou nesta segunda-feira (10) a compra de 13 poços de petróleo da Brava Energia, empresa fruto da junção da 3R com a Enauta. A aquisição, realizada  em parceria com a  canadense Petro-Victory Energy, que ainda depende da aprovação da Agência Nacional do Petróleo (ANP),  representa a primeira operação da ATP em um campo maduro – aquele que está em fase avançada de produção. Ao mesmo tempo, a venda dos poços, localizados na Bacia de Potiguar, deixa a Brava mais “leve” para se concentrar no que é hoje seu principal negócio: a exploração de petróleo em águas profundas, o que se chama de offshore.

O negócio vai custar US$ 14 milhões no total para a ATP e a Petro-Victory (sendo US$ 600 mil na assinatura do contrato). E ilustra o que está acontecendo no setor de petróleo neste momento: um movimento das empresas de médio porte, que fazem parte do grupo chamado Junior Oils, de desinvestir de ativos que exigem muito capital para produção. E, do lado das pequenas, um esforço para reforçar seu portfólio e unir forças com outros players para crescer.

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A Brava Energia é uma das principais Junior Oils, petroleiras de menor porte que se formaram nos últimos dez anos, período em que a Petrobras  vendeu boa parte de seus campos maduros em meio ao processo de reestruturação pelo qual a estatal passou.  Nesse segmento, estão também a PetroRio e a PetroRecôncavo.

E à medida que essas Junior crescem e colocam seu foco em projetos mais lucrativos, uma outra infinidade de petroleiras independentes, de porte muito menor, foi surgindo. Foi nesse contexto que a Azevedo & Travassos, que surgiu há 40 anos como fornecedora de infraestrutura para o setor, decidiu partir também para a exploração de petróleo.

“Existem muitas empresas muito pequenas com dificuldade de manter seus ativos, o que representou uma oportunidade para a Azevedo & Travassos”, explica Ivan Carvalho, CEO da ATP. “E alguns independentes estavam chegando a um ponto em que alguns ativos deixaram de fazer sentido”, completa. Esse é o caso da Brava, que já manifestou seu objetivo de se concentrar nos projetos offshore – cuja exploração é mais cara mas tende a ter retornos mais elevados.

Os campos adquiridos pela ATP tem um volume de óleo in place (volume total de óleo originalmente existente em um reservatório) de 125 mil barris. Segundo Carvalho, 13% desse volume já foi retirado pela Petrobras e pela 3R. “Resta um potencial interessante, mas para isso vamos precisar fazer uma melhoria na gestão dos campos, realizar uma seleção dos poços que estavam parados e investir em melhorias de produção e recuperação desses poços”, explica.

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O processo de aprovação da ANP pode levar de seis a oito meses, segundo Carvalho. Até lá, as empresas vão trabalhar na transição da gestão dos poços, da Brava para a ATP. Embora a joint venture com a Petro Victory seja igualitária, ou seja, as duas companhias respondam por 50% das receitas e dos custos, quem vai operar os campos é a Azevedo & Travassos.

Hoje, esses campos produzem entre 200 e 250 barris por dia e a expectativa é de que, no início de 2026, essas melhorias elevem esse número para algo entre 800 e 1000 barris por dia. Esse volume ajuda a ATP a buscar o que se chama de milestone, meta de produção que, no caso da companhia, é de atingir uma produção de 2 mil barris de petróleo por dia.

Atualmente, a ATP produz cerca de 250 barris de petróleo por dia. Ela opera em 18 campos, sendo alguns deles ainda inativos. Segundo Carvalho, a companhia continua interessada em outras aquisições, seja de ativos ou de companhias de pequeno porte pensando em acelerar o crescimento.

Petróleo independente

Outro movimento relevante da companhia nas últimas semanas foi a separação da ATP da Azevedo & Travassos, grupo que opera também no setor de infraestrutura. Essa cisão, que será concretizada na próxima quinta-feira (13) , foi necessária para viabilizar uma outra operação: a fusão do braço de construção da Azevedo & Travassos com a MKS, uma empresa de manutenção industrial controlada pela Reag Investimentos, de João Carlos Mansur, e com a Aviva, uma concessionária de saneamento controlada pela 4i Capital.

Atualmente, Gabriel Freire, chairman da Azevedo & Travassos, tem 51% das ações do grupo e 30% do capital total da Azevedo. O empresário Nelson Tanure tem 5%, e o restante está nas mãos de 22 mil investidores.

Para analistas, essa nova configuração das companhias também dá mais liberdade para a ATP fazer outras aquisições. Ou, quem sabe, parcerias com companhias de maior porte.