Um pequeno grupo de ex-comissárias de bordo da Pan American World Airways se reuniu em frente a uma janela do Terminal 7 do aeroporto JFK, em Nova York, com celulares em mãos e olhos marejados. Quando o avião apareceu, ostentando o icônico logo azul da Pan Am na cauda, houve suspiros e até lágrimas.
Elas estavam prestes a embarcar em um Boeing 757 fretado, promovido como uma “jornada Pan Am por jato privado”. Ao longo de 12 dias, a aeronave partiria de Nova York com destino a Bermudas, depois Lisboa, Marselha, Londres e Shannon (Irlanda), antes de retornar. O avião, com capacidade para 50 passageiros, oferece poltronas reclináveis, sistema de entretenimento, bar liberado e refeições preparadas por chefes, tudo servido por comissários em uniforme vintage da Pan Am. O pacote custa US$ 59.950 por pessoa (em cabine dupla).
Não é a primeira vez que o logotipo da Pan Am reaparece desde a falência da companhia em 1991 — houve uma tentativa modesta em 2006 —, mas é a estreia sob a nova gestão, liderada por Craig Carter, ex-empresário do setor de turismo de luxo, que comprou a marca em 2024 com outros quatro investidores. Além de licenciar produtos como relógios, camisetas e até bebidas alcoólicas, a nova aposta é reviver a experiência de voo com alto padrão nostálgico.
A viagem foi organizada pelas empresas Bartelings e Criterion Travel. Os destinos foram escolhidos com base nas primeiras rotas transatlânticas da Pan Am, em 1939. Os viajantes se hospedaram em hotéis como o Fairmont em Bermudas, o Four Seasons em Lisboa e o Savoy em Londres. A parada final, em Shannon, incluiu uma visita ao museu Foynes Flying Boat, com réplica do lendário hidroavião Yankee Clipper.
Todo o roteiro é pensado para recriar a chamada “era de ouro” da aviação. Os comissários, emprestados da Icelandair, vestem uniformes inspirados nos anos 1960. Fotos com os pilotos em trajes elegantes despertaram atenção dos curiosos. Enquanto isso, passageiros comuns cruzavam o terminal com chinelos e calças de moletom, contrastando com o glamour revivalista.
O 757 modificado conta com 30 assentos espaçosos, mas não há serviço de carne fatiada à la chateaubriand, como na primeira classe da velha Pan Am. Em compensação, há muito champanhe. Nenhum trecho dura mais de sete horas, e os assentos reclinam completamente.
Segundo Carter, os bilhetes se esgotaram sem dificuldade. Muitos passageiros têm relação afetiva com a companhia — como Debbi Fuller, ex-comissária entre 1980 e 1989, cujo marido a incentivou a ir: “Tenho 83 anos. Não posso levar esse dinheiro comigo. E perdi isso na bolsa semana passada mesmo.”
O legado da Pan Am é mantido vivo por ex-funcionários que promovem museus, podcasts e canais no YouTube sobre a história da empresa, que começou com voos de correio de Key West a Havana em 1927 e se tornou um império aéreo global. Wendy Knecht, ex-comissária e membro da fundação do museu, resume: “De todos os trabalhos que já tive, esse foi o mais familiar.”
Mas Carter aposta que a nostalgia da Pan Am vai além do saudosismo dos ex-funcionários. Ele se inspira no sucesso do TWA Hotel, no próprio JFK, e nos trens de luxo na Europa e Ásia, que custam dezenas de milhares de dólares por poucos dias de viagem.
Pan Am agora entra no seleto grupo de operadoras como Four Seasons e Abercrombie & Kent, que oferecem viagens em jatos privados com roteiros sob medida para clientes dispostos a pagar até US$ 198 mil por uma experiência exclusiva.
Uma nova viagem já está programada: em abril de 2026, um tour de 21 dias pelo Pacífico passará por Tóquio, Camboja, Singapura, Austrália, Nova Zelândia e Fiji. O valor parte de US$ 94.495 por pessoa.
Para quem não puder embarcar, Carter planeja expandir a “experiência Pan Am” com um hotel temático em Los Angeles e um jantar-teatro dentro de um avião no estilo anos 1970. A clássica bolsa da Pan Am, no entanto, não será vendida — a não ser nas 14 lojas da marca ainda abertas na Coreia do Sul.
O sonho real, diz Carter, é fazer da Pan Am uma companhia aérea de verdade novamente. Os planos estão em fase inicial, mas já conseguiram o indicativo de chamada aprovado pela autoridade americana: “Clipper”.