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Petrobras crava recordes e sobe mais de 10% em meio à guerra e petróleo

Estatal alcança produção histórica e maior valor de mercado com escalada da tensão no Oriente Médio.

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Em alusão à célebre frase que diz que “em tempos de crise, enquanto uns choram, outros vendem lenço”, pode-se dizer que a Petrobras (PETR3; PETR4) tem seguido à risca o pensamento do fim dos anos 90 do publicitário Nizan Guanaes, que atravessou décadas e impacta profundamente o mundo financeiro no século 21. Afinal, a estatal petrolífera tem quebrado recordes em plena crise dos mercados globais.

Visão aérea de uma plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, a P-52 REUTERS/Bruno Domingos (BRAZIL)

Na quarta-feira (18), a Petrobras atingiu o maior valor de mercado em seus 70 anos de história, alcançando R$ 525 bilhões. A marca supera o pico atingido há cerca de um ano, quando em 21 de outubro de 2022 a empresa valia R$ 520,6 bilhões. O levantamento foi feito pelo consultor Einar Rivero, especialista em dados financeiros.

Segundo ele, o cálculo é feito com base no preço da ação na data informada, multiplicado pela quantidade de ações em circulação no mesmo dia. Rivero lembra que, nos últimos três trimestres, a Petrobras distribuiu R$ 73,8 bilhões em dividendos, o que normalmente reduz o valor de mercado da empresa. 

“O que torna a conquista da Petrobras ainda mais notável é o fato de que, apesar das distribuições em dividendos, o preço das ações preferenciais (PN – PETR4) atingiu seu maior valor histórico, chegando a R$ 38,52, assim como as ações ordinárias (ON – PETR3), com um valor de R$ 41,56”, destaca o especialista.

Sem choro…

Foi graças à alta da Petrobras no pregão que o tombo do Ibovespa na véspera não foi maior. Enquanto PETR3 teve alta de 2,34%, PETR4 avançou 2,26%. A estatal foi beneficiada pela alta ao redor de 2% nos preços do petróleo no mesmo dia, com o barril do tipo Brent, cotado em Londres, indo além da marca de US$ 90. 

Aliás, a recente ascensão da commodity em direção às máximas do ano ajuda a sustentar os ativos correlacionados em alta. “Empresas petrolíferas como a Petrobras estão se beneficiando diretamente da alta do preço do petróleo. Isso acontece porque esse aumento eleva as receitas previstas da empresa, melhorando as expectativas de lucratividade”, explica Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.

“Quando os preços do petróleo aumentam, as empresas que exploram, produzem ou vendem petróleo podem vender seu produto por um preço mais alto. Isso aumenta as receitas e, potencialmente, os lucros, com os custos não aumentando na mesma proporção”

Lucas Almeida, sócio da AVG Capital

Tanto que no acumulado do mês, as ações da Petrobras acumulam valorização de mais de 10%. A companhia, inclusive, vem sendo pressionada pelo repasse de custos aos preços finais dos combustíveis. O próprio presidente da companhia, Jean Paul Prates, não descarta um reajuste na gasolina e no diesel. 

Ao mesmo tempo, o comportamento da ação da companhia também reflete o recorde de produção anunciado na última segunda-feira (16). Ao final do terceiro trimestre deste ano, a Petrobras produziu quase 4 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia, uma alta de 8% ante o trimestre anterior, com a entrada da operação de novas plataformas em campos do pré-sal

Considerando-se apenas o mês de setembro, a produção também foi recorde, o que inclui a operação nas camadas mais profundas. Em reação ao anúncio, analistas do JPMorgan e do Bradesco BBI revisaram para cima as projeções de desempenho financeiro e operacional da Petrobras, inclusive em termos de dividendos. 

…Nem vela

Como pano de fundo de tudo isso está a guerra na Faixa de Gaza declarada por Israel desde o ataque do Hamas no último dia 7. O conflito teve efeito imediato sobre o petróleo, o que elevou as expectativas de o preço ultrapassar a barreira psicológica de US$ 100, ampliando as incertezas em relação aos impactos na inflação sobre as decisões de juros do Federal Reserve e de cortes na taxa Selic

Ataque de Israel a Gaza 11/10/2023 REUTERS/Saleh Salem

Ou seja, a Petrobras e demais empresas brasileiras do setor de petróleo sobem firme com a tensão geopolítica, resume o economista André Perfeito. Em comentários recentes, ele lembra que as ações da estatal registram alta superior a 10% no mês, enquanto o petróleo sobe cerca de 5%, diante da perspectiva de escalada do conflito no Oriente Médio.  

“A estatal brasileira, bem como outras empresas do setor, servem como proteção [hedge] aos ruídos vindos da região e a perspectiva é que ainda podem servir como ‘seguro’ contra uma piora da crise internacional. Afinal, não há, por enquanto, horizonte de pacificação”

André Perfeito, economista

Para ele, a indefinição do cerco militar à Faixa de Gaza tende a manter os ganhos expressivos da Petrobras, reafirmando alocação nas ações. Contudo, Perfeito sugere cautela nesta posição e prevê que parte dos ganhos recentes tendem a ser embolsados. “Afinal, afinal o petróleo só vai ‘explodir’ caso a guerra se espalhe”, ressalta.

O economista comenta a análise de que, por mais que o embate entre Israel e Hamas esteja longe do fim, ainda não há sinais de que outras nações da região irão se envolver no conflito. Ao mesmo tempo, porém, Perfeito rejeita a aposta recente do mercado, de que a guerra será localizada e com uma solução rápida. “Este não deve ser o caso”, completa. 

Na mesma linha, o presidente da Petrobras admitiu que se o conflito se alastrar pelo mundo árabe, envolvendo países produtores de petróleo, pode ocorrer uma “tempestade perfeita”. As declarações foram feitas na quarta (19), após Prates se reunir com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin

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