A empresa encerra, assim, um impasse de anos com órgãos reguladores ambientais sobre o acesso a uma bacia onde haveria grandes quantidades de petróleo bruto.
“A sonda já está no poço e a perfuração está programada para começar imediatamente, com duração estimada de cinco meses”, informou a empresa em seu documento.
As maiores petrolíferas do mundo buscam há uma década perfurar a área. A produção dos campos de petróleo existentes no Brasil deve atingir o pico por volta de 2030. No entanto, ambientalistas têm lutado ferozmente contra a iniciativa, alertando que um vazamento de óleo poderia colocar em risco o ecossistema na foz do Amazonas, ao sul.
O Ibama não respondeu imediatamente a um pedido de entrevista. As ações da Petrobras subiram menos de 1% nesta segunda-feira, revertendo quedas anteriores.
A aprovação para perfurar na Foz do Amazonas ocorre menos de um mês antes do Brasil sediar a conferência climática da ONU, a COP30, ressaltando as prioridades conflitantes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer a economia do país crescer e, ao mesmo tempo, defender o meio ambiente.
“A Margem Equatorial representa o futuro da nossa soberania energética”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em comunicado. “O Brasil não pode abrir mão de conhecer o seu potencial.”
Embora a bacia esteja a 530 quilômetros do rio, ambientalistas alertam que fortes correntes podem rapidamente levar o óleo derramado para o delicado ambiente marinho alimentado pela água doce do Amazonas, colocando em risco o ecossistema e as populações indígenas costeiras que dependem da região para a pesca.
Descoberta da Petrobras
A descoberta feita pela Exxon Mobil mais ao norte, na Guiana, aumentou o interesse das gigantes do petróleo na Foz do Amazonas e na região mais ampla conhecida como Margem Equatorial.
A Petrobras compara sua geologia à da Bacia de Campos, no sudeste, que tornou a empresa uma das principais produtoras offshore no final do século XX.
Mais de 70% da produção brasileira está no pré-sal, mas a Petrobras e outras empresas exploradoras não fizeram descobertas significativas em mais de uma década.
Uma série de campanhas exploratórias fracassadas no pré-sal colocaram em dúvida o futuro a longo prazo da indústria petrolífera brasileira. A produção deve atingir o pico por volta de 2030 e, em seguida, começar a declinar, a menos que a Petrobras descubra mais campos de grande porte.
A CEO da Petrobras Magda Chambriard chegou a alertar sobre a possibilidade de o Brasil se tornar um importador líquido na década de 2030.
“A Petrobras está ficando sem onde perfurar”, disse André Fagundes, que cobre o Brasil para a consultoria de energia Wellingence. “Que outras perspectivas de longo prazo eles têm em vista?”
Em junho, o Brasil leiloou 19 dos 47 blocos oferecidos na Foz do Amazonas, tornando-a a mais competitiva das cinco bacias onde havia área disponível, apesar dos protestos de ativistas ambientais.
Petrobras, Exxon Mobil e Chevron conquistaram direitos de exploração na área, antecipando que o órgão regulador ambiental do país em breve abriria a promissora região petrolífera offshore para perfuração.
A última etapa antes da perfuração do primeiro poço na Foz do Amazonas foi uma simulação de vazamento de óleo para testar a capacidade da Petrobras de lidar com acidentes. Ecossistemas frágeis tornaram a área um local controverso para a exploração de petróleo e despertaram a preocupação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Licenciamentos
O processo de licenciamento tem sido um longo caminho para a Petrobras. Em maio de 2023, o principal órgão ambiental do país impediu a empresa de explorar a área.
A ausência de um estudo de impacto significativo, os riscos à vida selvagem em caso de vazamento de óleo, os impactos às comunidades indígenas e as “inconsistências” nas informações fornecidas pela empresa foram alguns dos problemas, afirmou a empresa na época.
Em 2020, a TotalEnergies e a BP se retiraram de seus blocos exploratórios na Margem Equatorial após não obterem licenças ambientais. A Shell esperava que a Petrobras obtivesse a licença e abrisse caminho para prosseguir com sua própria campanha exploratória na região.
“A Petrobras pretende iniciar a perfuração do primeiro poço em águas profundas na bacia da Foz do Amazonas o mais rápido possível”, disse Chambriard à Bloomberg em setembro, acrescentando que a empresa estima que a perfuração deve levar cerca de quatro meses.
“É importante mencionar que a perfuração de um poço em uma nova fronteira pode não resultar em poço seco. Esperamos encontrar petróleo na primeira tentativa, mas se não conseguirmos, isso não significa que a área não tenha potencial”, disse ela.
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